Queridas amigas,
Antes de mais o nosso obrigada, por todo o carinho e apoio que nos deram neste momento de tão grande felicidade e com tanta complicação.
Um obrigada muito especial à Mafaldinha que foi e é uma madrinha 10 **********s.
Neste momento já estou preparada para vos relatar o meu parto, não consegui vir ao forúm mais cedo, pois além de ainda estar em recuperação, ainda não criei uma rotina com o meu Tiago.
Na segunda-feira, 8 de Setembro, fui à minha aula de preparação para o parto das 19h às 20h, no fim da aula pedi à enfermeira que fizesse o toque para ver se o meu colo já estava mais molinho, pois estava a cumprir à risca as indicações de ir passear para a praia, o buscopan compósito, os vapores de canela e também comia muita coisa com canela. Ela fez o toque e disse que o meu colo além de já estar molinho tinha praticamente 2 dedos de dilatação. Disse-nos que na aula de 4ª feira, se eu chegasse lá, levasse toalhas que ela acelerava o parto. Fomos para casa, jantámos e depois do jantar comecei a sentir-me um pouco estranha, não tinha dores, apenas um leve mau estar, talvez um pressentimento, fomos para o sofá. Era 00h30m o Pedro levantou-se para ir dormir, eu levantei-me de seguida e sinto um liquido quente soltar-se, molhei as cuecas e as calças. Fui a correr para a casa-de-banho e quando lá chego dá-me a primeira grande contracção. Digo primeira grande porque estas não eram nada comparadas com as que já tinha tido, junto com esta primeira contracção deu-me uma imensa vontade de fazer cocó, só me apetecia fazer força, muita força. Ainda não tinha saído da casa-de-banho e já estava na 2ª contracção. Não entrei em pânico, tinha tudo preparado para este dia, estava preparada, no entanto, vesti o pijama e fui-me deitar. O Pedro estava a stressar um pouco, queria que eu fosse logo para o Hospital porque as contracções eram de 5 em 5 minutos. Eu pedi para esperar mais um pouco, mas ainda não tinha apagado a luz e já lá vinha outra contracção. Liguei para a enfermeira a perguntar a opinião dela, ela disse-me para ir imediatamente para o Hospital. Acham que fui? enganam-se ainda fui tomar banho primeiro, não queria ir assim sem tomar banho. As contracções aí já estavam a ficar um pouco insuportáveis, já me vesti à pressa e lá fomos para o Hospital, parecendo que não daqui de Albufeira até Faro são 50km. O Pedro ía o mais depressa que podia, mas eu só conseguia estar de perna aberta com o banco para baixo e as contracções eram de 2 em 2 minutos e lá vinha a vontade de puxar. Ele ainda me dizia para beber o chá de canela, mas eu já ía com medo que ele nascesse pelo caminho, disse-lhe que só bebia quando chegasse ao Hospital. (claro que não houve tempo nem para chá nem para pastilhas de canela). Mesmo assim nunca perdi a calma e ainda enviei uma mensagem à madrinha Mafalda para ela saber que tinha chegado a hora. Finalmente chegamos ao Hospital, saímos do carro e dirigimo-nos às urgências de Obstetrícia. Estavam fechadas! Bem aí confesso-vos que entrei um pouco em desespero. Tocámos à campainha, mas fecham às 22h, tínhamos de entrar pelas urgências normais. Eu já nem conseguia voltar a entrar no carro e estávamos precisamente no lado oposto do Hospital. Vi que o Pedro estava a stressar muito, lá me acalmei e assim