Miguel Raimundo, Médico Ginecologista e Obstetra com especialização em Medicina da Reprodução
A infertilidade é uma realidade para quase 300 mil casais portugueses, número que tem vindo a subir por múltiplos fatores: desde o adiamento da maternidade, a doenças crónicas ou fatores ambientais.
Os tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) são indicados para casais e mulheres que não conseguem engravidar espontaneamente.
Quais são as opções?
Tradicionalmente os tratamentos de PMA são divididos em 2 grupos:
- Coito programado e inseminação artificial ou intrauterina;
- Fertilização in Vitro (FIV), Microinjeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI), diagnóstico gestacional pré-implantatório ou PGT (Preimplantation Genetic Testing) e doação de óvulos e esperma.
Coito programado
É utilizado para induzir a maturação e a ovulação dos folículos, para que o óvulo seja libertado e possa ser fecundado naturalmente no corpo, por meio de relações sexuais. O protocolo mais utilizado para estimular o crescimento folicular é com citrato de clomifeno. Se este método não for bem-sucedido, então a utilização de gonadotropinas como as hormonas folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) podem ser indicadas.
Inseminação artificial
Consiste na colocação de uma amostra de sémen no interior do útero, a fim de aumentar o potencial dos espermatozoides e as possibilidades de fertilização. É aconselhada em casos de vaginismo e disfunção ovulatória ligeira, em que as trompas e o endométrio estão normais e o sémen tem qualidade, mas também é usada quando existem problemas de ejaculação.
O que é a FIV?
A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assistida que envolve a fertilização do oócito em condições de cultura in vitro após a obtenção e preparação de gâmetas e a transferência subsequente dos embriões para a cavidade uterina ou, ocasionalmente, para as trompas de Falópio.
As principais fases da FIV são: estimulação ovariana, coleta de ovócitos por punção folicular, fertilização, desenvolvimento embrionário numa incubadora e transferência embrionária.
Quando é utilizada
A FIV foi desenvolvida inicialmente para o tratamento da infertilidade tubária grave, mas agora é usada também noutras situações: fator tubário; endometriose; falha na inseminação artificial; infertilidade devido ao fator masculino; infertilidade inexplicada; alta resposta num ciclo de inseminação artificial; e preservação da fertilidade.
Provou ser uma excelente técnica para a preservação de oócitos em termos de taxas de sobrevivência e resultados. Assim, deve ser considerada uma solução para insuficiência ovariana e baixa reserva ovariana e para a preservação da fertilidade em pacientes com cancro ou outras condições médicas graves, sendo também um meio de criar bancos de ovócitos.
O que é a ICSI?
Microinjeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) é uma técnica FIV com protocolo semelhante, que se recomenda nos casos de infertilidade masculina. Este procedimento consiste na extração de um espermatozoide a partir de uma amostra de sémen ou através de uma biopsia testicular para selecionar os espermatozoides mais adequados.
E o PGT? O que é?
O diagnóstico gestacional pré-implantatório é utilizado para detetar uma alteração genética específica num embrião, antes de este ser transferido para o útero.
- PGT-A, A de aneuploidia: Realizado para ajudar a oferecer um tratamento FIV mais efetivo, permite identificar o embrião saudável com possibilidade ampliada de implantação e risco reduzido de aborto e doenças cromossômicas, que estão principalmente relacionadas com a idade materna avançada e alterações no cariótipo do casal. Também é indicado em casos de abortos de repetição sem outra causa.
- PGT-M, M de monogênica: Tem o objetivo de identificar aqueles que foram afetados por uma alteração genética específica, herdada dos pais. É um estudo indicado para famílias onde existem casos de doenças monogênicas hereditárias.
- PGT-SR: Tem o objetivo de pesquisar rearranjos cromossômicos estruturais, como as translocações.
As técnicas de PMA com recurso à doação de óvulos ou esperma têm indicações específicas. Oferecem oportunidade aos casais que não podem ter filhos com os seus próprios gâmetas, permitem a seleção de doadores, avaliam a compatibilidade genética e imunológica e aumentam a taxa de gravidez.
Preservação de fertilidade feminina
Oferece a possibilidade de adiar a maternidade a todas as mulheres que o desejam ou que têm uma doença oncólógica. Consiste num ciclo de estimulação ovárico semelhante a um protocolo FIV onde são criopreservados óvulos para futura fertilização e desenvolvimento embrionário.
A inseminação post-mortem e a gestação de substituição foram aprovadas em 2020 e serão, num futuro breve, opções para casais que necessitem.
Inseminação post-mortem
Só é lícita a transferência post mortem de embrião para permitir a realização de um projeto parental claramente estabelecido por escrito antes do falecimento do pai, decorrido que seja o prazo considerado ajustado à adequada ponderação da decisão.
Não é lícito à mulher ser inseminada com sémen do falecido, mesmo que este tenha consentido. O sémen que, com fundado receio de futura esterilidade, seja recolhido para fins de inseminação do cônjuge ou da mulher com quem viva em união de facto, é destruído se aquele vier a falecer durante o período estabelecido para a conservação do sémen.
Gestação de substituição
É um acordo em que uma mulher se dispõe a suportar uma gravidez por conta de outrem e a entregar a criança após o parto, renunciando aos poderes e deveres da maternidade.
Artigo publicado originalmente em janeiro de 2021, na edição #05 da Revista De Mãe para Mãe.