Escrevi este texto sobre aborto. *Desabafo* 2 seguidos | De Mãe para Mãe

Escrevi este texto sobre aborto. *Desabafo* 2 seguidos

Responda
12 mensagens
Pwadis -
Offline
Desde 27 Jul 2019

Um bocadinho de info em contexto: o primeiro teria nascido a 31 de março de 2020, o segundo novembro de 2020.
Um foi uma gravidez quimica
O outro foi que nao havia batimento ♥️ perdi 26-03-2020
Há dias e dias, hoje foi particularmente difícil
Acho que escrever e chorar limpa a alma
Desculpem o desabafo. 🌈

nao consigo por hoje em palavras
as pessoas perguntam me quando vao ser tias, aconselham me a fazer um bebé..
e ninguém compreende o quão cruel essa pergunta é para algumas pessoas, o quão emocionalmente crua estou e o quão dificil para mim é encarar essa questão, sei que nao é por mal, mas é cruel..

sinto me incompreendida pelo mundo, talvez porque nao tenha partilhado com ninguem os acontecimentos, mas ironicamente o maior conforto que recebi foi do meu médico, que já é quase familia para mim, me acompanha desde os 14 anos e que eu sinto em certa parte que tomou as minhas dores carinhosamente.

esta experiência deixou me humilde de varias maneiras, deixou me humilde ao ponto de sentir o que é estar no lado errado da estatística, o baixo % das mulheres que sofrem duas perdas consecutivas (ainda que diferentes, e ainda bem). deixou me humilde a ponto de jurar a mim mesma que não perguntarei a mais ninguem quando farão ou se farão um filho. Humilde ao ponto de perceber que esta luta é uma luta silenciosa, instavel e dolorosa.. e com isto entendi que a maior parte das.pessoas lutam com os seus demonios silenciosamente (sejam eles quais forem)

Hoje estou com raiva, e sinto me menos mulher que muitas mulheres que eu tomava por meninas, por menos válidas.
O valor de uma mulher não se define pelas capacidades dela de reproduzir.. mas é muito difícil não te sentires incapaz quando o teu corpo nao é capaz de gerar uma vida, ainda que não fosse planeada

E depois vem o egoismo, o egoísmo de ver alguem com um filho nas maos, grávida sem problemas, e sentir algo horrivel:
sentir que estão a esfregar a fertilidade deles na tua cara, sentir raiva de mães que tão felizes e exaustas seguram os seus filhos, e sentir inveja disso tudo.

esta inveja não vem de quereres estar naquela posição, mas vem da dor que ela te causa por não estares.

há dias que me sinto bem, quase nem me lembro do ocorrido.. há outros dias, como hoje, em que tocam mais na ferida que eu já achava sarada e me deixam devastada..

e falemos dos companheiros.. não me posso queixar, e também nao é por mal que eles o fazem mas eles nunca nos irão compreender a fundo. eles nunca irão entender porque eles nunca viram, nunca sentiram, só souberam.. e digam o que disserem, nao é igual.

Em dias como hoje eu sinto que finjo os meus sentimentos o dia inteiro, e é exaustivo. É exaustivo estar rodeado de pessoas quando precisas de estar sozinha ..

mas estar sozinha tambem seria exaustivo pois ir-me-ia atormentar com os meus pensamentos...

O que é suposto fazer?Fingir que nunca nada esteve lá?
Fingir que não fiquei aterrorizada quando descobri e super feliz nos dias que se seguiram?
Fingir que nunca senti enjoos, que nunca vi duas linhas em todos os testes que fiz??

Fingir que não fui ao médico com expectativas de ver um coraçãozinho a bater, apenas para descobrir que tinhas morrido dentro de mim?

fingir que por 3 semanas não pensei que ia ser mãe, tua mãe...?
Fingir que não gostava de ti, que eras apenas uma "coisa"??