que a contracção passou lá entrei no carro e fomos dar a volta para as urgências. Chegámos ao Hospital eram 01h50m. Assim que entrei mandaram-me logo subir e fui imediatamente encaminhada para as urgências de obstetrícia. Entrei e foi-me logo feito o toque, tinha 4 dedos de dilatação, a médica disse-me que ia ficar internada e se quisesse levar epidural tinha de decidir imediatamente porque senão já não dava. Pensei pouco tempo, claro que quero, as dores já eram insuportáveis. Disse-me que tinham de fazer uns exames e que a seguir passaria para a sala de parto. Aí já eu estava mesmo com muitas dores, a médica, muito simpática, ía fazendo-me perguntas, às quais eu só conseguia responder depois de passar a contracção e de vez em quando ía fugindo para a casa de banho, para vomitar ou fazer cocó, mas a enfermeira ía me buscar a dizer que era o bebé a querer nascer. Finalmente lá vesti a minha camisa de dormir e fui para a sala de parto, pedi que deixassem entrar o Pedro, mas disseram-me que só depois da anestesista dar a epidural. Deixaram-me na sala de parto, sozinha e foram para outra sala, estava outra rapariga em trabalho de parto na sala ao lado. Ela gritava muito e aquilo incomodava-me, eu estava cheia de dores, mas não me apetecia gritar, apetecia-me era fazer força. Entrei na sala de parto eram 02h35m. Passado pouco tempo a vontade de puxar já era incontrolável e as contracções já não tinham espaço entre elas, eu bem tentava chamar a enfermeira e já me imaginava a ter o Tiago sozinha e nem o Pedro estava ao pé. Lá consegui fazer-me ouvir e veio a enfermeira perguntar o que eu queria. Disse-lhe que estava com imensa vontade de fazer muita força, ela fez o toque e disse-me que já tinha a dilatação completa, nem ela queria acreditar, como em tão pouco tempo tinha entrado verdadeiramente em trabalho de parto, disse-me que já não dava para levar epidural e chamou as colegas para me virem ajudar, eu só pedia para chamar o Pedro, porque estava a ver que o Tiago nascia sem o pai no quarto. Lá chamaram o Pedro à pressa e assim que ele chegou e começou outra contracção mandaram-me fazer muita força, eu fiz toda a força que tinha e a que não tinha, mas as pernas escorregavam-me, lá tiveram a ver se apertavam melhor aquelas pecinhas onde colocamos as pernas e assim que veio outra contracção eu mesmo sem conseguir apoiar as pernas fechei os olhos, fiz muita força, o Pedro ajudou a empurrar o bebé, tal como aprendemos no curso, fazendo pressão na barriga e só vos digo que nem dei por ele sair, quando abri os olhos o Tiago já estava em cima de mim, com os olhos bem abertos. Esta parte é indescritível, nem tenho palavras para vos expressar o que senti naquele momento, é uma alegria tão grande que nem nos cabe no coração, a minha vida mudou a partir daquele momento. O Pedro cortou o cordão umbilical, o que também foi um momento único e o Tiago esteve sempre quietinho e de olhos bem abertos a olhar para nós. Estiveram a limpá-lo, vesti-lo e veio junto connosco para a sala de recobro. Esteve duas horas connosco na sala de recobro, caladinho de olhos bem abertos a olhar para nós. São momentos únicos que ficaram gravados para sempre na nossa memória. Uma das fotos que está aqui em baixo, é tirada precisamente na sala de recobro.
