Chegámos a casa... E agora? | De Mãe para Mãe

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Chegámos a casa... E agora?

Chegámos a casa... E agora?

Joana Prudêncio, Psicóloga ClínicaJoana Prudêncio, Psicóloga Clínica


Os primeiros dias nesta aventura da parentalidade podem ser confusos. Depois da saída da maternidade, os pais têm que lidar com esta ambivalência de sentimentos: as alegrias da recém-parentalidade em oposição aos muitos receios, em que os pais se veem sozinhos e se podem sentir perdidos, assoberbados com a ideia de voltar para o seu espaço com um pequeno ser que depende inteiramente de si.

Principalmente quando se trata do primeiro filho, é perfeitamente natural que os pais fiquem assustados até com os cuidados mais simples. Com o tempo, vão conhecendo o seu bebé e vão percebendo as suas necessidades (que serão cada vez mais fáceis de prever). Será um trabalho difícil, mas, partilhando alegrias e tarefas, os pais acabarão por descobrir que a felicidade de ver o bebé crescer em cada nova conquista faz tudo valer a pena.

Chegámos a casa... E agora?


Por onde começar?

Os pais voltam para casa num novo contexto e têm agora que se ajustar à imprevisibilidade desta nova etapa que se inicia. É essencial construir novas rotinas que facilitem o cuidar (de pais e bebé), respeitando, em primeiro lugar, os momentos de sono e de fome do bebé - essa rotina deve ser construída à volta das suas necessidades primárias.


As regras de ouro são as seguintes:


Dormir ou descansar quando o bebé dorme.

Tudo o resto pode esperar.

Os pais têm, acima de tudo, que aprender a ser flexíveis relativamente a todos os momentos, nomeadamente à hora das refeições (das suas), à limpeza e arrumação da casa e a todas as tarefas que possam ficar para segundo plano. Sem pressa, vão conseguir organizar essas novas rotinas de modo a integrarem esta nova realidade.

É muito comum os pais procurarem fórmulas no que respeita ao cuidar do bebé. Têm muito receio de fazer a coisa errada, de estragar o ser perfeito que trouxeram ao mundo. Aliás, estão tão concentrados em conseguir fazer o “certo” que, muitas vezes, se esquecem de parar para aproveitar os primeiros momentos com o recém-nascido. É nesta fase de encanto que se vão conhecendo, que vão aprendendo a reconhecer cada som e cada toque, e, claro, vão aprender a reorganizar-se nesta nova etapa das suas vidas – é importante aproveitá-la ao máximo.


Manter a boa comunicação entre o casal.

Se falarmos de um primeiro filho, três novos relacionamentos têm início: o de mãe-filho, o de pai-filho e o de mãe-pai, sendo este último, talvez, o mais complexo e desafiante. Este é, mais do que nunca, um momento de partilha entre o casal, tanto de tarefas como de emoções. A mãe precisa, essencialmente, que o pai olhe para ela e reconheça a sua vulnerabilidade, tanto física (na difícil recuperação do pós-parto) como emocional, e que tente compreender a intensidade desta relação com o seu bebé, tentando apoiá-la em tudo o que ela precisar. Ao mesmo tempo, apesar de totalmente embrenhada neste seu novo papel, a mãe deverá tentar olhar para o seu companheiro e perceber que também ele está a passar por um momento emocionalmente desafiante. Conseguirem comunicar, conversar sobre o que sentem e sobre as necessidades de cada um é a chave para diminuir os atritos (que facilmente surgirão na relação) e, assim, resolver as questões à medida que elas surjam.


Definir os novos papéis e rotinas familiares.

Neste novo começo é importante tentar olhar em volta e estabelecer prioridades. Temos duas prioridades: o bebé e a mãe. Para que o bebé esteja bem, este precisa que a mãe esteja bem. E, nesse sentido, é importante que esta seja mimada, ajudada e compreendida nestes momentos de loucura natural das recém mamãs.


