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O que é uma Doula?

Ana Luísa Bárbara Doula

Ana Luísa Bárbara

Ana Luísa Bárbara é mãe de três meninas e fundadora da Braga Materna, um espaço que acompanha famílias antes e após o nascimento, e também Doula. Agora que tanto se ouve falar deste termo, Ana explica-nos a sua função. 

 

O que é uma Doula?

É fundamental começar exatamente por esta pergunta, pois é importante desmistificar o que é uma Doula. Ainda existe a ideia de que a Doula faz partos em casa e há tendência para confundir o seu papel com o da parteira. A Doula apoia o casal durante toda a gravidez, durante o parto e também no período pós-parto, através de encontros onde percebe quais os desejos do casal, sem nunca realizar qualquer procedimento clínico. É importante referir que a Doula não projeta no casal aquilo que é a sua crença pessoal; acolhe, sim, os desejos do casal, ajudando-os na procura de informação e esclarece, sempre, as suas dúvidas.
Especificamente no momento do parto, é importante referir que o papel da Doula e da Parteira são completamente diferentes. Cada uma tem as suas funções, que acabam por se complementar muito bem. A Doula presta um apoio mais emocional, embora possa também prestar algum apoio a nível físico, ajudando a grávida com algumas técnicas para o alívio da dor, no caso de ser um parto natural.

Porque é que o casal procura uma Doula?

No meu caso, as pessoas que me procuram, por norma, vão ter já a segunda experiência de parto. Muitas vezes, sentem que no primeiro parto alguma coisa falhou e que não tiveram a experiência que desejavam. Com a nova gravidez, procuram que esta “viagem” seja mais consciente, mais responsável, principalmente porque existe um compromisso maior com a pesquisa de informação e com a tomada de decisões – e é aqui que a ajuda de uma Doula pode ser mesmo muito útil.

Fala-me em pesquisa de informação e tomada de decisões. Neste campo, a Doula pode ajudar/aconselhar em diferentes áreas, como, por exemplo, a nutrição?

Não! Nesse sentido oriento para algum profissional que eu conheça, confie, e que eu sinta que pode acompanhar a grávida e que vá ao encontro daquilo que esta mulher espera.

Como funciona este tipo de acompanhamento?

Normalmente faço 4 encontros durante a gravidez, sendo que o primeiro é informativo. Depois existe o momento do parto, e faço ainda mais dois encontros no pós-parto, aqui com vista a apoiar a amamentação. Fora estes encontros presenciais, estou sempre em contacto com o casal e disponível para esclarecer qualquer dúvida.

Maria Ribeiro

Quando um casal escolhe uma Doula, o que deve ter conta?

A empatia – é muito importante que exista uma “química” entre o casal e a Doula. Aliás, eu acho muito importante o casal conhecer várias Doulas, para que possa escolher aquela em que realmente confia. Não nos podemos esquecer que a Doula vai estar no parto, que para além de ser um momento único, é também um momento muito íntimo. Convém também que seja uma escolha do casal e não apenas da mulher.

Por norma, quando é que o casal procura a ajuda de uma Doula?

Depende, mas normalmente numa fase inicial da gravidez, algumas vezes até antes de completar o primeiro trimestre. No meu caso, até já tive várias mulheres que me procuraram mesmo antes de estarem grávidas. Mas é muito importante deixar a mensagem que nunca é tarde para procurar uma Doula!

Porque que é que é tão importante contar com a ajuda de uma Doula?

Eu acho que uma Doula nem sempre é essencial, e embora existem casais para quem ter uma Doula faça todo o sentido, não é toda a gente que sente esta necessidade. Acho que toda a gente deve procurar informação válida, ler muito, pesquisar, visitar hospitais (pelo menos dois)… Agora, se o casal sente que a Doula os pode ajudar a terem a experiência que desejam, aí sim, faz todo o sentido procurar uma.
No caso específico da mulher, quando se sente mais insegura, uma Doula pode ser uma grande ajuda. As mulheres acabam por se apoiar muito umas nas outras e uma Doula transmite conforto e carinho, acabando por se tornar um elemento muito familiar. Acaba por ser um grande apoio, principalmente no momento do parto em que a mulher sabe que está ali aquela pessoa em que ela pode confiar. Acaba por ser uma segurança – não é que o marido não seja, claro – mas a Doula acaba por ter um papel completamente diferente, porque nós (Doulas) conseguimos distanciar-nos de ver a mulher em sofrimento (coisa que o marido nem sempre consegue fazer) e sabemos o que a mulher precisa naquele momento.