Passado as 2 horas vieram duas das 3 enfermeiras que nos fizeram o parto ver como estava o meu útero e aí devem se ter apercebido que algo não estava bem, mas eu não me apercebi de nada, eu não tirava os olhos do meu tesouro. Fizeram bastante pressão na minha barriga e doía bastante, mas eu pensei que tudo aquilo era normal. Levaram-me para o quarto e aí tive de me despedir do Pedro. Fui para o quarto deviam ser perto das 06h da manhã, estive a escrever uma mensagem para enviar para todos os nossos amigos e familiares e enviei. Não tinha sono, nem me apetecia descansar, só me apetecia ficar a olhar para o meu bebé. As enfermeiras disseram-me para não me levantar e quando o Tiago chorasse para tocar à campainha. Comecei a sentir que estava a deitar muito sangue, pensei que era normal, mas a cama estava a ficar com muito sangue e eu estava a sentir-me incomodada. Toquei à campainha e pedi à auxiliar se me podia trocar as roupas da cama e o resguardo porque me estava a sentir inconfortável no meio do sangue e ainda aproveitei para perguntar se podia tomar banho. Ela levantou o lençol e em pouco tempo tinha uma equipa de médicos e enfermeiros ao pé de mim. Fizeram imensa pressão na minha barriga e essas dores foram maiores do que as dores para ter o Tiago. Hoje sei que o útero estava muito subido e que não tinha contraído, tentava contrair mas descontraía e a força que estavam a fazer era para o tentar descer, mas na altura pensei que era um procedimento normal, eu só queria era contemplar o meu bebé e ainda brincava com os médicos e enfermeiros, só vos digo que deixei ali grandes amigos. Não poderia ter sido melhor tratada em nenhum outro hospital do mundo, todo o pessoal do Hospital foi fantástico. Disseram-me que não podia comer nada, ainda refilei um bocadinho, pois tinham me dado um lanche na sala de recobro e eu na altura disse que não tinha fome, mas levei comigo para o quarto, elas disseram que eu tinha de comer para poder dar mama e agora que eu queria comer, não podia comer nada! Mas lá me conformei. Levei a manhã nisto, vinham faziam pressão na barriga e iam embora, acalmava a saída de sangue, mas passado pouco tempo, parecia uma torneira aberta lá tocava à campainha. Entretanto passou a hora de almoço, não pude comer, nem a fruta sequer e chegou a hora das visitas. O Pedro mal tinha acabado de chegar e eu ainda nem tinha conversado quase nada com ele, vem a equipa toda outra vez pedem ao Pedro para sair e passam-me para uma outra cama e levam-me dali, disseram-me que tinha de fazer uma ecografia. No caminho parece que se fez um click na minha cabeça e comecei a juntar tudo e perguntei a uma das enfermeiras o porquê de não poder comer, ela disse-me que era porque podia ter de ir para o bloco operatório a qualquer momento, o mundo parece que desabou, comecei a imaginar que afinal era mesmo grave o que se estava a passar e que eu ía morrer. Comecei a chorar, não conseguia controlar, só pensava no Tiago, ainda tinha passado tão pouco tempo com ele e já o ia deixar de ver. Só de vos contar isto as lágrimas caem-me, sempre que me lembro disto fico assim. Fizeram a ecografia e o médico ainda ficou pior, se eu já estava suficientemente assustada, ainda mais fiquei. Só o ouvi dizer para um colega que tinha o útero cheio de coágulos e que se calhar não eram só coágulos. Eu perguntei a ele o que seria mais, ele não me disse, mas eu comecei a pensar um pouco e perguntei-lhe se seriam restos de placenta e ele disse que sim, que poderia ser isso. Voltei novamente para a cama, estive com o Pedro e os pais dele ali no quarto, sempre sob vigilância dos enfermeiros, que de vez em quando os mandava sair para me observar e voltar a fazer pressão. Eu sentia-me bem, nem sono tinha, não me sentia cansada, não percebia porque me estava a acontecer aquilo, o parto tinha corrido tão bem, melhor até do que alguma vez tinha imaginado. Ainda não tinha acabado a visita, veio um médico ter comigo a dizer que tinham de levar o Tiago porque eu não estava em condições de tratar dele e que eu precisava de descansar. Ìa passar a noite no berçário e iriam trazê-lo só quando ele quisesse mamar. Deu-me um sufoco muito grande, já me estavam a separar do meu bebé, mas tive de aceitar, claro que não descansei na mesma, preocupada com ele e cheia de saudades, chorei tanto que me doía até a alma. Nessa noite entrou uma das enfermeiras que estava a tratar de mim e que também tem um bebé chamado Tiago mas com 10 meses e disse-me que já não me aguentava ver naquele sofrimento e que tinha de fazer alguma coisa, fechou as cortinas, colocou uma luva e meteu a mão dela cá dentro e nem vos conto as coisas que ela tirou daqui! Acho que me salvou a vida, a partir daí embora tivesse momentos em que o útero descontraía, já não eram tão intensos. Eram 03h00 quando me trouxeram o Tiago para mamar, vinha com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Mamou com tanta vontade, que nem queria parar para não ter de se separar de mim. Eu também refilei bastante porque não queria que o voltassem a levar. Ele passou a noite a chorar, sentia a minha falta coitadinho. Eram 07h00 toquei à campainha para o trazerem porque estava à muito tempo sem mamar, mas disseram-me que só tinha adormecido à pouco tempo, tinha de o deixar dormir. Eram 08h00 aparece-me lá o Otorrino para fazer uns testes, foi mesmo à medida, pedi que o fosse buscar e ele foi. Foi tão bom voltar a tê-lo nos meus braços, prometi-lhe que já ninguém o levava dali. Acabei por não descansar na mesma, pois não dormi nada nessa noite, passei a noite toda angustiada a pensar no Tiago. Não tinha colegas de quarto, penso que foi de propósito devido à situação em que estava.
