Quando o adotante é adotado | De Mãe para Mãe

Quando o adotante é adotado

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6 mensagens
Desde 12 Mar 2019

Olá meninas,
Tenho lido vários tópicos neste grupo, por desde sempre pensar em adotar, independentemente de termos filhos biológicos ou não, e leio todas as dúvidas dos futuros papás por adoção e fico sempre a pensar se saberão o que pensa uma criança adotada, se também eles, tal como eu, foram adotados, e nunca encontrei o testemunho de ninguém, então decidi partilhar a minha história, apesar de termos estado em família de acolhimento, e só depois adoção, pelos mesmo pais.
Eu tinha 2 anos e a minha irmã 4, os meus pais tinham ideia do que tínhamos passado, mas alguns detalhes (alguns mais graves) foram ocultados, principalmente algumas coisas que a minha irmã tinha vivenciado e que influenciaram a sua infância. Eu com 2 anos, nada me lembro do que vivi, antes de estar em família de acolhimento. Sempre fomos muito diferentes, mesmo fisicamente (somos filhas de pais biológicos diferentes, só a mãe é que é a mesma), a minha irmã sempre foi mais complicada (fugia de casa sempre que podia, entre outras coisas), eu sempre fui mais certinha, mas não fiz nem metade das asneiras que queria.
Sempre tive na mente, a sorte que tinha de ter sido adotada, que não podia fazer asneira senão podiam devolver-me, da sorte que os filhos biológicos tinham de puder fazer asneiras que não iam ser devolvidos, nunca.
Na escola, quando dizia que era adotada, as pessoas diziam logo que era mentira, como é que eu adotada era tão normal, os adotados são todos tão complicados, fazem asneiras, fogem de casa, dão mais trabalho que os filhos biológicos. E fui crescendo assim, com amor, mas sempre em dívida, sempre a ponderar o que fazia, sem pedir nada, porque se nos estão a dar um teto já é ótimo.
Este é o meu caso, nem todos os adotados pensarão assim, nem todos se sentiram em divida, mas este é o meu caso, e sempre quis adotar, talvez por isto, para puder dar amor a uma criança, mas com a certeza que esta poderá fazer as asneiras que quiser, que estarei cá para ela, porque sendo de sangue ou não, nunca lhe faltará amor, compreensão e dedicação, nunca ouvirá um "não és meu filho" à primeira asneira que faça, ou que os avós só têm um neto, porque é o único biológico.
Eu e o marido já decidimos que se este tratamento falhar, vamos dar um ano a nós mesmos, e seguir para a adoção, conscientes de todos estes fatores, porque um filho biológico também poderá dar trabalho e virar toxicodependente no futuro, ou ir preso, e não é por isso que o vamos amar menos.

MisaL -
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Desde 17 Abr 2019

Infelizmente é mesmo verdade que há crianças adotadas devolvidas e também há os filhos biológicos que são abandonados. Ninguém imagina como é difícil que a família biológica aceite as crianças que estão em instituições para passarem o Natal. Às vezes nem a 48hs chega e não os querem receber. Onde não há amor pelo outro...tudo pode acontecer.
Que seja feliz com os seus filhos, com a sua família tenha ela ADN comum ou não.

anacatp -
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Desde 31 Out 2011

Bravo!!!! Olha tive pais mas foram literalmente uma bosta e tive uma infância de porcaria e muita vez perguntei se era adoptada visto só ter recebido maldade 🤔 Quem me dera ter tido alguém assim na minha vida !

Mag_M -
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Desde 13 Jul 2018

Marta, obrigada pela tua história. Para quem, como eu, aguarda uma criança - que será absolutamente tratada igual ao meu filho, com todo o amor e espaço possíveis - foi importante ler.
Um abraço grande ♥️ e muita sorte!

DianaES -
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Desde 08 Out 2013

Gostei imenso de ler o testemunho, perspetivas nova para mim.
Tenho uma curiosidade, esse medo de ser devolvida ou a coisa de se sentir em dívida, era algo intrinsecamente seu, ou era fomentado (mesmo que sem a mínima intenção) pela família que a adotou?

Desde 12 Mar 2019

DianaES escreveu:
Gostei imenso de ler o testemunho, perspetivas nova para mim.
Tenho uma curiosidade, esse medo de ser devolvida ou a coisa de se sentir em dívida, era algo intrinsecamente seu, ou era fomentado (mesmo que sem a mínima intenção) pela família que a adotou?

Era um medo mesmo meu, porque houve uma fase que foi noticiado isso mesmo.. Pais que devolveram as crianças por a segurança social ter cortado um dos apoios. Fiquei logo com medo de ser um desses casos.