Maria Ribeiro

Gostava de perceber a sua história: como é que chegou a este momento?

Bem, eu fui mãe em 2014. Na altura vivia e trabalhava em Lisboa e durante a gravidez nem me passava pela cabeça fazer o curso de preparação para o parto. Na altura trabalhava na minha área de formação (Tecnologias e Sistemas de Informação), alocada a um cliente, mas devido a uma fusão, fui transferida para a sede da empresa. Como já estava grávida de seis meses e meio, não me conseguiram alocar a nenhum projeto e acabei por ficar de baixa. Na altura, para não ficar parada, comecei à procura de soluções e encontrei um centro em Lisboa onde comecei a fazer exercício e onde fiquei tentada a fazer o curso de preparação para o parto, que até à altura não tinha ideia nenhuma de fazer. Comecei o curso às 35 semanas e terminei às 38. Acabou por ser esta experiência que me inspirou, já mais tarde, a abrir o meu próprio espaço mas, acima de tudo, que me fez perceber que este mundo me era muito intrínseco, o que me levou a voltar no pós-parto para fazer vários workshops. E eu, que só tinha o meu marido em Lisboa, acabei por ter ali uma grande rede de apoio, porque de outra forma teria ficado muito isolada nos meses de licença. Isto ajudou-me muito, tornou a experiência espetacular e não fiquei isolada, o que vejo acontecer a muitas mulheres. Aliás, algumas das mulheres que me procuram relatam-me esse isolamento e pode ser mesmo extenuante, pois acabam por nem ter ninguém para desabafar. E, no fundo, era isso que nós fazíamos; nós estávamos todas juntas, com filhos, a viver exatamente a mesma fase da vida. Portanto, as minhas dúvidas, receios e noites mal dormidas tinham os mesmos motivos da das outras mães. Esta experiência, para mim, foi fundamental.
Um ano depois, viemos para Braga. Eu estava muito descontente com o meu trabalho, estava muito infeliz e stressada, e foi aí que decidi abrir o meu próprio espaço – o Braga Materna. A partir daí, comecei a tirar formações em várias áreas – amamentação, Doula, BabyWearing… - e participo sempre que posso em diferentes congressos, para estar em constante atualização.

Ao longo do seu percurso como Doula, há algum momento que a tenha marcado em especial?

Os partos que acompanho. Eu nunca me imaginei a ver um bebé nascer, sem serem os meus. Portanto, ver um bebé nascer nesta perspetiva é muito bom.

No seu centro, o Braga Materna, que tipo de acompanhamento é que asseguram?

Para além de Doula, sou conselheira de aleitamento materno e assessora de lactação. Tenho também formação em Babywearing, embora não seja eu a fazer a consulta atualmente. Temos também Fisioterapia na saúde da mulher, cursos de preparação para o parto com a enfermeira parteira, atividades para bebés desde os 3 meses, workshops de montessori, nutrição… Vamos sempre tentando diversificar a oferta.

Maria Ribeiro

Acha que cada vez mais os casais procuram tomar decisões informadas?

Sim, acho que sim. Muitas vezes isto acontece num segundo filho, porque a primeira experiência de parto não foi bem aquilo que esperavam. Foi o que me aconteceu a mim: o meu primeiro parto foi horrível e eu não estava preparada. A informação que me deram durante o curso de preparação estava correta, mas não estava informada sobre o que poderia acontecer na maternidade. No geral, e não só na obstetrícia, acho que nos falta muita informação para nos podermos questionar e debater, quando necessário. E na verdade, a forma como se nasce marca a vida da mãe e do bebé.

Atualmente, como é que acha que a sociedade vê o papel da Doula?

Junto das família e dos casais já é bem aceite, embora nem toda a gente perceba o que é exatamente uma Doula. O panorama está a mudar, embora de forma lenta, e esta mudança tem sempre de partir das pessoas. Acho que todo o sistema acompanhará esta mudança, se esta partir de nós.

Artigo originalmente publicado na primeira edição da Revista De Mãe para Mãe, em outubro de 2019.

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