Nessa manhã já pude comer e as hemorrogias eram muito menores. Toquei à campainha e pedi à enfermeira se podia ir tomar banho, ainda tinha vestida a mesma camisa que tinha no parto, ela disse-me que não, porque eu ainda continuava ligada ao cateter com soro e não me podia ainda levantar. Elas é que cuidaram sempre do Tiago, davam-lhe banho, mudavam a fralda, enfim foram sempre incansáveis connosco. Nessa tarde duas dessas enfermeiras vieram ter comigo e levantaram-me pela primeira vez, fui à casa-de-banho amparada nelas, foi a primeira vez que fui à casa-de-banho desde que o Tiago nasceu e foi a primeira vez que vi com os meus olhos as coisas que saiam de dentro de mim, é horrível de descrever, pareciam fígados. Eu sentia-me bem mas elas trouxeram-me de volta para a cama porque disseram que eu estava a enrolar a língua. Passei o resto do dia a descansar. No dia seguinte já me sentia muito melhor, voltaram a levantar-me e já pude finalmente tomar banho, vieram colher sangue para um hemograma porque tinha perdido muito sangue. Eu tinha consciência de que não estava bem. O meu corpo tinha uma cor amarelo torrado, não se via uma única veia. A minha cara também estava com um péssimo aspecto, branca e cheia de olheiras. Eu não via nenhuma cor no corpo que não fosse o amarelo. Eram 16h30 quando veio o resultado do hemograma, o médico veio ter comigo, ‘bem disposto’ como sempre (ele não era má pessoa, tinha uma forma estranha de falar connosco, talvez para não me assustar, não sei, ao principio não gostei muito dele, mas depois apercebi-me que aquilo que eu achava ser antipatia era a forma dele brincar), disse-me que tinha duas alternativas ou me enviava para casa e eu nunca mais recuperava ou levava uma transfusão de dois saquinhos de sangue. Disse-me isto ao ouvido, eu estava no quarto sozinha com ele e os meus sogros. Pedi imediatamente aos meus sogros para chamar o Pedro, fiquei em pânico, a minha sogra saiu atrás do médico a perguntar o que ele me tinha dito, ele disse-lhe que eu estava fraquinha, mas que me ia dar dois bolinhos para eu ficar boa. Ela entrou mais descansada, pois não percebeu o que o médico quis dizer. Desceram e subiu o Pedro, aí não aguentei mais e fartei-me de chorar, não sabia ao certo o que ia acontecer e também não sabia os valores do hemograma. O Pedro pediu que me acalmasse e eu sei que ele estava mais esgotado que eu, acho que ele está com o principio de uma depressão e é o que me tem dado mais força para vencer todos estes obstáculos, não posso deixa-lo ir abaixo, agora tenho duas pessoas que amo muito e que precisam muito de mim para cuidar. Veio uma enfermeira colocar novamente o cateter para o soro e mais tarde para a transfusão, mas estava difícil achar uma veia, fiquei cheia de hematomas nos braços e mãos porque ao tentar achar a veia estas rebentavam. Chamei novamente o médico e com calma lá lhe pedi que me explicasse o que estava a acontecer e o que iria se seguir, a minha maior preocupação era o Tiago não poder ficar ao pé de mim ou não poder mamar. Ele acalmou-me e disse-me