Hoje não consegui como na passada semana e meia tenho conseguido.. Há dias e dias e hoje foi quase igual ao dia em que descobri que nunca te iria conhecer

e ninguém me compreende,
dizem que foi por acaso, e que tive apenas azar

hoje foi um dia mau

Claudinha89 -
Offline
Desde 03 Fev 2020

Revejo-me tanto nas tuas palavras. Infelizmente passei por um aborto em janeiro. É tão mas tão difícil, tão doloroso. Há dias bons, há dias maus, há dias horríveis. Quanto mais gente tens ao pé de ti, mais só te sentes. Depois há as tentativas de te tentarem animar, mas que em nada resultam, que só fazem pior. Claro que ninguém faz mal, mai doi ouvir certas coisas. No meu círculo de amigas mais próximas, éramos 3 a tentar engravidar. Eu fui a primeira, mas depois veio a perda. Quando uma delas engravidou, claro que fiquei super feliz por ela, mas muito infeliz por saber que eu já não tinha nada aqui dentro e que não podia partilhar em simultâneo certas coisas com ela. Em relação ao marido, ele apoia, mas é como tu dizes, somos nós que passamos por isso, é o nosso corpo que rejeita aquilo que nós tanto queríamos.
Os dias vão passando e uma coisa aprendi, por muito que converse com alguém, por muito apoio que tenha, só eu é que me vou conseguir ajudar a mim própria a levantar a cabeça e seguir em frente. Não é fácil, nada fácil, mas aos pouquinhos vou conseguindo. E acredito que dias melhores virão e que ainda estão muitas coisas boas por vir.
Beijinho e muita força

Pwadis -
Offline
Desde 27 Jul 2019

Claudinha89 escreveu:
Revejo-me tanto nas tuas palavras. Infelizmente passei por um aborto em janeiro. É tão mas tão difícil, tão doloroso. Há dias bons, há dias maus, há dias horríveis. Quanto mais gente tens ao pé de ti, mais só te sentes. Depois há as tentativas de te tentarem animar, mas que em nada resultam, que só fazem pior. Claro que ninguém faz mal, mai doi ouvir certas coisas. No meu círculo de amigas mais próximas, éramos 3 a tentar engravidar. Eu fui a primeira, mas depois veio a perda. Quando uma delas engravidou, claro que fiquei super feliz por ela, mas muito infeliz por saber que eu já não tinha nada aqui dentro e que não podia partilhar em simultâneo certas coisas com ela. Em relação ao marido, ele apoia, mas é como tu dizes, somos nós que passamos por isso, é o nosso corpo que rejeita aquilo que nós tanto queríamos.
Os dias vão passando e uma coisa aprendi, por muito que converse com alguém, por muito apoio que tenha, só eu é que me vou conseguir ajudar a mim própria a levantar a cabeça e seguir em frente. Não é fácil, nada fácil, mas aos pouquinhos vou conseguindo. E acredito que dias melhores virão e que ainda estão muitas coisas boas por vir.
Beijinho e muita força

Obrigada 🥰 Infelizmente é assim mesmo, depende apenas de nós... e lamento muito a sua perda. Tudo de bom no futuro 🌈💕💞

Pat123 -
Offline
Desde 16 Jul 2019

Olá Pwadis .....como as tuas palavras me dizem tanto...nem imaginas....estou exactamente como tu...num dia não.... No mês passado passei pelo segundo aborto num espaço de um ano... Os dias para mim são uma montanha russa....tanto estou lá em cima como muito lá em baixo ...tento ser positiva... E acredito que o nosso dia vai chegar...
E acredita que te compreendo e muitoooo... beijinhos

MarinaVaz -
Offline
Desde 12 Out 2018

Boa noite!!
Em 2017 perdi a minha primeira menina as 14 semanas e em 2018 voltei a perder tambem quase nas 14.
Não há palavras que nos deixem descançar a alma.É um desgosto muito grande!Sofri e continuo a lembrar-me das minhas meninas todos os dias.
E uma coisa que aprendi é que precisamos de tempo para nòs para “aceitar” o luto, e não é facil nao é de um dia para o outro .. é muito muito dificil aceitar principlemente quando constantemente vemos casais de amigos a construir familia.
É dificil doi e sempre vai doer!
Muita força e coragem a voces e mesmo assim por nao desistirem dos vossos sonhos ❤️
Um dia a sorte estará do nosso lado!
Um grande beijinho

