Olá a todas!
Venho desabafar..
Oiço muitas vezes algumas pessoas dizerem, que depois de serem pais e mães, acabam por entender e dar razão aos pais que tiveram..
No entanto, comigo, em muitas situações e mesmo sabendo que a minha mãe daria tudo por mim, penso muitas vezes o oposto... ou seja, agora que sou mãe, e que isso me tem feito viajar até à minha infância, não concordo com imensa coisa e fico pasmada com algumas atitudes.
Estou com acompanhamento psicológico, à conta de uma acidente gravíssimo que o meu pai teve ha 1 ano, decidi procurar ajuda, uma canto onde pudesse falar, pedir conselhos e não me sentir julgada ou criticada. Por questões de agenda, nao consigo ir à psicológa todas as semanas, mas sinto que ela me tem ajudado..
No entanto, ainda não abordei com ela estes meus pensamentos, sobre a minha infância... que me fazem sentir culpa e ao mesmo tempo ter ressentimentos..
Os meus pais divorciaram-se quando eu tinha 5 anos. Tenho um irmão mais velho..
Agora que sou mãe, vejo que fui deixada para 2o plano muitas vezes.. em autogestao...
Na infância não me apercebi disto.. apenas sentia medo, quando me deixavam sozinha com o meu irmao em algumas circunstâncias. A minha mãe trabalhava ate tarde.. eu ficava com os avós depois da escola.
Embora ela seja a minha melhor amiga e a pessoa que sei com quem posso contar sempre.. nao deixo de sentir uma certa tristeza.. cobranças.. raiva... e detesto estes sentimentos porque sei que ela, ao mesmo tempo, nao merece..
Não me ia buscar à escola, não me lia uma história à noite... embora mais trade me tenha apoiado nas kinhas decisões, eu fico de coração partido quando olho para a criança que fui..
Dentro da família, em miuda, não fui muito valorizada, puxada para cima.. sofri algum.bulying, gozaram comigo.. pois eu não era intelectualmente tao forte como todos à minha volta, irmão e primos.. actualmente todos advogados e engenheiros...
Foi na idade adulta, e agora que sou mãe, que descobri que afinal sou uma pessoa capaz.. construi a minha vida, e dou conta do recado...
Mas na infância não ouvi elogios, nao sei bem explicar.. sei que é uma questão de feitio dos meus pais e sei que estão orgulhosos de mim agora..
Mas enquanto fui miuda nunca senti que achassem que sou inteligente, boa miuda, etc..
E isto sao coisas que digo abertamente às minhas filhas. Assim como as corrijo naquilo que acho importante tambem valorizo aquilo que têm de qualidades.
As minha filhas são as duas miuto inteligentes... e ate isso, em brincadeira, a minha diz.. saíram à avó...
Ontem tive uma discussão com a minha mãe..saltou-me a tampa, porque parece que não faço nada bem, ela sabe sempre fazer melhor.. sei que não faz por mal, mas cresci assim.. e aos 40 continuo a levar com uma espécie de atitude "não é assim, é assado"
Quando a minha mãe dá opinião, nunca é num tom pessoal, é quase como uma verdade absoluta.
Eu tento que as munhas filhas tenham o espaço delas, os gostos delas, possam ser elas próprias..
E eu sinto que, de certa forma, precisei sempre de aprovação.. "será que estou a fazer bem? Eu devia fazer isto, será que aquilo é que é bom?"
Podia continuar por aqui fora...
Fiquei muito triste com a discussão... parece que sou ingrata...nao sei explicar...
Obrigada por me ouvirem..
Revi-me bastante neste tópico. Eu também olho para a minha infância e sinto que fui muito injustiçada. Eram outros tempos, os pais de uma forma geral não tinham "tempo de qualidade" com os filhos. Mas agora que sou adulta noto que houveram situações muito ingratas. Do tipo eu, miúda de 7 anos, ter a obrigação de limpar o quarto do meu irmão, 10 anos mais velho do que eu. Eu ter obrigação de cozinhar e lavar a loiça enquanto o lorde só via TV e ouvia música. Já em adolescente ser constantemente comparada com as outras miúdas, sempre de forma depreciativa (era a prima que era mais bonita e a colega que era mais inteligente e a vizinha que era mais simpática). O facto deles tentarem infantilizar-me ao máximo ( não podia fazer a depilação não podia pintar as unhas não podia andar de roupa ao meu gosto). Incentivavam-me a andar o mais recatada possível, porque "ai Deus nos livre de seres bonita e algum homem olhar para ti". Não podia ter opinião. Não podia falar abertamente sobre nada. Enfim. Foi difícil. Mas na altura eu nem tinha a noção do quanto eu era menosprezada e incentivada a só existir sem incomodar. Foi só ao longo dos anos que me fui apercebendo do quanto tudo foi distorcido na minha infância e adolescência só por ter nascido mulher. Era mesmo caso de machismo 🙄.