que ele ficaria sempre comigo e podia mamar, em principio levaria a transfusão e as melhoras seriam imediatas, em caso de algo correr mal, também não havia grande risco, porque se o meu organismo rejeitasse o sangue eu teria alguns sintomas imediatos e seria feita uma limpeza ou teria de fazer outra terapia. O Pedro pode ficar ao pé de mim até às 20h30m, depois teve de ir embora, porque não permitem visitas depois dessa hora. O facto dele ainda poder ficar até essa hora comigo ajudou-me muito e depois fiquei com o meu bebé. A transfusão acabou ainda não era meia-noite e não custou nada, ao principio estava muito receosa e sempre atenta aos sinais de rejeição, mas depois à medida que as horas passavam até me fui esquecendo.
Passei um resto de noite calma, só com soro para limpar. No dia seguinte de manhã até me sentia com mais energia, pedi à enfermeira para me ajudar a dar banho ao Tiago e para fazer o teste do pezinho no Hospital para não ter de ir ao Centro de Saúde. Quando fui tomar banho já tinha mais cor no corpo. Há hora de almoço o médico veio ter comigo e deu-me alta, na altura perguntei-lhe se não era melhor fazer um novo hemograma e uma ecografia, mas ele disse-me que se o fizesse não me davam alta, porque depois de uma transfusão os valores da hemoglobina ainda demoram a subir e como estava ainda a perder coágulos de sangue o meu útero ainda não estava completamente limpo. Eu nem insisti, porque estava desejosa de vir para casa e fiquei muito feliz por ter alta. Vim para casa, muito feliz e à parte do grande ardor que sentia na zona dos pontos, eu sentia-me muito bem. No sábado ainda não conseguia sentar-me por causa desse ardor e no domingo piorou bastante, fui ao centro de saúde de Albufeira pois já não estava a aguentar aquela dor e sentia-me infeliz por ainda não dar de mamar ao Tiago sentada. Eu tentava me sentar, com uma bóia, mas mesmo assim era muito difícil. No centro de saúde a médica verificou que entre dois pontos tinha um grande abcesso infectado e era daí que escorria o liquido que eu sentia, tiveram de cortar aqueles dois pontos e o abcesso, limpar e depois desinfectar, receitaram-me uma pomada com antibiótico para a infecção. Doeu-me bastante o acto de cortar os pontos e o abcesso, são dores horríveis mesmo, mas depois senti um alivio tão grande que já nem me doía estar sentada. A médica proibiu-me de me sentar até estar completamente sarado pois como fiquei sem aqueles dois pontos fiquei com um buraco aberto naquela zona. O que é certo é que passado dois dias eu já estava muito melhor, já praticamente não sentia os pontos e aquele buraco estava a sarar. Na segunda-feira fui visitar a enfermeira do curso de preparação para o parto, para ela ver os pontos e ela não ficou preocupada com os pontos disse-me que estavam bem, ficou foi preocupada com os coágulos, ela esteve a examinar-me e disse-me que não era normal ainda estar com tantos restos cá dentro. Cheguei a casa liguei ao meu médico marquei uma consulta, para sexta-feira, para poder fazer uma ecografia para ficar mais descansada.
