Hugo Rodrigues, Pediatra e Fundador do Blogue "Pediatria para todos"
As cólicas dos bebés são um dos maiores receios dos pais antes do nascimento dos filhos, e se, em grande parte das vezes, esse receio não se confirma, há algumas situações em que ele se torna uma realidade. Nesses casos, é importante perceber o que se pode fazer para ajudar a resolver a situação.
O que são as cólicas?
A definição de cólicas é um pouco subjetiva, embora do ponto de vista médico se utilize a chamada “Regra dos 3”: inclui os bebés que choram mais de 3 horas por dia, mais de 3 dias por semana, mais de 3 semanas por mês, e até aos 3 meses.
Na prática, não é preciso contabilizar de forma muito rigorosa todos os episódios de choro, portanto, as cólicas costumam ser entendidas como os episódios de choro súbito que surgem num bebé saudável e a evoluir bem de peso (este aspeto é fundamental, para garantir que o bebé não chora por fome!) e que, fora desses episódios, se encontra perfeitamente bem e sem razão aparente para o choro.
Existem muitas teorias para tentar explicar o motivo pelo qual surgem as cólicas, mas, na realidade, não se sabe muito bem qual a verdadeira causa. Pensa-se que, na maior parte dos casos, estarão relacionadas com alguma acumulação de gases a nível intestinal, por imaturidade do próprio intestino e, efetivamente, a maior parte dos medicamentos atua nesse sentido. No entanto, haverá seguramente alguns casos em que a causa não é essa e, provavelmente, isso justifica a ausência de resposta às medidas mais convencionais.
De modo geral, começam a partir da terceira ou quarta semana de vida e prolongam-se até aos 3-4 meses, altura a partir da qual acabam por passar espontaneamente, sem necessidade de nenhum tipo de intervenção. Importa apenas reforçar a ideia de que, numa minoria de casos, podem prolongar-se durante mais tempo, embora essa não seja a evolução mais habitual.
O que fazer em caso de cólicas
Tal como explicado anteriormente, as cólicas são situações que causam bastante ansiedade aos pais e, acima de tudo, provocam uma sensação de impotência pela dificuldade em aliviar o desconforto do filho.
Por esse motivo, é muito importante encontrar algumas soluções que possam ajudar a ultrapassar essa fase menos fácil (sim, a melhor notícia é que é mesmo só uma fase...). Se quisermos ser “apenas” científicos, a eficácia da quase totalidade das medidas que irão ser apresentadas não é comprovada de forma universal pelos estudos, mas a realidade é que também não apresentam inconvenientes, pelo que faz sentido serem testadas, sempre que a situação assim o justifique.
Deste modo, aqui ficam alguns conselhos que pode e deve tentar:
Contacto físico
Todos os bebés necessitam de contacto físico para se sentirem tranquilos e seguros. Por esse motivo, é sempre muito importante pegar no bebé ao colo e encostar a barriga dele ao seu peito ou ao seu antebraço, porque isso vai ajudar a aliviar o desconforto.
Massagens
Existem várias técnicas de massagem infantil, que não vamos detalhar neste artigo. No entanto, nunca é demais relembrar que todos os momentos de massagem implicam toque e contacto físico e, tal como referido acima, isso é fundamental.
Probióticos
De todos os medicamentos para as cólicas, são os que parecem apresentar uma maior eficácia. Contudo, é importante esclarecer que os probióticos não são todos iguais, pelo que deve haver sempre um aconselhamento médico prévio.
Medicamentos para os gases
Existem algumas opções no mercado com algum grau de eficácia, que podem ser testadas mediante aconselhamento médico.
Medicamentos para ajudar a digerir a lactose
A lactose é o constituinte competíeis materno que aparece em maior quantidade, a seguir à água. Por esse motivo, a maior parte dos bebés tolera bem a lactose, mas poderá haver alguns casos em que a digestão deste açúcar é mais difícil e, nesses casos, este tipo de medicação pode ajudar.
Infusões
Têm uma eficácia muito variável. A presença de funcho nestas infusões é extremamente controversa, porque pode ter algum efeito, mas também pode condicionar problemas futuros, pelo que deve sempre ser sujeita a aconselhamento médico prévio.
Como conclusão, gostaria apenas de reforçar a ideia de que as cólicas são um pouco aflitivas para todos, mas a boa notícia é que são temporárias. Vão passar com o tempo, seguramente. Até lá, faz sentido tentar ajudar com as “armas” que temos à nossa disposição.
Artigo publicado originalmente em julho de 2020, na edição #03 da Revista De Mãe para Mãe.
