Marcela Forjaz, Ginecologista / Obstetra
Entrou no 3.º trimestre! Ainda nem tem bem consciência de quão rápido este último trimestre passará, mas a verdade é que, a partir de agora, passo a passo, chegará à fase em que o que quer mesmo é terminar este estado de graça que, semana a semana, irá tornar-se mais pesado. Em breve terá a sua criança nos braços!
O primeiro mês do último trimestre ainda é, em regra, pacífico. Entre as 26 e as 30 semanas ainda tem a sua mobilidade mais ou menos conservada, ainda encontra uma posição mais ou menos confortável para dormir, para estar no trabalho... ainda desfruta das refeições sem se sentir muito enfartada. É um mês em que não tem exames para fazer e tudo é prazeroso. O bebé mexe já com bastante vigor e deleita-se sentindo os seus movimentos de resposta à sua atividade, ao que come, ao que ouve. Nesta fase, a grávida já se adaptou aos desconfortos abdominais e às alterações do trânsito intestinal (que até já estarão corrigidas).
Chegando às 30 semanas é hora de recordar o que lhe pediram para fazer na sua última consulta:
- Está na altura de tomar a vacina da tosse convulsa. Esta vacina confere uma imunidade limitada no tempo para a infeção, pelo que se preconizou que a grávida se revacinasse para que esta produza de novo anticorpos e os passe, via placenta, para o seu bebé. Estes anticorpos permanecerão no bebé nos primeiros 6 meses de vida, pelo que este estará protegido entre o nascimento e a altura em que fará a sua própria vacina. A vacina, na grávida, pode ser feita durante todo o terceiro trimestre, mas idealmente será administrada entre as 30 e as 32 semanas.
- Se for uma grávida com o sangue do grupo Rh negativo, terá de fazer uma injeção (imunoglobulina anti-D) pelas 28 semanas e poderá ser-lhe proposto que faça logo a vacina para a tosse convulsa, para que fique tudo tratado. Esta injeção terá como objetivo proteger o bebé de uma resposta do seu organismo contra o sangue do bebé, no caso de ele ter um grupo de sangue positivo. Se for negativo, a injeção não lhe causará dano e, na impossibilidade de saber o grupo de sangue dele, toma-se esta medida preventiva.
- Por volta das 32 semanas, todas as grávidas fazem a última ecografia. Nesta pretende-se avaliar o bem-estar do bebé, a sua posição (se está de cabeça para baixo ou sentado) e fazer uma estimativa do seu peso para o parto. Nessa altura, o bebé poderá já estar na posição final e tem um aspeto de recém-nascido: tem mímica facial e reage aos estímulos. Se algo corresse menos bem nesta altura, os riscos já não seriam trágicos. Geralmente, por esta idade, o peso do bebé rondará os quase 1900g e, a partir desta altura, aumentará cerca de 200g por semana, em média, se o seu desenvolvimento sempre tiver sido dentro de uma mesma curva de evolução. Incrível como, entre as 26 e as 32 semanas, praticamente terá duplicado o seu peso!
- No último trimestre, também é comum surgirem os edemas dos membros inferiores e a grávida é incentivada a manter a sua atividade de forma a estimular a circulação, embora, quando em repouso, deva ter alguns cuidados: manter as pernas elevadas e terminar o seu duche com água fria nas pernas, por exemplo.
- A mobilidade começa a ficar mais condicionada e a grávida sente-se mais limitada. As noites tornam-se pouco repousantes na tentativa constante de encontrar uma posição confortável. A azia, a falta de ar e as palpitações também podem ocorrer. É bom que se recorde de os enumerar na sua consulta... porque quase tudo se resolve!
- Entre as 34 e as 36 semanas chega o momento de fazer as últimas análises. A novidade, neste trimestre, é a colheita de exsudado vaginal e anorectal (para detetar o Estreptococos
. Este é um exame que se faz a todas as grávidas no último trimestre, já que se percebeu que até 30% podiam ser portadoras desta bactéria. O Estreptococos B é inofensivo para a grávida, simplesmente colonizando o trato genital, mas no momento em que este se torna o caminho de saída do bebé, o microrganismo entrará em contacto com a face do bebé, podendo causar infeção. As consequências poderão ir desde uma simples conjuntivite até à meningite ou sépsis. Assim, o simples gesto de efetuar este exame permitirá antecipar as complicações e, sendo detetado este agente, será feito antibiótico endovenoso durante o trabalho de parto, tornando o “caminho livre” para a passagem do bebé. Uma grávida colonizada terá um risco de 1/200 de que o seu bebé seja infetado se não fizer a profilaxia com o antibiótico, descendo esse risco para 1/4000 caso esteja diagnosticada e medicada. É importante que se compreenda, no entanto, que o antibiótico só deve ser feito no trabalho de parto e que não é útil instituir antes; se fosse feito antes, haveria uma forte probabilidade de se recolonizar, pelo que poderia dar uma falsa tranquilidade relativamente à segurança do bebé.
Feitos estes últimos exames, é só esperar e vigiar o bem-estar do bebé.
- Já perto da reta final começará a fazer, semanalmente, um cardiotocograma (CTG) – exame que avalia a atividade uterina e a resposta do bebé a essa atividade – e, desde que este esteja bem, a gravidez prosseguirá até que a Natureza decida, se tiver sido essa a opção. Obviamente, poder-se-á decidir induzir o parto em determinada altura, seja por motivos obstétricos ou por outras razões, desde que haja acordo entre a equipa de saúde e o casal. Contudo, estando tudo bem com o bebé, poder-se-á esperar tranquilamente!
- Para além do CTG, a grávida deverá ter em atenção os movimentos do bebé. Não é necessário que cumpra testes formais como a contagem de 10 movimentos e o registo da hora a que ocorre o 10º, mas já conhece o padrão de comportamento do seu filho e, no caso de notar alterações (como a diminuição dos movimentos), deverá recorrer ao seu médico assistente ou ao serviço de urgência para que seja avaliado o bem-estar do bebé.
- Nesta fase final, acertam-se ainda os pormenores da reorganização familiar para a chegada do bebé e verifica-se se tudo está a postos para a ida para a maternidade.
- Durante o terceiro trimestre, o casal deve preparar a mala da grávida, validando com a maternidade o que será necessário levar, assim como a do bebé. Deverá também pensar como gostaria de vivenciar o parto, preparando um plano de parto e discutindo-o com os profissionais de saúde. Quando possível, também deverá fazer uma visita à maternidade (mesmo que virtual!) para se familiarizar com o local./li>
E assim, passo a passo, chega-se ao dia do parto com segurança e tranquilidade, todos prontos para acolher o novo elemento da família!
Artigo publicado originalmente em julho de 2020, na edição #03 da Revista De Mãe para Mãe.