Na quinta-feira comecei pela primeira vez a sentar-me e a dar mama ao Tiago sentada, foi uma sensação muito boa e já praticamente não me doía nada. Na sexta lá fui ao meu médico, ía muito descansada, nada me levava a imaginar o que iria suceder depois. Assim que ele fez a ecografia ficou bastante preocupado, mandou-me mudar logo de marquesa e tentou ele próprio tirar todos os restos que conseguia. Disse-me que ainda tinha o colo aberto, bastantes coágulos, restos de placenta e uma infecção já muito avançada, pois há 10 dias que os restos de placenta estavam lá dentro. Saiu tanta porcaria cá de dentro que ainda me arrepio só de me lembrar e doeu imenso. Voltámos a fazer outra ecografia, desta vez o colo já tinha fechado porque ele conseguiu tirar todos os restos que estavam a obstruir o colo do útero, mas os restos de placenta permaneciam lá dentro. Ele ligou de imediato para o Hospital, falou com o obstetra de serviço e enviou-me para lá para retirar tudo o mais rápido possível. Confesso-vos que aí fiquei um pouco assustada, ainda para mais tinha ido ao obstetra com os meus sogros, porque o Pedro teve de ir trabalhar, eles entraram em pânico e tive de ser eu sempre a tranquiliza-los. Liguei para o Pedro contei-lhe o que se estava a passar e pedi-lhe que trouxesse as nossas malas pois eu não fazia ideia de quanto tempo iríamos ficar no Hospital. Chegámos ao Hospital e pela primeira vez em 9 meses vi aquela parte de obstetrícia completamente cheia de urgências, é engraçado que uma delas foi parar ao meu quarto de madrugada já com o bebé nos braços. Tive de esperar imenso tempo e enquanto esperava ia bebendo água, o meu médico tinha me dito para não comer nada, mas ninguém me disse que não podia beber. Eram 18h30 quando finalmente entrei, mostrei-lhe a ecografia, o médico já sabia o que se estava a passar, mas mesmo assim, ele próprio fez outra ecografia. Explicou-me que iria de imediato para o bloco operatório, perguntou-me se não tinha comido nada, disse que não e depois perguntou se tinha bebido, eu respondi que sim, a última vez tinha sido uns minutos antes de ali entrar. Ele explicou-me que eu iria ser sujeita a uma curetagem para limpar todos os restos de placenta que ficaram no útero e que teria de levar anestesia geral, mas como bebi água teria de esperar 6horas, o mais certo seria só ir para o bloco operatório no dia seguinte de manhã, no entanto teria de ficar internada até lá. A minha única grande preocupação era sempre o Tiago, claro, eu não queria que ele ficasse longe de mim. Não sei como é que eles ultrapassaram as burocracias, mas o que é certo é que o meu filho ficou sempre comigo. Ficámos internados na mesma zona onde tínhamos ficado uma semana antes e como até já conhecia o pessoal foi mais fácil encarar este problema. Como estava em horário de visitas o Pedro pode ficar comigo até às 20h30m. Puseram-me a soro, fizeram-me um hemograma, que deu 9 e lá fiquei eu mais uma vez de férias naquele hospital. Era perto da 00h00 vieram buscar-me para ir para o bloco operatório, é um local frio, nunca tinha estado em nenhum, o Tiago ficou sozinho no quarto, quer dizer eu tinha uma colega de quarto, não ficou completamente só, estava a dormir e a enfermeira disse-me que depois o levavam para o berçário. A equipa que me operou era muito simpática e acho que fiquei em boas mãos. Como foi anestesia geral lembro-me de muito pouca coisa, o tempo parece que passou a correr e quando dei por mim já estava de volta para o quarto. O Tiago tinha ficado lá o tempo todo da curetagem, quando cheguei ao quarto estava a chorar, mas a minha colega de quarto disse-me que estava assim há pouco tempo. Eu sentia-me bem, apenas com fome, mas não podia comer nem beber nada. Eram cerca das 01h30m da manhã, liguei ao Pedro para lhe dizer que afinal já tinha feito a curetagem e que estava tudo bem e depois pedi a uma