Olá.
É a primeira vez que escrevo aqui, mas como este fórum foi a minha companhia nas últimas semanas, achei por bem partilhar a minha experiência - sempre é mais uma que pode ajudar outras mulheres que estejam a passar pelo mesmo, perdidas no meio da confusão e das dúvidas.
Tenho 32 anos, e engravidei naturalmente em Maio de 2019. Detectei a gravidez muito cedo, o teste da farmácia tinha uma risca muito ténue, cor de rosa, mas que foi suficiente para nós pôr em êxtase. 3dias depois marquei consulta com a minha GO, que prontamente me fez eco vaginal e pediu b-hcg, para avaliação. A eco mostrava realmente um saco gestacional que parecia estar colocado no útero, mas era tudo ainda muito cedo. Mandou-nos voltar dali a uma semana e repetir a b-hcg dentro de 48h. Os valores da b-hcg foram 70 e 48h depois 94, o que dava a entender que estaria de 1-2 semanas.
Andei a semana com bastantes dores no baixo ventre, imenso sono e com o peito super inchado - sintomas de grávida portanto. Até aqui, tudo normal. Nesse fim de semana tive um sangramento, pequeninos raios de sangue ao limpar-me, e fui a correr para o hospital São Francisco Xavier - onde me fizeram nova eco e nova b-hcg BN (289) e sai de lá com o diagnóstico de que supostamente estava tudo bem, para não me preocupar, há mulheres que sangram um pouco e têm dores, por isso não haveria há partida sinais de alarme.
Fui à consulta com a GO como estava planeado. Nova eco, o saco gestacional continuava lá, maior, mas ainda sem quaisquer sinais de ter embrião. "Ainda é cedo, não nos vamos para já stressar, venha cá para a semana". Nova b-hcg para fazer antes da próxima consulta.
Voltei, com b-hcg com 4467, com os mesmos sintomas (dores, sono, e uns fios de sangue mas coisa muito intermitente). Novamente, com muita calma, me foi dito que o saco estava maior, mas que não se via nada lá dentro. Pelas dimensões já estaria com cerca de 6semanas... E a médica começou a suspeitar que a gravidez fosse não evolutiva. No entanto mandou-nos ir à nossa vida (íamos de férias 2 semanas), descontrair, e voltar daqui a 2 semanas. Nessa consulta teríamos, segundo ela, de já ver qualquer coisa dentro do saco, uma vesícula vitelina, um embrião, algo. Tudo bem.
Lá fomos de férias 2 semanas, e num dos dias eu tenho um febrão de noite (constipei-me e faço febre com muita facilidade) e de manhã noto um pingo (literalmente) de sangue vermelho vivo no papel, ao limpar-me. Ali, vermelhinho, fresco. Pânico. Fui a correr para o hospital mais próximo, onde fui atendida de imediato por uma médica muito querida que me diz que, para as dimensões do meu saco (já muito próximo dos 25mm) e consequentemente pelo meu tempo gestacional, como o saco se encontrava vazio, a opinião dela é que a gravidez é não evolutiva. Chorei um bocado, mas acho que como estávamos nesta semanas todas a ver sempre um saco vazio, acho que parte de mim ia começando a aceitar que este desfecho podia ser uma possibilidade.
Assim, voltámos a Lisboa, e fui novamente à médica, que com nova eco me fez o mesmo diagnóstico. Deu-me então dias opções: ou aguardava que a natureza seguisse o seu curso, ou dava entrada no hospital para terminar tudo com medicação (ela é contra fazer a medicação em casa, prefere que seja tudo acompanhado no hospital). Como andava muito ansiosa, cheia de medo sobre quando é que acontecia, muito consciente de que ainda tinha sintomas de grávida, dores de barriga e etc, decidi dar entrada no hospital.