ritinhamag -
Offline
Desde 03 Fev 2010

Boa noite a todas.
Em primeiro lugar, sois mães. Não da maneira que idealizasteis, mas sois.
Em segundo lugar, tereis que fazer o luto. E não há segredos para o luto. O luto faz-se de uma maneira muito pessoal. Também passei por uma perda gestacional, perdi um bebé que durante toda uma vida idealizei, perdi um bebé que me deu a enorme emoção de me sentir grávida pela primeira vez. Quando aconteceu, chorei muito. Mesmo muito. Recusei-me a ir trabalhar (gozei da licença por interrupção da gravidez), estive 1 mês em casa. Eu, o meu marido e a minha dor. Passei a dormir muito mal, deixei de ser quem era e passei a ser consumida pelo acontecimento tão triste que tinha vivido. Eu que sempre fui tão positiva, alegre e extrovertida estava a passar pela primeira grande provação da minha vida.
A licença acabou e tinha que enfrentar o mundo... Na noite anterior a ter voltado ao trabalho, passei horas a pensar, como que a fazer um flashback de tudo o que me havia acontecido. No espaço de 1 mês e pouco descubro que estou grávida, idealizo-me como mãe, projeto e futuro e num abrir e piscar de olhos vai tudo por água abaixo... Desse flashback, resultou uma certeza. A certeza de que queria muito ser mãe. E a certeza de que teria que aceitar percorrer a estrada até lá chegar. E nem sempre as estradas são fáceis de se fazer. "e se tiver outro aborto?"... Se tiver outro aborto, vou ter que me recompor, levantar e voltar a tentar. Persistir e continuar nesta estrada é a única forma de chegar onde eu quero. Quando queremos muito uma coisa, temos que aceitar que podemos passar por dificuldades até lá chegar e se aceitarmos isso, é meio caminho andado para fazermos essa estrada com mais felicidade e tranquilidade... Voltei ao trabalho. O luto havia sido feito. Tinha-me afogado em mim. Tinha parado o tempo e estava na hora de voltar. Sempre falei do meu aborto. Era libertador. Pessoas que nem sequer souberam que estive grávida, souberam do aborto. Não apregoava aos 7 ventos, mas se viesse a propósito, partilhava. Não me fazia sentido esconder. Ao esconder o meu cérebro estava a assumir culpa. Estava a assumir um lado oculto. E eu não queria isso pra mim...
Chegou a hora de voltarmos a tentar. A primeira pergunta que me fiz foi "Rita, estás preparada para sofrer outra perda?"? Arregacei as mangas e fui. E iria as vezes que fossem necessárias, pq nada era maior do que a minha vontade de ser mãe.
O meu sonho realizou-se e está aqui agora ao meu lado. O vosso sonho também há-de chegar!!!
Força. Percorram a estrada de cabeça erguida e com a certeza de que em vós habitam forças capazes de aguentar tudo ❤️🍀

Alexandra Raque... -
Offline
Desde 02 Nov 2019

Opa ... que testemunho espetacular!!! Revejo me em tudo o que disse! Só ainda não fui capaz de ter o meu bebé arco-íris! Mas cá estou na luta para o ter! Cair e levantar as vezes que forem necessárias! Pois a vontade de realizar o meu sonho é maior que tudo o resto.
Obrigada pelas suas palavras, não conseguiria transcrever de melhor forma tudo aquilo que sinto!

