Boa noite a todas.
Nunca pensamos que teremos que utilizar esta área do fórum até que.. Bom, descobri esta semana, no dia do meu aniversário, que tinha tido um AR às 10 semanas.
No dia 04/12 recebi os resultados do rastreio bioquímico (sem a análise de risco) pois apenas iria fazer a eco às 12 semanas. Chamou-me a atenção o valor da betaHCG estar fora dos parâmetros, isto é, muito abaixo do 5º percentil para a semana de gestação (tive um valor de 6.1 e o mínimo seriam 16.50).
Nesse mesmo dia resolvi ir às urgências dos Lusíadas e como me disseram que o médico que me iria seguir na gravidez (tinha consulta marcada na semana seguinte) ainda estava a dar consultas fomos falar directamente com ele.
Disse-me que não tinha motivos para me preocupar, mal olhou para o papel ou sequer analisou os valores e segundo o mesmo, aqueles valores apenas serviam para analisar o risco em conjunto com a ecografia.
Por ser um médico muito tranquilo, a verdade é que saí de lá mais calma e a pensar que estaria tudo bem. Não me fez qualquer ecografia, que era o nosso objectivo quando fomos para o hospital.
No entanto, no dia seguinte de manhã acabei por ir fazer análises e medir o betaHCG (mesmo sem prescrição), tal como fiz quando descobri que estava grávida. Na verdade, fi-lo por descargo de consciência e por saber que não faria mal ao bebé mas nos iria tranquilizar até à semana seguinte em que faríamos a ecografia das 12 semanas.
Nesse dia fazia anos e perto das 18h recebo o resultado via email: 5000 era o valor do betaHCG! O valor de referência mínimo nas 11 semanas seria entre 15000-200000.
Fomos direitos para o hospital e desta vez só saíriamos com uma ecografia feita. O meu sexto sentido dizia-me que algo não estava bem com o meu bebé mas queria acreditar que poderia ser resolvido no hospital.
Quando expliquei à médica o motivo que me levava ali e lhe mostrei os resultados das duas análises, ela não me pareceu muito preocupada mas pediu-me para me despir e fazermos então a ecografia.
Foi aí que o meu mundo parou... Quando ela nos disse que não conseguia ouvir o coração. Pediu a outra médica que visse também e nada.. não haviam batimentos nem movimentos.
Nem queria acreditar que 15 dias antes tinha ouvido o coração do nosso bebé, e o tinha visto a mexer-se apesar de ser tão pequenino. Neste dia, não consegui pensar em mais nada e apenas queria ir para casa chorar o meu bebé, os sonhos e as expectativas de tudo o que já tinhamos planeado.
No dia seguinte, e a tentar perceber os passos seguintes, liguei para o consultório de uma GO que já tinha conhecido e que tinha sido recomendada e repetiu a ecografia e foi então que vimos que o bebé tinha más formações e possivelmente problemas cardíacos que teriam levado à sua morte.
Sabemos que seria mais difícíl se tivessemos descoberto às 12 semanas, e teríamos tido que fazer amniocentese e esperar 15 dias pela confirmação até termos que tomar uma decisão. No meio do pesadelo, sentimos ali uma certa paz pois teria sido tão mais doloroso da outra forma.
Em conversa com a médica, decidimos esperar 6 dias pela expulsão natural, não só por nos parecer melhor fisicamente, como por não poder tomar o cytotec (misoprostol que é contra indicado para asmáticos, que é o meu caso). A alternativa, caso não se resolvesse naturalmente, seria a aspiração e em último caso a raspagem.
Dois dias a seguir o sangramento começou a aumentar e vieram as cólicas e as contrações, que se tornaram mais fortes e frequentes. Tomei chá com canela por ter lido que podia ajudar a acelerar o processo e coloquei uma botija de água quente sobre a barriga. De repente senti como um rebentar de águas e só tive tempo de correr para o wc. Era líquido amniótico e sangue e a partir daí iniciou-se a expulsão.
Terá durado 1hora penso, e pareceu-me uma eternidade. Tinha prometido que não iria chorar mais e naquele momento chorei como uma criança pequena pois sabia que era o final destes quase 3 meses de gestação e o meu corpo estava a encarregar-se de tudo. Tive que usar umas cuecas absorventes e pensos largos e absorventes durante as 24h seguintes. A hemorragia foi diminuindo e hoje já é muito pouca (sobretudo quando vou ao wc).
Amanhã vou fazer nova ecografia para vermos se foi tudo eliminado.
Foi a primeira gravidez e o primeiro aborto.. e apesar de saber que 1 em cada 5 mulheres passam por isto, não sei como me preparar para uma nova gravidez. Os médicos indicam habitualmente que o melhor é esperar 2 ciclos e pelo que li, é comum ser rápido engravidar novamente.
Tivemos muito cuidado em contar apenas à família próxima e 1 ou 2 amigos por sabermos que o risco no 1º trimestre é tão elevado. Mas confesso-vos que nem por um segundo imaginei que seríamos "mais um caso". Fui sempre optimista e por ser um bebé muito desejado, apenas não conseguimos conter as nossas expectativas. No dia em que descobri o AR, tínhamos ido visitar algumas creches e tínhamos planeado comprar o bercinho agora no Natal.
Este ano de 2018 foi um ano difícil para mim e para a minha família, pois perdemos um elemento que amávamos muito em Junho deste ano. Em Julho casei e em Outubro descobri que estávamos à espera do nosso primeiro filho. Dizem-nos que da próxima vez tudo será diferente e sei que a perda é muito recente mas gostava muito de saber as vossas experiências.
Queria perguntar-vos, a quem passou por isto, até mais que uma vez, como lidaram com os medos, se fizeram algo de diferente para gerir as vossas expectativas. Que tipo de cuidados (alimentares, vitamínicos, outros) tiveram na segunda gestação? Como lidaram os vossos companheiros com a situação?
Como foi a vossa segunda gestação?
Obrigada a todas e um abraço grande a todas as que estão a vivenciar esta perda ou passaram por isso.