enfermeira para ir ter comigo ao quarto assim que eu pudesse comer ou beber, porque precisava mesmo de água. Vieram ter comigo por volta das 04h da manhã, bebi água e comi umas bolachas Maria que me souberam tão bem! Aproveitaram para me tirar sangue novamente para novo hemograma e lá rebentaram mais umas quantas veias, achar uma veia no meu corpo, neste momento não é tarefa fácil. O médico tinha-me explicado que uma curetagem, se não houver problemas maiores é de rápida recuperação e regra geral as pessoas vão para casa passado cerca de 4horas, no meu caso iria demorar um pouco mais porque tinha de fazer os hemogramas e uma ecografia, mas mesmo assim subentendi que me dariam alta no sábado. A minha mãe vinha no sábado para conhecer finalmente o neto e eu estava a ficar muito triste por terem de me ir ver ao Hospital, mas sempre com esperança de sair. Era quase 12h quando chegou o médico, o hemograma tinha dado 8,8, ele disse que o valor até não estava mau atendendo às circunstâncias mas disse que não me dava alta, era melhor ficar mais um dia e também ainda tinha de fazer a eco. Fiquei tão triste… não estava nada a apetecer-me ficar mais um dia, voltei a insistir com o médico, ele disse que ia falar com a colega que o ia substituir à tarde e se ao final da tarde eu me sentisse bem e se na eco estivesse tudo bem ele a colega dele podia dar-me alta. Levei a tarde toda a insistir com as enfermeiras para chamarem essa médica, eu sentia-me muito bem e descansar também podia em casa. Eu nunca tive dores nenhumas, mas também desde que fizeram a curetagem estava a levar antibiótico e analgésico líquido através do cateter do soro. Mas mesmo quando fui para casa, a única coisa que sentia eram leves picadas. Ao fim do dia lá veio a Dra já fartinha das enfermeiras a irem chamar porque havia uma paciente que queria ir para casa.
Fui fazer a eco, estava tudo bem, reforçou-me as doses de ferro, receitou-me um antibiótico e deu-me alta. Fiquei tão feliz, podia finalmente ir para casa e desta vez acho que para não voltar mais ali. Agora sinto-me muito bem, finalmente já não tenho dores nenhumas, já dou de mamar sentada, tenho um filho maravilhoso que não me dá muito trabalho e estou neste momento a adaptar-me à nova vida a três. Os meus sogros estiveram na nossa casa até agora e foi uma ajuda preciosa.
Tenho de vos contar um segredo, comecei a escrever este testamento no dia 18 de Setembro, um dia antes da minha ida ao médico, mas como o tempo é pouco não consegui logo acabar de vos escrever o meu relato, entretanto tive de ser submetida à curetagem e tudo o resto que já vos relatei, o que quero dizer com isto é que embora eu tenha começado a escrever antes de ter de voltar para o Hospital, não alterei uma virgula no que já tinha escrito acerca dos meus sentimentos para com todo o pessoal do Hospital de Faro, porque na realidade continuo a querer acreditar que fui muito bem tratada e que o que me aconteceu foi um ‘azar do destino’. Quando eu voltei para lá, até lhes fui perguntar se tinham gostado assim tanto de mim que me obrigaram a voltar.
O meu maridinho entretanto também adoeceu, teve uma amigdalite, esteve esta semana em baixo, mas graças a Deus ele hoje está melhor e já vamos poder a partir de hoje, começar a usufruir na plenitude deste novo estatuto de papás. Ainda não me consegui adaptar muito bem a esta nova vida a três, o Tiago estes últimos 5 dias também tem andado com cólicas, não tem dormido a noite toda, então passo as noites no sofá a dar-lhe uns confortos e miminhos e também a fazer-lhe umas massagens. Hoje também me parece bem melhor, já fez um cocó bem grande e agora está a dormir. Aproveitei para vir finalmente acabar de vos escrever e colocar-me a par de todas as novidades, pois tenho pensado muito em vós, principalmente naquelas que estavam mais ou menos do mesmo tempo que eu.
Um beijinho
Ana