ritinhamag escreveu:
Boa noite a todas.
Em primeiro lugar, sois mães. Não da maneira que idealizasteis, mas sois.
Em segundo lugar, tereis que fazer o luto. E não há segredos para o luto. O luto faz-se de uma maneira muito pessoal. Também passei por uma perda gestacional, perdi um bebé que durante toda uma vida idealizei, perdi um bebé que me deu a enorme emoção de me sentir grávida pela primeira vez. Quando aconteceu, chorei muito. Mesmo muito. Recusei-me a ir trabalhar (gozei da licença por interrupção da gravidez), estive 1 mês em casa. Eu, o meu marido e a minha dor. Passei a dormir muito mal, deixei de ser quem era e passei a ser consumida pelo acontecimento tão triste que tinha vivido. Eu que sempre fui tão positiva, alegre e extrovertida estava a passar pela primeira grande provação da minha vida.
A licença acabou e tinha que enfrentar o mundo... Na noite anterior a ter voltado ao trabalho, passei horas a pensar, como que a fazer um flashback de tudo o que me havia acontecido. No espaço de 1 mês e pouco descubro que estou grávida, idealizo-me como mãe, projeto e futuro e num abrir e piscar de olhos vai tudo por água abaixo... Desse flashback, resultou uma certeza. A certeza de que queria muito ser mãe. E a certeza de que teria que aceitar percorrer a estrada até lá chegar. E nem sempre as estradas são fáceis de se fazer. "e se tiver outro aborto?"... Se tiver outro aborto, vou ter que me recompor, levantar e voltar a tentar. Persistir e continuar nesta estrada é a única forma de chegar onde eu quero. Quando queremos muito uma coisa, temos que aceitar que podemos passar por dificuldades até lá chegar e se aceitarmos isso, é meio caminho andado para fazermos essa estrada com mais felicidade e tranquilidade... Voltei ao trabalho. O luto havia sido feito. Tinha-me afogado em mim. Tinha parado o tempo e estava na hora de voltar. Sempre falei do meu aborto. Era libertador. Pessoas que nem sequer souberam que estive grávida, souberam do aborto. Não apregoava aos 7 ventos, mas se viesse a propósito, partilhava. Não me fazia sentido esconder. Ao esconder o meu cérebro estava a assumir culpa. Estava a assumir um lado oculto. E eu não queria isso pra mim...
Chegou a hora de voltarmos a tentar. A primeira pergunta que me fiz foi "Rita, estás preparada para sofrer outra perda?"? Arregacei as mangas e fui. E iria as vezes que fossem necessárias, pq nada era maior do que a minha vontade de ser mãe.
O meu sonho realizou-se e está aqui agora ao meu lado. O vosso sonho também há-de chegar!!!
Força. Percorram a estrada de cabeça erguida e com a certeza de que em vós habitam forças capazes de aguentar tudo ❤️🍀

Arevonline -
Offline
Desde 16 Ago 2017

Para começar, lamento. Lamento tanto essa dor que sentes. Tu e todas as meninas que descreveram caminhos semelhantes. E não podia deixar de vos ler e comentar com a ternura de quem reconhece cada palavra e cada sentimento que descrevem.
..
Para contextualizar, fui mãe quando tinha 21 anos. Facilmente. À primeira tentativa. Talvez até de uma forma meio inconsequente. A vida deu mil voltas, e alguns anos depois foi refeita com o meu actual marido. Nos primeiros anos de casada queria viajar, sair, ser livre, namorar. Nunca me passava pela cabeça não conseguir ser mãe novamente. Até deixar a pílula e ver passar um ano sem nada acontecer, quando já tinha 36 anos. Nessa altura investiguei, e comecei consultas de infertilidade. Sem nenhum problema diagnosticado, ao fim de 2 tratamentos simples, estava grávida e era só felicidade. Um caso raro. A entrar para as baixas estatísticas de quem tinha engravidado com uma IIU. Mal eu sabia que ia entrar para outra estatística...
Um dia, às 10 semanas, senti-me "estranha". Só isto! Fui ao hospital. Inventei sintomas que não tinha, só para ser observada. Afinal não podia dizer "sinto-me estranha". Precisava de validar que era só um medo comum, mas não era. O meu bebé sonhado já não estava comigo. E foi duro. Muito duro. Tão duro, que quase sois anos depois ainda me desfaço em lágrimas quando penso ou falo do meu bebé.
Depois foi um caminho longo, o do luto. Fiz outro tratamento quando ainda estava um caco. Fiz outro alguns meses depois. Mais um negativo. Demorei a decisão de fazer FIV, porque achava que era a última paragem. A última esperança. E se se acabasse a esperança? Como seria?
..
Fiz a FIV num misto de alegria e descrença. Não me esqueço do dia do positivo, por ter sido tão triste. Com aquele sentimento de "lá vamos nós outra vez. E se perder, como vou aguentar?"
..
A gravidez foi vivida dia a dia. Sempre com o coração nas mãos. Sempre com dúvidas. Sempre a pensar que não era merecedora de tamanha felicidade, e mais dia menos dia, alguma coisa má ia acontecer. Cada injecção que todos diziam que prevenia os abortos, me lembrava que já tinha tido um, mesmo a fazer a medicação toda certinha.
..
Certo é que o meu bebé resistiu. Contra as minhas expectativas. Chegámos às 38 semanas, e fui muito abençoada. O meu Gabriel é o meu anjo e agradeço todos os dias a felicidade de me ter escolhido como mãe.
Passei a gravidez toda a ler um texto que foi, até hoje, a única coisa que li que descrevia exactamente o que senti aquando do aborto. E foi escrito por um homem! Tenho o texto guardado, e é lá que volto quando a tristeza bate. Afinal está lá descrita toda a minha mágoa. E não me esqueço de onde vim!
https://www.eduardosa.com/blog/sr-beb%C3%A9/como-d%C3%B3i-um-sonho-quand...
..
Espero que, tão breve quanto possível, todas as que não conseguiram, consigam alcançar o sonho. Porque nesse dia, como digo sempre, todas as lágrimas. Todo o caminho. Todas as dores. Valeram a pena. Como valeram!

