Mensagem a vítimas de violência como eu | De Mãe para Mãe

Mensagem a vítimas de violência como eu

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7 mensagens
JoanaFitas -
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Desde 01 Fev 2019

Olá meninas, para quem não sabe da minha situação, sou vítima de violência doméstica, física e psicológica, ainda estou a viver com o pai da minha filha e a situação ainda está em resolução.
O meu objetivo aqui é deixar uma mensagem para as outras meninas que aqui possam estar a serem vítimas as mãos de alguém como eu, e que também têm medo ou vergonha de chamar a policia,
Eu pensei muito na hipótese de ligar a alguma entidade competente, pois tenho medo que ele me encontre e vá atrás de mim depois de fazer queixa e acabe comigo se vez, no meu caso eu sei que é mesmo possível porque ele é cadastrado, tem um caso pendente, e para meu mal tem muitos conhecimentos lá dentro e cá fora. Mas para o caso de quem está aqui nas mãos de um traste que é uma valente m*RDA e não tem este historial, por favor avancem com a queixa!
Eu liguei para a apav e estive mais de uma hora em chamada com duas assistentes, uma ficou "encarregue" do meu caso, elas ouviram a minha história e aconselharam-me, não obrigam a nada, explicam as hipóteses e as formas como as coisas acontecem.
No meu caso deram a hipótese de mandarem um táxi buscar-me a casa (pago por eles) onde me iria levar até a associaçao mais próxima onde iriam dar inicio ao processo, ou então chamarem a policia para me levarem até lá.
Se eu tivesse algum familiar ou amigo para me abrigar, levavam-me depois para lá, se não, ficava numa casa abrigo que são anónimas e protegidas.
Garantiram que não tiravam a minha filha de mim independentemente de eu estar desempregada.
Uma coisa que me aflige é não ter provas de agressões mas também me foi dito que tal não é necessário.
Infelizmente nos vamos mas ele fica a solta na maioria dos casos até se investigar a situação.
Como a minha situação é bem difícil e complexa a policia não me veio buscar mas estão alertadas e tanto o gabinete da apav de Lisboa como o de Setúbal têm o meu contacto e informações para me ligarem e actuarem em caso de eu pedir ou deixar de atender.
O número 144 é um número de emergência para pessoas em risco que não tem para onde ir, eles dão abrigo e apoio, e claro existe o 112 em caso de emergência.
Pelo menos liguem para a apav para se aconselharem sobre o vosso caso, locais próximos de vocês para se poderem ir informar pessoalmente e os direitos que têm e devidos procedimentos.
Estou a fazer de tudo por mim, pela minha filha, para não ser mais um número na lista... Desejo sorte e coragem a mim mesma, e a quem mais estiver nesta situação. Espero ter ajudado

JoanaFitas -
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Desde 01 Fev 2019

Esqueci-me de dizer : não, ELES NÃO MUDAM!
Há dois anos ele deu-me um empurrão e eu fiquei com ele na mesma e ele prometeu que não iria voltar a fazer, realmente durante muito tempo não fez nada, mas estas pessoas não mudam e mais tarde ou mais cedo voltam a mostrar o que são.

DianaES -
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Desde 08 Out 2013

Não imagino o que seja passar por tal situação... Acho que se me agredissem se dava uma desgraça porque ia revidar... E se não conseguisse na hora havia de ser quando o apanhasse a dormir, ia fazer asneira claro, mas ficar-me, não imagino...
Mas senti muita empatia com o teu relato e sensibiliza-me bastante saber que há pessoas a passarem por situações como essa. Espero do fundo do coração que encontres a melhor solução para o teu caso... E que o teu exemplo ajude a alertar quem está no mesmo caminho.

Sheepelgirl -
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Desde 01 Mar 2016

Olá Joana,

vivi 7 anos uma situação destas e muitas vezes as pessoas pensam que estamos a exagerar. Felizmente não existiram crianças mas nem sei como poderia haver tal era a violência. E por vezes era tudo normal até ao momento que dizia algo (bastava dizer algo) e era o suficiente. Outras vezes nem era preciso dizer nada. Bastava estar ali.

E para quem diz que se fosse com elas era diferente, e que ripostavam...enfim...essa ideia todas temos! Vejo-me como uma pessoa inteligente, desenrascada, independente, e olhem...estive lá no fundo!

A quem passa por isso, não tenham medo! A vossa vez de saírem disso chegará! Muita força!

