Está a alimentação do meu filho a comprometer a sua fala? | De Mãe para Mãe

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Está a alimentação do meu filho a comprometer a sua fala?

Ouvir as primeiras palavras de um filho é um dos melhores sentimentos que os pais poderão experienciar. Mas sabia que a alimentação do seu filho pode influenciar o desenvolvimento da fala? De facto, todos os músculos usados no processo de alimentação, incluindo a ação de trincar e mastigar, são os mesmos implicados na produção de fala.

Como?

Durante o primeiro ano de vida, a dieta do bebé acontece de uma forma contínua no que respeita à inclusão de diferentes consistências na sua alimentação. Este processo inicia-se com a ingestão de líquidos até à introdução de alimentos sólidos. Os novos alimentos permitirão à criança, para além do aporte nutricional essencial para o seu crescimento, o desenvolvimento neuromuscular de estruturas orofaciais como lábios, língua, bochechas e mandíbula, uma vez que diferentes consistências exigem e estimulam diferentes competências motoras orais, que são importantes para o processo de articulação.

Um atraso na introdução de novas consistências ou a sua não introdução, poderão comprometer a correta articulação dos sons da fala justificada por fraca força muscular ou por alterações no movimento da musculatura orofacial. Para além disso, este atraso poderá contribuir para maiores dificuldades futuras na aceitação de novos alimentos.

Vejamos alguns exemplos:

Quando uma criança retira um puré da colher com os lábios e encerra os lábios para manter o alimento dentro da sua boca está a aumentar a força e a melhorar a função dos seus lábios. Estas competências são essenciais para a produção de sons bilabiais: /p, b, m/.  Do mesmo modo, quando mastiga esse puré, tende a recrutar sobretudo a língua, que realiza diferentes movimentos de anteriorização, posteriorização, elevação e depressão, que auxiliarão a criança na produção dos sons /t, d, k, g/, por exemplo. O facto de a criança conseguir retirar com a língua algum alimento que tenha ficado nos lábios, possibilitará o desenvolvimento de competências de elevação do ápice da língua (ponta da língua) que facilitarão a produção dos fonemas /l e r/. Por sua vez, os alimentos sólidos, ao exigirem movimentos de rotação da língua e um aumento da força mastigatória, contribuirão globalmente para a adequada função muscular e correta articulação dos sons da fala.

O meu filho alimenta-se corretamente, mas continua a ter dificuldade em falar. Porquê?

É importante compreender que os atrasos na produção de fala nem sempre são explicados por alterações a nível muscular, podendo apresentar uma causa linguística. Perante um atraso na fala deverá consultar sempre um Terapeuta da Fala para esclarecer as suas dúvidas e preocupações.

Por que motivo o meu filho tem dificuldade em alimentar-se?

Algumas crianças podem apresentar dificuldade no momento da alimentação por diversos fatores, entre eles, dificuldades no desempenho das funções da mastigação e/ou deglutição, alterações sensoriais ou alterações comportamentais. É fundamental a avaliação clínica especializada de modo a compreender a causa das limitações observadas para que a criança possa usufruir de aconselhamento/acompanhamento pelo profissional mais adequado.

Marta Sousa, Terapeuta da Fala

Marta Sousa licenciou-se em Terapia da Fala pela Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, em 2011. É pós-graduada em Motricidade Orofacial pelo Instituito EPAP e Mestranda em Informática Médica pela Faculdade de Medicina e Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Realizou ainda formação complementar em áreas relacionadas com: Surdez, Perturbação do Espectro do Autismo, Dificuldades de Aprendizagem, Dispraxia Verbal do Desenvolvimento, Gaguez Infantil, Disfagia Orofaríngea, entre outras.

Atua junto de crianças com perturbações da comunicação, atrasos ou perturbações de linguagem, dificuldades de aprendizagem, e dificuldade na produção de fala: articulação, gaguez e voz. Na sua intervenção privilegia o trabalho em equipa, considerando este um dos aspetos fundamentais para o sucesso da intervenção. A criança é encarada como um todo, sendo por isso fundamental saber ouvir as necessidades das famílias e partilhar com estas, educadores, professores e outros membros pertencentes à equipa, estratégias que potenciem o seu desenvolvimento.

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