Entrei no São Francisco a uma 5a feira à tarde, onde tomei dois comprimidos orais e dois vaginais. Os orais deram-me uma diarreia horrível, durante uns minutos, completamente a suar e cheia de vontade de vomitar. Quando voltei ao quarto puseram-me a soro e deram-me medicação para as náuseas e para a diarreia. Fiquei logo melhor. Comecei a sangrar devagarinho, tipo período, com algumas dores tipo picada de periodo, algumas um pouco fortes, que iam e vinham (são as contrações uterinas). Mas nada que com paracetamol no soro não se suportasse. Cerca da hora de jantar pus mais 2comprimidos vaginais. Com essa toma, comecei a largar mais sangue, alguns coágulos (já sentia coisas mais "sólidas") e por isso as dores foram um bocadinho mais fortes. E por ser já de noite, e como teria que passar lá a noite internada, deram-me nolotil no soro e eu lá consegui dormir umas horas. De manhã, reparei que já tinha expulsado muita coisa sólida (confesso que não olhei muito - só as pernas sujas de sangue já me estavam a fazer impressão), deram-me uma esponja para me limpar e mandaram-me para ecografia, para perceber a evolução. Estava bem encaminhada mas ainda tinha muita coisa. Mais uma toma, mais 2 comprimidos vaginais. Dores à mesma (tipo período forte) mas suportáveis com a medicação no soro, sem comer nem beber nada, pois havia a possibilidade de não conseguir expulsar tudo e ter que ir para curetagem (e para isso precisava do jejum). Tive o meu marido sempre ao meu lado, vi uns episódios na Netflix no telemóvel, conversei ao telemóvel, estive relativamente bem. Com esta toma de comprimidos, não expulsei grande coisa. Mandaram-me andar pelo corredor, e aí, expulsei algum material mas sem dor (viva a gravidade). Estava cheia de esperança que já estivesse livre, pois estava internada há mais de 24h, mas não tive sorte - na eco ainda tinha muito material, e mandaram-me para curetagem. Chorei de nervos, estava com medo apesar de me terem dito que era indolor por era feito com anestesia geral. Não sei se era dos nervos, das hormonas, de querer ir embora, entrei no bloco pelo meu próprio pé a tremer e a chorar baixinho. Foram muito queridos comigo, e sossegaram-me. A única dor que tive foi a anestesia a entrar bola veia - dá uma sensação esquisita de dor mas apaguei-me num instante. Quando acordei, passado meia hora, já estava tudo despachado. Não tinha dores mas mantinha soro e medicação. Estava bem disposta, com o meu marido ao lado. Tinha uma sensação de alívio por estar tudo a acabar. Deram-me de jantar, e cerca das 22h tive alta. Hoje estou em casa, com mais comprimidos para fazer, mas desta vez orais, durante 3dias. Só sinto picadas, que vão e vêm, e tomei ben-u-ron. Nada de mais. Não faço esforços, estou na cama, e estou de baixa da segurança social. Conto ir trabalhar, se tudo correr bem, na próxima semana.
Estou aliviada, por já ter acabado, por não estar mais grávida, por ter encerrado o capítulo. Por poder tentar novamente daqui a 3meses. Acontece, e estou em paz com isso.
Mulheres que estejam a passar por isto: não tenham medo. Varia de mulher para mulher mas não tem necessariamente de ser extremamente doloroso - se o for exijam medicação, não têm que sofrer a passar por isto. Entendo que muitas prefiram que a natureza faça a sua cena, mas acreditem que ter um fim, concreto, rápido, cedo, é muito melhor do que a espera, o eterno "será que é amanhã? Ou depois? Será que acontece no trabalho? Em viagem? No restaurante? Eu fiz assim, e não estou arrependida.
Espero não ter parecido demasiado clínica e insensível. Custou-me, física e emocionalmente, mas fui sempre encaminhada para este desfecho, o embrião nunca se formou, e fui ficando em paz. Acontece a muitas, aconteceu a mim.
Um abraço forte a todas as que passarem por isto e as que estão a passar. Vai tudo ficar bem, no final.