Olá a todas!
Sinto-me no dever de deixar aqui o meu testemunho:
Tenho um anjinho no céu há cerca de 2 anos. Estava grávida de 8 semanas, tinha feito eco no dia anterior, vi o seu pequenino corpo e ouvi o seu precioso coração, estava com perda de sangue, muito pouquinho e um vermelho escuro, a médica viu que estava tudo bem e disse que por vezes era normal, qualquer das maneiras recomendou-me repouso. Nesse dia e no dia a seguir estive estive deitada o tempo todo, quando ao final do dia me levantei para ir à casa de banho, reparei que o sangue era agora vivo apesar de ser muito pouco, fiquei com o coração nas mãos, fui logo para o hospital, ao chegar lá entrei para a sala de observação, deitei-me na marquesa e fizeram-me a eco endovaginal, nem 10 segundos depois a médica disse, "está morto". Ainda me lembro do que senti, apesar de não conseguir explicar por palavras, fiquei uns momentos a olhar o tecto da sala e depois foram as lágrimas, que só pararam muito tempo depois. A médica disse para estar lá no dia a seguir preparada para ficar internada. Se fosse noutra altura, em que estivesse menos fragilizada, tinha respondido à falta de sensibilidade da médica, não se diz isto a ninguém, nem mesmo por me ver completamente perdida, desorientada, teve a delicadeza de dizer qualquer coisa. Saí e encontrei o meu marido, a minha mãe e a minha irmã à minha espera, os olhares falaram por si. No dia seguinte como me disseram fui ao hospital, esperei num corredor cheio de grávidas, todas exibindo barriguinhas lindas, ansiosas por receberem os seus filhotes, o som de fundo daquele sítio eram pequeninos corações, senti-me tão mal com aquilo tudo, só queria sair dali. Tive a sorte de encontrar outra médica, desta vez muito simpática, nem consegui falar, reconfortou-me com palavras. Fez-me de novo uma eco, perguntei em jeito de negação de não havia a possibilidade da outra médica se ter enganado, ão havia hipotese, tinha o meu bem morto dentro de mim. A médica explicou-me que teria duas opçoes, ficar lá para induzir a expulsão o esperar pelo processo natural, perguntei quais os riscos que corria e decidi ir para casa, já que tinha de passar por aquilo, sofria acompanhada por quem amo. Foram dias dificeis, pensar na perda e com a eminência da expulsão. Passados alguns dias, creio que 4, à noite comecei a sentir umas dores tipo periodo, uma moideira que se intensificava, já não aguentava as dores nos rins e útero, as contracções eram cada vez mais seguidas e fui para a casa de banho, toda eu tremia, tinha vómitos, imensas dores, até que apeteceu-me fazer força e senti a sair de dentro de mim algo que eu não consegui olhar. As dores físicas passaram de imediato, porém as outras dores ficaram por muito mais tempo. Lembro-me depois de uma consulta a minha médica ter dito que essa dor só passava quando tivesse um filho, dou-lhe razão agora. Durante 2 anos não tentei engravidar. Deprimi durante muito tempo, não me sentia capaz, e interiormente tinha uma sensação de culpa enorme, pensava que era incapaz de gerar um filho, pensava que tinha algum defeito que não me permitia ser mãe e mais grave pensava que podia engravidar mas que ia sempre terminar assim. Ao fim de desse tempo resolvi tentar outra vez, mudei de médico, expliquei-lhe a situação e ao fim de 4meses de tentativas ele receitou-me hormonas, no final do primeiro ciclo estava de novo grávida. O inicio foi para mim muito dificil, tinha tanto medo de abortar novamente que vivia num pânico constante, estava sempre a ver se tinha sangue quando ia à casa de banho, estava em constante alerta, não conseguia relaxar, não dormia, nem à noite e ao fim de alguns dias assim parecia um zumbi. Os enjoos eram constantes, coisa que não tinha acontecido na última vez. À medida que o tempo passava ganhava mais confiança neste ser que trazia dentro de mim. estive algum tempo no hospital a soro porque não aguentava a comida, vomitava tudo e ainda por cima apanhei 3 gastroenterites pouco espaçadas, sou educadora de infância e estava na altura das viroses. Mais uma coisa para me deixar alarmada. Mas o ser pequenino ia ganhando força e não sei como crecendo. Lembro-me que na primeira eco que fiz às 6 semanas e ouvi o seu coraçaozinho, não consegui apreciar aquele momento, estava cheia de medo e paralisei as emoções. O tempo foi passando e a barriga também. Estava agora mais confiante, mais capaz, viviamos agora todos os momentos todas as ecos, cada dia que passava sentia-me mais abençoada. Passaram as 12s, as 16s, e finalmente comecei a sentir-me melhor, os enjoos passaram e o apetite aumentou imenso, devorava tudo, a barriga cresceu muito rápido. Ficamos a saber que era uma menina, as boas noticias sucediam-se. Estava num estava de graça, parecia que andava nas nuvens. Escolhi desta vez uma clínica privada, onde juntamente com o meu médico me tratavam como uma princesa. Frequentamos as aulas de preparação, preparamos tudo em casa. Ás 35 semanas como estava com pouco liquido e a placenta estava envelhecida o médico marcou a cesariana para dali a 15 dias (teve de ser cesariana, para meu mal que queria parto natural, porque sou muito estreita e a bebé grandinha, além disso ela trazia uma circular e eu tinha o estrepeto positivo). Fui entretanto a várias consultas ao longo dessas duas semanas, estavamos a tentar aguentar ao máximo a pequenina dentro de mim. Estive sempre calma ao longo da espera. Finalmente chegou o dia, o mais feliz de todo o sempre para mim!! Ela nasceu, saúdavel e linda! Só naquele dia é que percebi que afinal sou capaz. Estou aqui com ela passado 2 meses e meio. Quando regressei a casa só chorava, não percebi porquê, hormonas ou descompressão, qualquer coisa que doia muito, mas sempre que olhava para a pequenina enchia o meu coração. Parece mentira, ainda me custa a acreditar. Penso nesta dádiva, neste milagre e agradeço a Deus, mas também agradeço a mim mesma e sobretudo à pequenina por me ter permitido viver tudo isto. Sei agora que sou capaz, duvidei sempre de mim. Sei agora que vale sempre a pena tentar de novo e mais e mais até conseguir, porque o conseguir é muito bom e sabe ainda melhor quando se saboreia assim, quando é muito desejado e tudo muito sentido e intenso. Porque engravidar envolve sempre riscos e muitos medos e também muita muita alegria, quero arriscar de novo, por mim estava todos os anos grávida, adorei todos os momentos. Quanto à dor, nunca esqueço, terei sempre o meu anjinho no coração, mas agora tenho outro na minha vida que me deixa muito feliz e que faz com que tudo valha a pena.
Desculpem por que me prolonguei, apenas penso que quando foi comigo gostaria de ter tido alguém que me dissesse que era só um pesadelo e que teria um dia o meu sonho. Nunca desistam dos vossos sonhos, acreditem porque eles precisam que acreditemos neles para serem tornados realidade.
Muitos beijinhos
