Deixo aqui o relato do meu parto para que futuras grávidas não passem pelo mesmo. Eu era daquelas pessoas que ouvia falar de violência obstétrica e planos de partos e achava um exagero. Até passar por isso…
Ao chegar ao 5º mês de gestação procurei um especialista para acompanhar a minha gravidez no sector privado. Após recomendação de uma conhecida e ler os excelentes feedbacks on-line decidi-me pelo Dr. Cláudio e comecei a ser seguida na sua clínica, Invicta Saúde. Um Dr. sem dúvida muito simpático. Fez-me logo sentir à vontade com os diminutivos e explicações que me pareciam fazer todo o sentido. A minha gravidez sempre foi saudável e estava tudo a correr bastante bem. Indiquei, de início, que estaria aberta a agendarmos uma cesariana eletiva (consideramos as 39 semanas) pois estava bastante receosa com a possibilidade de a bebé entrar em sofrimento durante o parto. Algo que para mim era um NÃO ABSOLUTO era a indução através de medicamentos. Deixei isso bem claro.
Em consulta chegamos à conclusão que todas as condições estariam propicias a parto vaginal e essa vontade foi crescendo dentro de mim, até ao ponto de ser o meu objetivo final. A partir das 35 semanas as consultas passaram a ser na CUF Porto, local onde o Dr. Claúdio realiza partos. Tudo ok. No dia 16 de maio de 2022 após o exame de toque (supostamente de rotina) fiquei a sangrar imenso. O Dr. indicou-me que teria feito uma maldade e que nunca mais me iria magoar como naquele dia… Nessa data comecei com contrações fortes, indo mesmo às urgências hospitalares do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia por volta das 23h00. Lá indicaram-me que provavelmente teria sido efetuado o descolamento de membranas. Tendo eu ainda 37+1 semanas pediram para evitar esforços de modo a adiarmos a entrada de trabalho de parto. Senti-me um pouco enganada, mas mesmo assim, continuei a confiar no meu médico.
No dia 23 de maio de 2022 o Dr. Cláudio contactou-me por volta das 22h00 a perguntar se estaria tudo bem. Estranhei, pois nunca tinha recebido nenhuma chamada do mesmo. A chamada tinha como finalidade confirmar a minha presença no dia seguinte, onde estaria com 38+1 semanas.
No dia 24 de maio de 2022 apresentei-me na CUF Porto para consulta de rotina. Quando estava a realizar o CTG o Dr. Cláudio apareceu com um comprimido para colocar debaixo da língua. Voltei a estranhar e questionei o que seria, pois não queria tomar o comprimido da indução. O mesmo disse que era apenas para relaxar as paredes do útero. Mesmo assim continuei reticente. Tendo em conta a situação, o DR. baixou-me a máscara e colocou o comprimido na minha boca… Fiquei desconfortável, ao ponto de começar a estranhar tudo o que se estaria a passar. Entrei na sala de consultas e o Dr. questionou o porquê de estar mais sensibilizada. Indiquei que não gosto de medicação e que não sabia o que me tinha sido colocado na boca. A resposta imediata foi que estaria assim por causa das hormonas. Logo aí a atitude do Dr. Cláudio começou a mudar. Fizemos a ecografia obstétrica semanal, onde estava tudo bem. Posteriormente o Dr. referiu que já tinha um quarto à minha espera, para que com toda “a calma e serenidade” ir buscar as malas e dirigir-me ao mesmo. Eu e o meu namorado ficamos em pânico pois não estávamos a contar que fosse naquele dia. Fomos buscar o que tínhamos no carro (apenas a mala da sala de partos) e fizemos o que o Dr. indicou. Pensamos que teria entrado naturalmente em trabalho de parto.
Passado pouco tempo a Drª Ana (anestesista) apareceu para me colocar o cateter da epidural. Até aí tudo bem. A dor das contrações era controlável e não precisei de injetar o conteúdo. Após colocação do cateter a Drª apresentou-me dois documentos para assinar. Mal olhei para eles, pois quando comecei a ler, a mesma, em tom de brincadeira, indicou que teria de assinar rápido ou teria de me retirar o cateter… Consegui apenas ler os títulos. Um associado à epidural e outro que mencionava a palavra indução. Mais uma vez confiei e assinei mas fiquei a pensar naquele papel. Ou seja, assinei sem ter sequer a oportunidade de ler os documentos com calma.
