Olá a todas,
Durante a minha gravidez fui sempre passando por aqui e esclareci imensas dúvidas. Na recta final da gravidez andei sempre à procura de relatos de parto. Especialmente os positivos.
Devo começar por dizer que engravidei imediatamente após deixar a pílula, nem sequer tive menstruação, e tenho endometriose e adenomiose, diagnosticadas há 10 anos (unico tratamento pílula contínua) - por isso, acho que logo aqui começamos a desafiar as probabilidades.
A minha gravidez foi relativamente tranquila, tive 2 perdas de sangue, uma às 7 e outra às 14 semanas, ambas, coincidência ou não, após situações de forte stress no trabalho pelo que a minha médica de família, a quem fico eternamente grata, me colocou imediatamente de baixa.
Durante a gravidez engordei 23kg, tinha fome a toda a hora, e a recta final não é mesmo pêra doce. Falei sobre isso em vários tópicos.
No dia 16 de Junho, já três dias após as 40 semanas, era domingo e nada fazia prever que o Tomás quisesse nascer. Não tive uma única contração de preparação, os CTGs que fazia anteriormente nunca deram sinal de contrações, e naquele dia estive sempre bem disposta. Até chegarem as 14:30.
Tive a minha primeira contração a esta hora e começaram de imediato com um intervalo mais ou menos consistente de 5 em 5 minutos. Eram como dores menstruais, não eram insuportáveis.
Pensei que estava cheia de tempo pela frente, deixei-me estar mais uns minutos e às 15:00 ao levantar-me rebentaram-me as águas. Ainda achei por bem tomar um banhinho para descontrair e dei entrada no hospital às 15:40.
Por pura coincidência, o médico que me acompanhou durante toda a gravidez, o Dr Jayson Meyer, estava de serviço, e só ouvir isso nasceu-me uma alma nova.
Primeiro toque - a enfermeira diz-me que tenho 3 cm de dilatacão.
Levaram-me para a sala de dilatação, SEMPRE super atenciosas. Ajudaram-me a vestir, colocaram-me o CTG, baixaram a luz e disseram-me que poderiam colocar musica (eu não quis). Também me permitiram estar na posição que eu quisesse. Disseram-me que respirasse calmamente, que tivesse sempre em mente que precisava que o meu corpo reagisse para ajudar o meu bebé a nascer, e que aproveitasse a pausa entre contrações para descansar.
Foi exactamente o que fiz. Por algum motivo lembrei-me de coisas que li como "descontrair o queixo, descontrair as mãos", inspirar pelo nariz e expirar pela boca, encarei cada contração como menos uma que me separava de conhecer o meu bebé, e fui sempre mantendo em mente que o meu corpo tinha de abrir para ajudar o meu bebé a passar. Confesso que fiquei surpresa com a minha própria resiliência. Tive um apoio fenomenal ao meu lado - o meu namorado. Fez-me rir vezes e vezes sem conta, contou anedotas, cantou, (claramente não era ele a ser invadido por contrações descontroladas) mas sobretudo foi o meu porto de abrigo.
16:30 - chega o meu médico - toque - 5 dedos de dilatação. Temos o anestesista presente e vamos chamá-lo já!
17:00 - Novo toque. 6 dedos de dilatação. Foi a primeira vez que vi o meu médico branco e aflito, e vejo-o sair a correr da sala e a dizer "Se o anestesista não vem imediatamente ela vai ter o bebé sem anestesia". Perguntei à enfermeira se era normal tanta contração com tão pouco intervalo, porque sempre me tinham dito que o parto demorava muito. Lembro-me de ela sorrir e dizer que até aqui não me tinham dado absolutamente nada para acelerar o parto, que era só o meu corpo a fazer tudo sozinho. E que bem que estava a fazer!
Até aqui não entrei em pânico mas as minhas contrações estavam entre os 2 e os 3 minutos de intervalo e a sensação que eu tinha era de que ia rebentar algo entre a minha bexiga e o meu intestino. Deixou de ser uma cólica menstrual e era uma sensação que queimava.
17:30 - O anestesista que está de serviço está numa cirurgia de urgência a uma criança. Confesso que nesta fase estou a começar a desesperar por ajuda. Começo a ter muita vontade de ir à casa de banho... e a enfermeira diz-me "Mas sente vontade de fazer força?" e mais um toque - 8cm de dilatação. "O que sente é o seu bebé a querer nascer..."
18:30 - Dilatação completa, colo apagado. "Vamos lá fazer força..."
Antes disto, e continuando o anestesista na cirurgia, deram-me algo que iria deixar-me sonolenta e poderia atenuar a dor. Na verdade não o fez. Deixou-me zonza e muito mal disposta e a dor eu sentia-a na mesma. As contrações deixaram de ter intervalo e desesperei. Comecei a chorar e sei que agarrei a bata de uma enfermeira e lhe disse "ajude-me por favor", e ela coitada, ainda me disse "Oh filha eu estou a tentar tudo o que posso". Toda a equipa tentou por tudo ajudar-me a não sentir tanta dor, foi o meu primeiro filho, e apesar de ter sido tudo muito rápido, a dor a certo momento tornou-se mesmo insuportável.
Mas quando nos dizem faça força, é tudo o que queremos. Queremos conhecer o nosso bebé, e sabemos que aquela é a forma de acabar com a dor. Portanto vamos lá.
Faço força a primeira vez - e a partir daqui está tudo nublado na minha cabeça.
Ouvi a enfermeira alertar o médico. Lembro-me de ouvir o médico dizer "Corram, vamos já para o bloco."
Tiraram-me da sala, lembro-me de passar os corredores a alta velocidade e ouvir os gritos "é uma urgência". E perdi o meu namorado de vista...
O coração do Tomás desacelerou para os 60bpm e não recuperou. Lembro-me de ver o médico já pronto para me abrir e de ainda dizer "Ninguém me anestesiou!" - acho que quebrou ali o ambiente de medo que se criou e acabaram todos por sorrir.
O Tomás nasceu às 19:00, com 3,330kg e com duas laçadas de cordão umbilical à volta do pescoço.
Lembro-me de uma enfermeira me dizer "você teria tido o parto perfeito". Eu, hoje, e apesar de me emocionar só de pensar em tudo o que aconteceu, e no que perdi (não ouvi o primeiro choro, não pude fazer contacto pele a pele na primeira hora, não amamentei logo...) mas foi o parto perfeito sim. O Tomás nasceu vivo, saudável e isso devemos ao médico fantástico que não hesitou um minuto que fosse em salvar-nos aos dois.
O pobre do meu namorado que ficou fora do bloco aterrorizado (especialmente porque ouviu um comentário de uma enfermeira que disse "está muito mau lá dentro"), teve oportunidade de estar logo com o nosso bebé e esteve sempre com ele. Tiveram ainda em conta que eu queria amamentar e deram o primeiro leite com recurso a copo.
De facto ouvi sempre que os partos demoram em média 12h, especialmente os primeiros, e durante o internamento vi muitas mulheres passarem por partos extremamente longos. O meu parto durou 4 horas desde o inicio ao expulsivo, por isso não vale a pena planear, cada corpo é um corpo.
A recuperação da cesariana, bom as primeiras horas não são fáceis. Os primeiros dois dias também não, mas não interferiu em nada com a minha capacidade de cuidar do Tomás. Esteve sempre comigo e eu fiz questão de cuidar sempre eu dele. Hoje, 3 semanas depois, faço a minha vida perfeitamente normal.
Se puder ajudar em alguma questão disponham