Eu já os perdoei, eles não sabiam fazer melhor, mas a verdade é que a minha relação com eles não é grande coisa. E por vezes ainda tenho a vozinha que eles plantaram aqui dentro a dizer me que não sou capaz, apesar de racionalmente saber que sou e que em adulta fiz mais sozinha do que a maioria faz com ajudas... Ainda não fiz psicoterapia mas sei que preciso. É algo que cada vez mais penso em fazer.
E uma coisa que me magoa imenso e sei que me marcou muito mesmo, eles culpavam me por tudo o que corria mal. O arroz queimava, fui eu que em vez de estar a cuidar dele atrevi-me a ir brincar. A TV avariou, fui eu de certeza que andei lá a fazer asneiras. A canalização entupiu, fui eu que enfiei lá alguma coisa. O meu irmão só acordou ao meio dia, mas eu tinha de ter o quarto dele limpo e arrumado ao meio dia e meio minuto se não estava era eu que era preguiçosa. Os meus pais discutiam, a culpa era minha que me atrevi a dizer algo que não devia. A família não os convidou para uma festa qualquer, foi porque eu fui chata da última vez que lá fomos. Nem consigo explicar o quanto isto me marcou e o quanto isto ainda condiciona a minha vida.
Eu não passei pelo mesmo porque quando nasci os meus pais estavam um pouco mais maduros mas tenho uma irmã mais velha, pela sua idade. Os meus pais casaram muito jovens e tiveram logo a minha irmã. O meu pai queria levar uma vida de solteiro, boémia e os primeiros anos de casamento foram conturbados com a minha irmã no meio.
São bons pais mas isso não os livrou das acusações e da revolta da minha irmã. Atualmente é mãe e tece duras críticas aos meus pais, tenta ser diferente com o filho dela, relembra muito a infância, faz comparações. Os meus pais estão sempre lá para ela e ajudam em tudo mas nada apaga. A minha irmã faz psicoterapia, no início da idade adulta tinha algumas depressões e uns anos mais tarde veio o diagnóstico de doença bipolar. Atualmente é um triângulo de culpa e eu tenho muita pena disso.
Costumava pensar no auge da minha adolescência que ao sermos filhos e sentirmos na pele, aprendemos a ser pais. Havia coisas que , muito longe ainda de ser mãe, prometi a mim mesma nunca fazer aos filhos que um dia tivesse.
Prometi dizer que gostava deles todos os dias, prometi que lhes dáva pelo menos um abraço por dia, prometi dizer o quanto me orgulhava deles por mais asneiras insignificantes que fizessem.
Prometi tentar entende-los, dar espaço á sua personalidade e gostos .
Prometi ser justa, como tento ser com alguém da minha idade.
Hoje tenho 2 filhas , tenho cumprido o que prometi em tempos.
Não considero que fui maltratada em criança, sei que os meus pais gostavam de mim, filha única muito desejada, que era para ter sido um rapaz.
Era um tempo em que não havia espaço para sentimentos, não se dáva voz às crianças.
A minha relação com eles sempre foi torbulenta. Melhorou bastante com o afastamento quando comprei a minha casa e eu não permiti que invadissem a minha vida. Éramos presentes com algum afastamento e cerimônia.
O meu marido dizia-me que eu era melhor filha a tratar deles quando estavam na fase final da vida, que eles enquanto pais para mim .
Mas a consciência não me deixava fazer de outra forma. Tratei deles até morrerem, como se tivessem sido os melhores pais do mundo. Os ressentimentos ficaram lá atrás e penso o quanto aprendi com a parentalidade menos positiva deles, para não fazer as minhas filhas sentirem o mesmo.
Eu depois de ser mãe, acabei por entender algumas coisas, outras nem tanto. Com o que não concordava eu sempre bati o pé desde pequena.
Os meus pais também nunca me leram uma história, nunca me foram buscar à escola, mas isso eu entendo, eram outros tempos e ninguém o fazia.
Uma vez estava a chover imenso e os meus pais estavam em casa, eu saía numa paragem de autocarro, mas ainda tinha de andar 15 minutos a pé até casa, quando cheguei a casa e vi que estavam todos em casa, eu só disse " a chover imenso e ninguém se importou por acaso de me irem buscar, pelo menos à paragem de autocarro?", Dito e feito quando chovia já me iam buscar.
O que eu menos compreendo é mesmo o machismo, a minha mãe achava que eu tinha de arrumar, ficar em casa, etc, enquanto o meu irmão podia fazer o que quisesse, até a mesada era maior, segundo eles era rapaz, e a minha avó dizia o mesmo, como era rapaz gastava mais. Eu já perdoei, porque sei que a minha mãe apesar de nunca me ter pedido desculpas diretamente, pede de outras maneiras, porque eu também mais tarde a fiz ver que foi muito injusta comigo.
Os meus pais cometeram muitos erros (eu também cometo como mãe), mas sei que fizeram o melhor que sabiam.