Após esse momento exigi à enfermeira de serviço que me indicasse qual o comprimido que me tinha sido dado poucas horas antes. A mesma mencionou que teria sido o Misoprostol. Indicou também que no dia anterior teriam sido canceladas duas cesarianas agendadas para aquele mesmo dia pelo motivo das grávidas estarem infetadas com o COVID-19 (entende-se agora a estranha chamada do Dr.). Fiquei revoltada e questionei quais seriam as minhas opções (naquele momento só queria sair daquele quarto). A informação recebida foi clara. Estava em trabalho de parto e caso quisesse abandonar a CUF Porto teria de assinar um termo de responsabilidade e ainda pagar o serviço (sendo que nem tinha seguro). Estranhamente, passados minutos trouxe-me um papel para assinar. O papel seria com a indicação de que teria tomado o Misoprostol (supostamente para justificar a requisição na farmácia). RECUSEI ASSINAR. FOI SEM O MEU CONSENTIMENTO E NEM SEQUER FOI-ME DADA INFORMAÇÃO POSTERIOMENTE À TOMA. A enfermeira voltou a insistir. EU VOLTEI A RECUSAR. Entretanto abordou essa questão ao Dr. Cláudio, onde o mesmo indicou que assinava por mim… Referi ao Dr. que não estava confortável com toda a situação, recebendo mais uma vez respostas genéricas e evasivas.
Devido ao evoluir da situação o Dr. Cláudio indicou que teria de me dar a epidural pois o que me queria fazer para acelerar o trabalho de parto seria muito doloroso. Lá consenti. Questionou se podia proceder ao rebentamento das águas. Disse que não. Procedeu então ao rompimento da membrana do colo do útero para aumentar a dilatação.
Passadas horas foi-me indicado que a bebé estaria numa posição bastante subida, pelo que teria de romper manualmente as águas para que o trabalho de parto pudesse continuar. Contra o que queria, consenti. Após cerca de 12 horas de trabalho de parto o Dr. Cláudio voltou a dirigir-se ao meu quarto com a informação que estaria tudo igual. Ou seja, contrações fortes com 7/8 dedos de dilatação. Questionou o que queria fazer. Que tinha uma equipa pronta para me fazer cesariana... Mostrei vontade em continuar a tentar parto vaginal e perguntei qual a sua opinião médica. O mesmo referiu friamente que podíamos continuar, mas que provavelmente iriamos chegar ao ponto em que a bebé iria entrar em sofrimento e teríamos de avançar para cesariana de urgência que era algo que eu tinha referido anteriormente que não queria… Tendo em conta a hora (por volta das 22h30) e a vontade do Dr. consenti. Fiquei de rastos com toda a situação. Senti-me enganada e num esquema de cesarianas no privado.
Nem passados 5 minutos entrou uma equipa pronta a levar-me para o bloco operatório e, diga-se desde já de passagem, com bastante pressa. Fui a chorar e a tremer compulsivamente. Seguiu-se uma experiência horrível. Um bloco com espelho no teto onde dava para ver tudo o que se estava a passar na minha barriga, luzes acesas, sem música, sem compaixão, sem perguntarem se estava bem, sem me acalmarem. O tópico da conversa: processos de doentes e o que iriam fazer no dia a seguir… Chegaram mesmo a aplicar-me a manobra Kristeller que me provocou dores excruciantes. Berrei, o meu namorado berrou. Pedi para pararem e nada. Mal a bebé saiu cortaram o cordão umbilical. Não esperaram 1 minuto nem sequer deram oportunidade ao pai de o fazer. Levaram-na, vestiram-na, fizeram o que quiseram e só depois ma trouxeram por escassos momentos. UM PARTO NADA HUMANIZADO, DESUMANO E FRIO.
Nunca, em nenhum momento, me perguntaram se queria ser algaliada, se queria a porrada de medicamentos que me injetaram, se estava confortável… E estamos a falar de um hospital privado e de cerca de 3500,00€! Nem num público passaria por uma experiência tão traumatizante.
Após o parto o Dr. Cláudio visitou-me apenas uma vez (no dia seguinte), sem nunca mais sequer ter questionado o meu estado ou evolução do pós-parto. A alta hospitalar foi assinada por outro médico.
Agora questiono, o deslocamento de membranas já tinha sido efetuado, o rolhão mucoso já me tinha saído. Estava com 38+1 semanas de uma gravidez saudável e tranquila. O que leva um médico a decidir por mim se quero induzir o parto sem explicação, sem consentimento, sem humanidade? Aliás isso não é contraindicado? O dinheiro fala mais alto do que a saúde mental e bem-estar dos doentes?
No rescaldo deste parto senti-me violada. Guardei para mim esta informação até ler que outras mulheres passaram e sentem o mesmo. Chorei dias consecutivos. Estragou sem dúvida a minha experiência como grávida e recém-mãe. Um momento que deveria ser único e lindo, foi apenas doloroso física e emocionalmente. Se soubesse o que sei hoje teria perguntado mais, recusado mais, exigido mais.