Atenção: pôr o foco na mãe não significa que estamos a desvalorizar o pai - muito pelo contrário! É ele que tem o papel fulcral de ser o suporte da mãe, de a proteger, de lhe providenciar os cuidados que necessita (garantir que esta se alimenta, por exemplo) e ao bebé, principalmente na impossibilidade (física/psíquica) da mãe, e ainda gerir as suas próprias emoções. Caso a mãe amamente, essa tarefa exclusiva, difícil e dolorosa (sim, amamentar pode doer, e muito!), pode ser também apoiada pelo pai. Durante a noite, por exemplo, pode ser o pai a trazer o bebé à mãe para que esta não quebre tanto o ritmo de sono, e pode ser ele a voltar a adormecê-lo ou a pô-lo no berço. Também o banho do bebé pode ser outro momento de partilha, ou pode-se mesmo aproveitar esse momento como momento pai-bebé, dando descanso à mãe.


A partilha de tarefas poderá facilitar não só a (re)união do casal, como ajudar a que o pai se sinta útil no seu papel. Pode-se assim, desde cedo, pegar nas tarefas e estruturar uma rotina que traga uma sensação de previsibilidade, não só ao bebé como também aos pais, podendo até ser uma ajuda na ordenação do caos que facilmente se poderá instalar.


Aceitar as ajudas (não confundir com visitas) das pessoas próximas.

Muitas vezes, as mães podem sentir-se culpadas por “pedir ajuda”, em oposição à ideia de que as mães são supermulheres que tudo suportam sozinhas.

As mães (e pais) não têm que fazer tudo e o precisar de apoio não faz delas más mães. Os pais poderão e deverão ser ajudados, não apenas nos cuidados ao bebé, se necessário, mas também no que está à sua volta: a ida ao supermercado, as refeições, a arrumação e a limpeza da casa. Se possível, que seja então outra pessoa a fazê-lo (avós, tios, amigos), para que os pais possam estar concentrados no que realmente importa nesta fase: no bebé, um no outro e, é claro, em si mesmos. Uma boa ajuda também passa por alguém ficar umas horas com o bebé, para que os pais possam descansar e ter um momento a dois.


Gerir as visitas.

O momento da visita pode ser muito desorganizador para o bebé. Este ainda está numa fase em que apenas a mãe é a sua rede de segurança e em que vai aceitando o pai como elemento contentor. Pode, assim, ser um fator de stress para o pequenino ter, de repente, o seu recém-adquirido espaço cheio de estranhos e estímulos que ainda não conhece. O que se pode fazer?

• Restringir as visitas ao mínimo indispensável. Pelo menos no primeiro mês, que sejam apenas os familiares mais chegados.

• Exigir que se cumpram algumas regras: as visitas não deverão aparecer sem o consentimento dos pais, devem fazer visitas rápidas e em grupos pequenos, tentando sempre não interferir na dinâmica dos pais/bebé (devem respeitar, principalmente, o seu sono e momento de aleitamento).

Quando os pais estão demasiado cansados ou não lhes apetece socializar (os momentos de descanso são tão curtos...!) têm que conseguir dizer que não. São eles a prioridade e não têm que se sentir mal por isso - afinal, estão a proteger-se a si e ao seu bebé.

Chegámos a casa... E agora?


Providenciar cuidados a um bebé é um desafio e deixa as recém-mamãs e pais tão exaustos que os levam, muitas vezes, a questionar o porquê de terem tomado a decisão de SEREM PAIS. É, acima de tudo, muito importante que estes se respeitem - não só nas suas fragilidades, como, também, nas suas necessidades. É muito importante que abracem as dificuldades para que possam criar estratégias e soluções que facilitem o dia-a-dia.


E, atenção, não há estratégias erradas. Há o que funciona melhor para cada casal e bebé.

Aproveitem ao máximo cada instante! O tempo passa tão depressa, que rapidamente esses momentos se vão transformar numa recordação perfeita do que foram os primeiros tempos com o seu bebé.


Artigo originalmente publicado na terceira edição da Revista De Mãe para Mãe, em abril de 2020.

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