2016 - AMH 0,7/2018 - AMH 0,45
2016/ICSI (-): 1 embrião 3D/4 células
2017/02 - GN - GQ (a esperança deste positivo!)/2017/ICSI – 2ª GQ: 1 embrião 3D/5 células
2019/01 - lista de espera OVODOAÇÃO
2019/03 - GN - 1º BETA 716 - 2º BETA 774 - não evoluiu Triste
A luta pelo nosso sonho continua! <3

Desde 13 Set 2012

Olá!

Tantas, tantas mulheres a viver este tipo de experiência; também conheço um caso em que a vítima é ele, mas são tão residuais que ninguém os contabiliza. Eu não sei como faria se estivesse no lugar de vítima, mas sei que o medo é um sentimento muito castrador. Quando uma mulher vive em contexto de violência, muitas vezes sente-se culpada dessa mesma violência. A sua auto-estima é seriamente afetada e perdem o foco da realidade. Sentem que se levam pancada é porque fizeram algo para o merecer. Ninguém quer ser assim, ninguém quer viver isto, mas a mente, quando é distorcida, tudo o que aparece como a realidade não passa de uma representação que cada mulher faz da própria realidade. É extremamente difícil sair desta roda-viva porque o medo impede a ação e sempre que pensam agir, surgem os prós e contras inerentes à ação e, mais uma vez, o medo leva a melhor muitas vezes. Quando há crianças pelo meio então o cenário piora exponencialmente porque, nesse contexto, a vítima não é apenas ela, mas sim a criança ou crianças que trouxe ao mundo. é muitas coisas, mas a mim só me aparece como uma realidade muito muito triste e que, infelizmente, está a assumir contornos muito graves em Portugal. Há que educar os nossos meninos que serão os homens daqui a 15 ou 20 anos, de forma a que não se tornem agressores. O perfil do agressor está muito bem delineado. São normalmente homens com passados sombrios e infâncias inexistentes. Claro que isto não é matemática, mas é o que dizem os números.

O ano passado foram registadas 27 mortes resultantes de violência doméstica. todas mulheres. este ano, estamos em fevereiro, e já foram 11; os números não mentem, são o que são e há que interpretar o que tudo isto significa.

Para quem viveu anos e anos num contexto de violência e foi capaz de sair, de dar a volta por cima, de vencer o medo e recuperar a dignidade, tem a minha mais profunda admiração. Não é para todas ser vítima, mas, mais difícil do que ser vítima, é ser capaz de tomar coragem para recuperar as rédeas da própria vida.

Joana, espero que rapidamente saias dessa situação e leves a tua bebé contigo.

Beijinhos e tudo de bom

SMSantos

Sheepelgirl -
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Desde 01 Mar 2016

A sensação que se tem quando se sai de uma situação destas é simplesmente isto: é voltar a ser quem se é!

2016 - AMH 0,7/2018 - AMH 0,45
2016/ICSI (-): 1 embrião 3D/4 células
2017/02 - GN - GQ (a esperança deste positivo!)/2017/ICSI – 2ª GQ: 1 embrião 3D/5 células
2019/01 - lista de espera OVODOAÇÃO
2019/03 - GN - 1º BETA 716 - 2º BETA 774 - não evoluiu Triste
A luta pelo nosso sonho continua! <3

KellyPT -
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Desde 05 Abr 2011

Parabéns pelo teu post e pelo testemunho que dás relativamente ao trabalho da APAV: é verdadeiro serviço público. Mas já devias ter saído de casa há muito tempo. Estás a brincar com o fogo, contigo e com a tua filha. A ideia de que "se fosse comigo, matava-o" consola-nos, mas não é verdadeira, porque a violência doméstica não acontece de repente, mas após um processo de isolamento, destruição da autoestima e desconstrução da personalidade da vítima. Por isso, absolutamente toda a gente tem de estar atenta para PREVENIR a instalação de um ambiente de menorização e desconsideração de um dos membros do casal, porque quase sempre esse é o primeiro degrau de uma escada que, para algumas, acaba no cemitério. Eu farto-me de alertar para isto sempre que me apercebo de situações de desequilíbrio dentro de um casal e muitas vezes não me compreendem. Só compreendem quando a situação acaba em tragédia. Aqui, já toda a gente acha muito chocante. Mas grande parte do caminho para lá chegar é, para muitas, totalmente normal. ..
Enfim, coragem, boa sorte e não deixes de dar notícias