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Vamos brincar?

Vera RamalhoVera Ramalho, Psicóloga com especialização em psicoterapia e diretora do Psiquilibrios.


Uma das formas mais eficazes de criar relações positivas entre os pais e as crianças é através dos momentos de brincadeira. Tal acontece porque quando os pais se envolvem em brincadeiras com os filhos, longe das suas tarefas, a relação é temporariamente mais igualitária. Quer dizer, em vez da habitual relação hierárquica, em que o pai/mãe domina, na situação de brincadeira, educador e criança divertem-se como iguais. Sendo certo que, neste momento, o educador deve seguir as pistas dadas pelas crianças.

Como acontece em qualquer relação, este momento de reciprocidade serve para construir intimidade e confiança. Aquilo que a investigação sugere é que, o brincar e as suas várias fases são a preparação para as aprendizagens mais permanentes e necessárias em outros períodos de vida. Ainda mais importante, ao fim de pouco tempo, registam-se melhorias em termos de humor, redução das birras, das chamadas de atenção e um aumento na autoestima e na satisfação dos pequenos.

É importante lembrar que as crianças aprendem através do jogo. É durante a brincadeira que põem as suas ideias em prática, correm riscos, experimentam diferentes papéis, partilham sentimentos e pensamentos. Além disso, o facto dos pais brincarem com as crianças fomenta sentimentos positivos em relação a si e contribui para motiva-las para a aprendizagem. Nunca é demais relembrar que as crianças também aprendem através do jogo.

Muitos adultos alegam falta de tempo como um dos motivos para não brincarem com os seus filhos, mas outros admitem que não o sabem fazer. Não é preciso nada demais, apenas deixar-se guiar pela criança e lembrar-se que ao brincar, os pais irão ajudá-las a resolver problemas, a experimentar ideias e a desenvolver a imaginação.


Vamos Brincar? - Artigo DMPM de mae para mae


Ficam aqui algumas ideias para brincar, brincar e brincar!

Agarrar – Entre os 4 e os 5 meses o bebé tende a segurar os objetos, agarrando-os quando estão ao seu alcance. Ri e emite sons ao brincar, soltando gritos de alegria. Os pais podem entrar na brincadeira e promover o contato do bebé com brinquedos e objetos com diferentes formas e texturas.

Puzzles e construções – Desenvolvem a motricidade fina, a imaginação, a capacidade de planeamento, a resistência à frustração, o raciocínio lógico-abstracto. Aos 18 meses o bebé gosta de transportar blocos de construção pela casa, bate-os uns contra os outros, constrói uma torre com 3 ou 4 cubos. Tudo isto pode ser fonte de gargalhadas!

Brincar ao faz de conta – Surge por volta dos 2 anos e meio e permite que a criança experimente diversos papéis, desenvolvendo a imaginação e as suas competências sociais. Deixe que a imaginação e os sonhos do seu filho conduzam a brincadeira e ambos vão ver que serão momentos de pura diversão. O faz de conta é a reprodução de situações sociais que permitem aos mais pequenos uma maior compreensão do mundo, mas também deles próprios.

Ler – A leitura também pode ser uma forma de brincadeira, porque não? É muito saudável, traz benefícios e fomenta o hábito da leitura na criança. Há muitas famílias com o hábito de ler à noite, mas durante o dia também é importante e podem recorrer a histórias divertidas que a noite poderiam dificultar a calma necessária para a criança adormecer.

Para os bebés recomenda-se livros que promovam a curiosidade, com cores, formas e texturas. Por exemplo, livros interativos.

Para os mais crescidinhos, entre os 3 e os 5 anos os livros que falam sobre as emoções são importantes porque ajudam a identifica-las e expressá-las, algo que deveria ser mais desenvolvido na escola, mas não é.

Ar livre – Qual é a criança que não gosta de brincar ao ar livre? Neste ambiente promotor da estimulação multisensorial é divertido subir às árvores, correr, saltar e jogar a bola. Além disso, não há ambiente melhor para conhecer a existência das flores, árvores, solos e animais, promovendo a construção da sua curiosidade, espírito crítico e dos seres vivos. Por outro lado, sendo uma brincadeira livre, ajudará no desenvolvimento do equilíbrio, ocupação espacial, avaliação do risco, resolução de problemas, entre outros. Estes factores serão essenciais mais tarde para as aquisições académicas.


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Falar sobre sentimentos - Brincar com adultos estimula na criança a aquisição de vocabulário, permitindo que as crianças aprendam a comunicar os seus pensamentos, sentimentos e necessidades. Por outro lado, ajuda-as a interagir socialmente, ensinando-as a esperar pela sua vez, a partilhar e a ser sensíveis aos sentimentos dos outros. Ao brincar com os seus filhos pode ainda aproveitar para estimular os sentimentos de auto-estima e competência. Mas como? Deixo três ideias:


  • Faça perguntas sobre sentimentos – Perante uma situação real ou inventada, pergunte a criança o que sente ou como se sentirá a outra pessoa envolvida na situação; Encoraje os seus filhos a reflectirem sobre o que sentem quando confrontados com um problema. Incite-os a pensar sobre o ponto de vista da outra pessoa. Pode perguntar, por exemplo: “Como achas que se sentiu a Maria quando tu lhe bateste?”
  • Incentive as crianças a falar à vontade sobre os seus sentimentos - As crianças devem ser ensinadas a controlarem o seu comportamento, não os sentimentos. Além disso, é bom saberem que apesar de nem sempre ser correto seguir impulsivamente os nossos sentimentos, é sempre bom falar sobre eles, e que todos os sentimentos são normais e naturais. Ensine-lhes o auto-diálogo positive, como “Respira fundo, devagar...”, “Procura pensamentos mais alegres”, “Eu sou capaz de me acalmar”, “Eu tenho outros amigos que gostam de mim.”


Artigo originalmente publicado na segunda edição da Revista De Mãe para Mãe, em janeiro de 2020.

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