Eu, fui educada por um pai e uma mãe, que pura e simplesmente, nunca me bateram. Deve ter funcionado mais ou menos porque não me sinto muito mal com a minha educação em lado nenhum.
A minha filha mudou para uma escola onde os miúdos são de uma agressividade tal que só a polícia os separa porque atiram com as auxiliares ao chão e não poucas vezes tem de ir uma ambulância buscar miúdos que levaram, como no exemplo mais recente, com uma cadeira.
"A culpa é dos pais", "a culpa é dos professores", "a culpa é das auxiliares"... "os miúdos hoje em dia são assim"... é fácil atribuir culpas, faz parte da mesma completa falta de empatia que culmina em miúdos que batem num porque é negro, ou gordo, ou usa óculos, ou sei lá porquê...
Para mim a culpa é irrelevante porque em última análise a culpa é de todos. Todos somos responsáveis, todos fazemos parte desta história triste na qual as pessoas se violentam e torturam verbalmente, psicológicamente e fisicamente porque andam inseguras, irritadas e principalmente porque não vivem o que querem ensinar e portanto sai tudo ao contrário.
Ouvi sempre adultos a dizer às crianças que não resolvem as coisas a mal. Não é a bater, não é a gritar. Imensas vezes ouvi isto de pessoas que estavam, entretanto, a gritar, fora as vezes em que estas frases se seguem a uma palmada no rabo.
A responsabilidade é de todos nós, que assistimos sem refilar a uma televisão com imensos canais sobre crime e autópsias, a novelas onde anda tudo sempre à batatada, a noticiários que abrem sempre com a notícia mais sinistra que houver...
Somos responsáveis porque estamos demasiado habituados e des-sensibilizados para a violência com que tudo ainda se resolve entre as pessoas.
Violência psicológica no trabalho, nas famílias. Violência verbal nas casas, nas ruas, nos automóveis. Violência física para nos fazermos respeitar... É por toda a parte. Heróis que o são porque esmurram com eficácia, nem vou comentar a febre do wrestling.. "porque aquilo é a fingir" e a fingir já está bem...
Temos de ser coerentes. Eu às vezes grito. Nunca bato. Mas às vezes grito. E peço desculpa. Eu até posso ter toda a razão no que digo mas se o faço numa gritaria, a minha filha um dia vai resolver as suas coisas aos gritos, talvez comigo até.
Nunca houve tantos casos de hiper-actividade, nem de miúdos com adolescências malucas e nós cada vez com menos paciência para os perceber, os psicólogos que os entendam, os psiquiátras que os mediquem...
Isto é uma situação de todos.
Agora temos bebés, mas todos vão ser crescidos e há aqui muitas mães de adolescentes e de miúdos mais crescidos.
Sei de mães que tiveram o drama de ver os filhos aparecer em casa escondendo os resultados das escaramuças nas escolas...
A próxima vez que nos apetecer gritar num miúdo, ou bater-lhe "muito controladamente e para o seu bem" porque a ele doi menos que a nós e essas tolices de quem não consegue argumentos melhores para esconder o facto de que de vez enquando perde a cabeça e pronto... por favor, vamos pensar como gostaríamos que os miúdos fossem, e depois tentemos ser da mesma maneira.
A violência não se apanha do ar, não é sempre culpa dos outros todos. A violência vive nas nossas casas, e nas outras casa todas e nós deixamo-la existir como se fosse feita de amor, de respeito, de carinho... esse que às vezes não existe nas casas todas e às vezes na nossa bem podia haver mais...
Pensem nisso.
Eu penso muito.