17 Janeiro: IIU Lusíadas (-) 2 Fevereiro
9 Abril: IIU Lusíadas (+) 20 Abril; AR 4 Junho
24 Agosto: IIU Lusíadas (-) 10 de Setembro
23 Janeiro 2019: IIU Lusíadas (-) 8 Fevereiro
12 Julho: FIV Lusiadas (+) 25 Julho: 150/ 2 Beta 27 Julho: 362 ❤❤❤❤❤

Alexandra Raque... -
Offline
Desde 02 Nov 2019

Obrigada pela tua força 😍❤️😘🥰
És espetacular 🌈

Arevonline escreveu:
Para começar, lamento. Lamento tanto essa dor que sentes. Tu e todas as meninas que descreveram caminhos semelhantes. E não podia deixar de vos ler e comentar com a ternura de quem reconhece cada palavra e cada sentimento que descrevem.
..
Para contextualizar, fui mãe quando tinha 21 anos. Facilmente. À primeira tentativa. Talvez até de uma forma meio inconsequente. A vida deu mil voltas, e alguns anos depois foi refeita com o meu actual marido. Nos primeiros anos de casada queria viajar, sair, ser livre, namorar. Nunca me passava pela cabeça não conseguir ser mãe novamente. Até deixar a pílula e ver passar um ano sem nada acontecer, quando já tinha 36 anos. Nessa altura investiguei, e comecei consultas de infertilidade. Sem nenhum problema diagnosticado, ao fim de 2 tratamentos simples, estava grávida e era só felicidade. Um caso raro. A entrar para as baixas estatísticas de quem tinha engravidado com uma IIU. Mal eu sabia que ia entrar para outra estatística...
Um dia, às 10 semanas, senti-me "estranha". Só isto! Fui ao hospital. Inventei sintomas que não tinha, só para ser observada. Afinal não podia dizer "sinto-me estranha". Precisava de validar que era só um medo comum, mas não era. O meu bebé sonhado já não estava comigo. E foi duro. Muito duro. Tão duro, que quase sois anos depois ainda me desfaço em lágrimas quando penso ou falo do meu bebé.
Depois foi um caminho longo, o do luto. Fiz outro tratamento quando ainda estava um caco. Fiz outro alguns meses depois. Mais um negativo. Demorei a decisão de fazer FIV, porque achava que era a última paragem. A última esperança. E se se acabasse a esperança? Como seria?
..
Fiz a FIV num misto de alegria e descrença. Não me esqueço do dia do positivo, por ter sido tão triste. Com aquele sentimento de "lá vamos nós outra vez. E se perder, como vou aguentar?"
..
A gravidez foi vivida dia a dia. Sempre com o coração nas mãos. Sempre com dúvidas. Sempre a pensar que não era merecedora de tamanha felicidade, e mais dia menos dia, alguma coisa má ia acontecer. Cada injecção que todos diziam que prevenia os abortos, me lembrava que já tinha tido um, mesmo a fazer a medicação toda certinha.
..
Certo é que o meu bebé resistiu. Contra as minhas expectativas. Chegámos às 38 semanas, e fui muito abençoada. O meu Gabriel é o meu anjo e agradeço todos os dias a felicidade de me ter escolhido como mãe.
Passei a gravidez toda a ler um texto que foi, até hoje, a única coisa que li que descrevia exactamente o que senti aquando do aborto. E foi escrito por um homem! Tenho o texto guardado, e é lá que volto quando a tristeza bate. Afinal está lá descrita toda a minha mágoa. E não me esqueço de onde vim!https://www.eduardosa.com/blog/sr-beb%C3%A9/como-d%C3%B3i-um-sonho-quand...
..
Espero que, tão breve quanto possível, todas as que não conseguiram, consigam alcançar o sonho. Porque nesse dia, como digo sempre, todas as lágrimas. Todo o caminho. Todas as dores. Valeram a pena. Como valeram!