Eles, com 6 anos, já trabalhavam como adultos e só tiveram autonomia financeira depois de casar.
Aos filhos, até o abono devolveram em adultos (+juros). Quando comprei casa tinha dinheiro para a entrada.
Fizeram muita coisa duvidosa (mas nada ilegal). Anos 80/90 em que tudo era permitido.
Mas o que me marcou muito foi estar sozinha no primeiro dia do 1º ano. A minha mãe combinou com a auxiliar, mas eu senti-me abandonada. Era o primeiro dia do meu irmão mais velho no 5º e foi com ele!
Fui uma excelente aluna mas nunca me elogiaram diretamente (sei q o fazia às amigas), mas ao meu irmão mais novo prometiam prendas para ter boas notas (coisa rara). Na minha primeira e única negativa a minha mãe nada disse, sei que lhe custou tanto a ela como a mim. Também nunca me elogiaram na faculdade (até os cadeirões fiz à primeira, matemática e física, coisas "fáceis"), mas sei que têm mto orgulho.
Tinha irmãos mais velhos que só sabiam gozar comigo (o típico), era com se fosse "filha única" com 3 irmãos. Adoro-os, mas isso distanciou-me deles.
O meu pai foi um pai um pouco ausente (tinha de ganhar dinheiro) mas fez de tudo para dar uma boa educação aos filhos.
Já a minha irmã, muito mais nova, teve uns pais presentes, "fixes" mais uns quantos "pais" (irmãos mais velhos). Mas queixa-se por ter pais "velhos" (velhos fisicamente mas muito mais presentes).
Sei que a minha maneira de ser foi condicionada pela infância. Deve ser por isso que sou uma pessoa reservada e "desligada" da família/amigos (gosto do meu espaço), que duvido das minhas capacidades e que não gosto de pedir ajuda. Tenho receio de ser criticada.
Depois... fui mãe de dois meninos melgas (claro que tinham de ter rapazes). E percebo como custa educar os nossos filhos (os dos outros é muito fácil!)
Daqui a uns anos serão os meus filhos a queixarem-se do mesmo. :p
A nossa infância marcam nos muito, eu fui criada pelos avós, os meus pais eram casados e tinham uma casa e eu mesmo assim sai da maternidade directamente para a casa dos meus avós maternos, foi a melhor coisa que aquelas 2 almas fizeram, nunca me faltou atenção e amor dos meus avós mas e claro q me sentia abandonada pelos meus pais. Maior ia passar fins de semana com eles, a minha mãe nunca teve paciência para mim, nunca fazia nada comigo de bom grado, após o divórcio deles a minha mãe foi viver comigo nos meus avós e adoeceu pouco tempo depois, tinha esclerose múltipla, eu era muito nova tinha 14 anos quando foi lhe diagnosticado, nestes entretantos o meu pai arranjou uma nova família e nunca mais quis saber de mim até hoje que não contacto. A minha mãe foi internada numa unidade de cuidados continuados durante muitos anos ate ao mês passado que faleceu. Sempre a acompanhei sempre a visitei, diariamente ate engravidar. Dava lhe as refeições e sofria com as dores dela. Fui certamente melhor filha do que ela foi alguma vez mãe, mas fiz o que achei que devia fazer porque ela não tinha mais ninguém. Tenho esta mágoa e vou ter sempre, de não ter tido pais presentes que podiam estar. Os meus avós fizeram tudo por mim a maior dor na minha vida foi perde los, mas ja tinham idade tratei da minha avó também sinto que passei a minha vida a tratar dos outros.
Não gosto de me recordar da minha infância. O pouco que recordo não são memórias felizes.
Praticamente criei-me sózinha, tive de crescer muito cedo.
Mesmo assim, tenho muiito amor à minha mãe (neste momento com 88 anos) , com quem estabeleci um vínculo forte após a morte do meu pai, quando eu tinha 12 anos.
Não foi fácil e tentei proporcionar uma infância totalmente diferente à minha filha . Penso que consegui.
Blonde
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Madrinha e afilhada orgulhosa da Nelia02
Somos uma sociedade mt machista. Tambem n tive uma infancia mt feliz, por isso n deixo os meus filhos nem com os meus pais nem com os meus sogros (q aparentemente tb n foram bons pais e mostram mt raiva em relacao a mim e aos netos)
Tambem era a mais nova, e sempre senti ser um backup no caso do meu irmao falhar.
Nunca me deram grande suporte ou ajuda ou acompanhamento.
os meus avos foram a minha referencia de amor incondicional.
hoje em, dia tenho um relacionamento 'saudavel' com os meus pais, mas com distancia... a distancia 'e fundamental para o meu equilíbrio emocional.
n lhes nego ajuda/suporte, pq sou mm assim, mas tb n julgo quem abandona os pais... bem sei o q pode estar por detras de tanta magoa.
abraco