Decidi partilhar porque há coisas que todos os pais e mães devem saber quando têm filhos (ou quando estão a pensar ter um). E há atitudes que muitas vezes se tomam por desconhecimento ou em desespero de causa mas que têm graves consequências para os nossos filhos.
Vários excertos do livro «Dormir sem lágrimas» de Rosa Jové (capítulo 4), tradução livre.
O que NÃO se deve fazer para ajudar uma criança a dormir:
«Deixar chorar seguindo uma tabela de horários é um castigo segundo as leis da aprendizagem. Não se deixem enganar: não estamos simplesmente ignorando a criança. Através do abandono e do medo estamos a castiga-la pela sua conduta.
Foram vários os autores que atribuíram a si próprios a invenção dos métodos para fazer as crianças dormir com base na premissa “deixá-los chorar”. Ao princípio só se tratava disso: deixá-los chorar e pronto. Mas pouco a pouco (e para conferir uma matiz mais científica a essa forma de tortura) estruturaram-nos mais, “deixá-los chorar segundo uma tabela de tempos”.
Pela minha experiência, não há qualquer diferença em relação a estes métodos – porque nem se trata de um método – trata-se somente de deixar chorar as crianças até que se cansem. O “êxito” depende de variáveis como a idade do bebé, o seu temperamento e a duração da aplicação do método (há crianças que tiveram que ser deixadas a chorar sozinhas mais de um mês para se notar alguns efeitos. Curiosamente, no que toca à saúde mental os efeitos notam-se antes).
Os métodos para ensinar a dormir existem desde há décadas. Trata-se de deixar chorar as crianças para que aprendam a não se queixar numa determinada situação. Cada autor fez as suas próprias alterações, alterando apenas o nome mas o funcionamento não difere de forma significativa.
Há estudos em que não se encontrou qualquer diferença entre deixar as crianças chorar sozinhas ou segundo uma tabela. As diferenças aparecem em função da idade: quanto mais pequenos, maior o choque emocional, por isso estes métodos são mais eficazes com bebés.
«A sobredosagem de hormonas do stress em fases tão precoces da vida pode inibir a hormona do crescimento» (S. E. Taylor, 2002).
Subsiste «(…) a ideia de que os nossos filhos nos pertencem e que, portanto, temos o direito de tratá-los como nos apetecer. Não existe qualquer direito legal que os proteja de ser torturados por mães que os deixem chorar sozinhos sem ter em conta o seu sofrimento.» (Liedloff, 2003)
Primeiro fizeram-lhe crer que o seu filho tem uma grave patologia e que, se você não lhe põe fim, vai durar a vida toda e vai condicionar a altura, peso e currículo académico do bebé. Segundo, que como progenitor deve educar o seu filho segundo o lema «o fim justifica os meios», pelo que qualquer coisa serve quando se trata de educar um filho.
Segundo Barudy, se cada adulto tivesse presente na sua memória a sua própria infância, isso deveria permitir-lhe identificar-se com os filhos e as suas necessidades. Mas, devido a diversos factores, os adultos esquecem-se com rapidez que as crianças têm necessidades específicas e por isso podem interpretar mal as suas acções, se alguém assim lhe fizer crer.
«Portanto, uma das formas pela qual a mãe ou o cuidador principal tentará contornar esta situação, é negando as necessidades do seu bebé e decidir, por exemplo, que não está cansado, com fome ou com alguma dor. Responde distanciando-se do estado emocional do bebé (…), dando a sua própria leitura ao que o bebé vivencia.»
Estes métodos baseiam-se em fazer-lhe crer que o seu filho tem toda a culpa do que se passa. E não só a culpa, mas que também o faz com a intenção de o incomodar. Daí que eu pense que os pais que aplicam estes métodos são, tal como os filhos, vítimas desta montagem.
Trata-se de proibir coisas normais para as crianças, como cantar, embalar, dar a mão. (…) Regras muito inflexíveis a que se devem obedecer sem falhar.
As crianças que choram e não são atendidas o mais depressa possível podem chorar desesperadamente até que a amígdala [região do cérebro] colapse. Como a natureza é sábia e sabe que o corpo não resistiria muito tempo numa situação como esta, compensa-a com a segregação de substâncias de carácter opiáceo: endorfinas, serotonina..., que fazem baixar o sistema de alarme.
Portanto, se para o seu filho já era hora de dormir e já passou um tempo a chorar (o que acresce em cansaço) e acaba de receber uma injecção brutal de opiáceos, o normal é que caia rendido e durma. Esta é a essência dos métodos para dormir. Mas não se engane: não aprendeu a dormir, simplesmente está “auto-drogado”.
Quanto mais pequena é a criança, mais se assusta. Você crê que se aplicasse este método a um adolescente iria funcionar? Pois não, porque dificilmente se assustaria tanto a ponto de provocar este choque.
Por isso estes autores não se cansam de repetir que se não solucionar o problema antes dos cinco anos, depois será impossível.
Através de sucessivas “experiências” como esta, o bebé irá aprender, por um lado, que ninguém se importa com ele, que as suas necessidades não merecem atenção (baixa auto-estima) e por isso muitos deixam de protestar. Por outro lado, acredita-se que a descarga destas substâncias no cérebro de forma sucessiva é a causa da redução da produção normal de serotonina e da insensibilização da amígdala. Isto está relacionado com depressões pois a amígdala é o centro emocional do cérebro. (…) Além disso, um baixo nível de serotonina é um dos indicadores mais importantes de violência em animais e humanos, e está relacionado com taxas elevadas de homicídios, suicídios, distúrbios psicológicos e sociais, automutilações e agressividade.
Tudo isto levará a que, dentro de algum tempo, a criança se deite e durma sem dizer nada. Mas nem por um momento pense que aprendeu a dormir, somente a dopar-se e autodrogar-se.
Paralelamente a tudo isto, aumenta o nível de cortisol, que é a hormona do stress por excelência. Quando o cortisol está elevado e a serotonina também, produzem-se vómitos involuntários! Se algum destes autores lhes disse que as crianças vomitam porque querem chamar a atenção, enganaram-no. Neste estado de choque, o vómito acontece com muita facilidade.»
(Depois venho cá completar com as várias consequências da aplicação destes métodos, a médio e longo prazo).