AndreiaFSAntunes -
Offline
Desde 20 Mar 2020

Como me revejo em todas as palavras que escreveste!!
Passei por 2 abortos em meio ano Triste
Se tudo tivesse corrido bem, o primeiro já estaria nos meus braços, teria nascido agora em Abril, o segundo, em Outubro!!
É uma dor tão grande, quando pensamos no "e se"....
Dos dois, apesar de ter algumas dores e perdas de sangue, sentia que algo não estava bem...
Nós sentimos essas coisas, embora estejamos sempre à espera do "não se preocupe, está tudo bem"...
Agora, a gozar a minha baixa, só me quero recompor e em breve vou ter que voltar à realidade...
Ao "então, como estás? Se calhar foi melhor assim..." Eu sei que não é por mal, mas caramba....
Quero "esquecer" este tempo e voltar a tentar!! E será que estou preparada para outro desgosto?
Não, nunca vou estar, mas também nunca vou desistir!!
Sei que apesar de tudo, tudo isto por que passámos todas, vai valer a pena Sorriso
Um beijinho!!

AndreiaFSAntunes -
Offline
Desde 20 Mar 2020

Como me revejo em todas as palavras que escreveste!!
Passei por 2 abortos em meio ano Triste
Se tudo tivesse corrido bem, o primeiro já estaria nos meus braços, teria nascido agora em Abril, o segundo, em Outubro!!
É uma dor tão grande, quando pensamos no "e se"....
Dos dois, apesar de ter algumas dores e perdas de sangue, sentia que algo não estava bem...
Nós sentimos essas coisas, embora estejamos sempre à espera do "não se preocupe, está tudo bem"...
Agora, a gozar a minha baixa, só me quero recompor e em breve vou ter que voltar à realidade...
Ao "então, como estás? Se calhar foi melhor assim..." Eu sei que não é por mal, mas caramba....
Quero "esquecer" este tempo e voltar a tentar!! E será que estou preparada para outro desgosto?
Não, nunca vou estar, mas também nunca vou desistir!!
Sei que apesar de tudo, tudo isto por que passámos todas, vai valer a pena Sorriso
Um beijinho!!

AndreiaFSAntunes -
Offline
Desde 20 Mar 2020

Como me revejo em todas as palavras que escreveste!!
Passei por 2 abortos em meio ano Triste
Se tudo tivesse corrido bem, o primeiro já estaria nos meus braços, teria nascido agora em Abril, o segundo, em Outubro!!
É uma dor tão grande, quando pensamos no "e se"....
Dos dois, apesar de ter algumas dores e perdas de sangue, sentia que algo não estava bem...
Nós sentimos essas coisas, embora estejamos sempre à espera do "não se preocupe, está tudo bem"...
Agora, a gozar a minha baixa, só me quero recompor e em breve vou ter que voltar à realidade...
Ao "então, como estás? Se calhar foi melhor assim..." Eu sei que não é por mal, mas caramba....
Quero "esquecer" este tempo e voltar a tentar!! E será que estou preparada para outro desgosto?
Não, nunca vou estar, mas também nunca vou desistir!!
Sei que apesar de tudo, tudo isto por que passámos todas, vai valer a pena Sorriso
Um beijinho!!

Votação

Quanto tempo, em média, dura uma consulta com o seu filho no pediatra?