E se fosse consigo??? | De Mãe para Mãe

E se fosse consigo???

Responda
51 mensagens
SU NEVES -
Offline
Desde 19 Nov 2012

Boa tarde meninas sei que este não e um tema novo mas gostava de ouvir outros pontos de vista. A mim como a todas nos nos claro sempre nos preocupa o facto de pudermos vir a ter um filho com trissomia 21 ou outras necessecidades especiais. Do que tenho lido por aqui algumas concordam em abortar outras não. Ate ai tudo normal o que me faz confusão e que os argumentos são sempre ( essas crianças são muito meigas muito inteligentes muito isto muito aquilo) mas o que eu sinto quando penso nisso e como e que ela se sente nesta nossa sociedade que esta a evoluir e certo mas ainda muito atrasada. A mim faz me muita confusão e penso e se fosse comigo? Na escola eu diferente de todos na rua no supermercado na minha independência...Não será também um egoísmo da nossa parte levar um gravidez adiante sabendo que existe uma grande probabilidade de ter um filho deficiente? Atenção estou mesmo a por a questão nesses casos ora se uma pessoa não tem indicação nenhuma não vai advinhar. Desculpem o testamento mas gostava mesmo de saber opiniões talvez eu tenha a mente fechada pro assunto e as vezes ouvir uma opinião diferente faz nos ver as coisas de outra forma. Fico aguardar as vossas opiniões

Sobre SU NEVES

2001 nasceu o meu Leandro
Treinante 2º viagem desde 09/2014
1° Fiv Set 2019(+) Gravidez ectopica(remoção das duas trompas).
Tec Janeiro cancelada!Tec Fevereiro...(-).
Tec Agosto... ++++ AR as 8 semanas.Tec Janeiro(-)
2°Fiv Dez 2021

Marina4 -
Offline
Desde 15 Maio 2016

eu respeito completamente que faz interrupção.
Mas eu não faria, porque há doenças 100 000 vezes piores...porque só a trissomia é que tem tanta atenção? Assisti e assisto a essas doenças na minha família daí saber do que estou a falar...há deficiências profundas, que nem imaginamos...
agora a trissomia depende, há uns fetos que tem grave malformações cardíacas e outras e nem teriam hipótese, agora se está tudo , e o único problema é a trissomia, parece eugenismo (mas é para mim, cada um faz o que quer)

Sara.rs.90 -
Offline
Desde 21 Ago 2015

Marina4 escreveu:
eu respeito completamente que faz interrupção.
Mas eu não faria, porque há doenças 100 000 vezes piores...porque só a trissomia é que tem tanta atenção? Assisti e assisto a essas doenças na minha família daí saber do que estou a falar...há deficiências profundas, que nem imaginamos...
agora a trissomia depende, há uns fetos que tem grave malformações cardíacas e outras e nem teriam hipótese, agora se está tudo , e o único problema é a trissomia, parece eugenismo (mas é para mim, cada um faz o que quer)

E as doenças que normalmente estão sempre associadas a essa trissomia. Não estou muito dentro do assunto, mas segundo a pouca informação que tenho existem muitas complicações associadas e parece haver diferentes graus (se não é literalmente assim que me corrijam porque como já disse não estou mesmo dentro do assunto). No meu percurso escolar tive várias crianças com trissomia 21 nas minha turmas, tive uma menina que era a Inês que a única diferença entre ela e nós era a aparência pois era uma criança igual a nós (tirando o pormenor que estava na 4ª classe com 8/9 anos e ela já tinha 16). Todos eles mostravam graus de "profundidade" diferentes, tivemos um rapaz que era o João que ele era completamente enfiado no mundo dele, não falava, quando falávamos com ele às vezes revirava os olhos para conseguir olhar para nós, babava-se imenso e as aulas eram passadas com ele a brincar com canetas. De fora todos nós podemos dizer o que fariamos e o que deixariamos de fazer mas quando estamos dentro do assunto é que vemos como a coisa pesa. Eu não me vejo capaz de fazer uma IVG, é um assunto que me atromenta e deixa-me super triste pensar que teria que tomar uma decisão dessas (ainda mais por estar a passar por uma gravidez não planeada que de inicio abalou-me muito e foi-me colocada essa opção também por uma médica devido a um ferimento no colo do útero que me foi descoberto já na gravidez) mas acho que se me visse numa situação dessas eu não hesitaria por mais difícil que fosse. É uma tremenda responsabilidade. Será uma pessoa dependente sempre de alguém para o resto da vida. Pode parecer frio o que vou dizer mas acho que no mundo animal existe a selecção natural por algum motivo, selecção essa que deixou de haver na raça humana e não sei até que ponto é que isso é justo. Não sei.. É um assunto demasiado complexo e tão profundo que acho que nem que estivéssemos aqui a debater todos os pontos prós e contras não íamos deixar de concordar e concordar com tanta coisa que ia ser dita por todas as partes. É uma assunto bastante complicado. Mas tal como a escritora do tópico, acho que nesse ponto tenho uma mente retrograda e não iria ter coragem de me expor emocionalmente, expor a minha família e expor uma vida "incapaz" a tal situação só por uma situação de falta de animalismo e instinto de sobrevivência. Lamento se de alguma maneira posso chocar alguém com o que disse mas vejo as coisas assim desta maneira e vivo assim dessa maneira. Não tendo nada a ver mas da gravidez da minha filha não tive problemas alguns e de inicio até tinha um trabalho bastante pesado, desta gravidez não faço quase esforços nenhuns e tive um descolamento de placenta de 80% devido ao saco ser demasiado pequeno para o tamanho do embrião e quando a médica me disse no hospital que eu poderia fazer repouso mas que pelo tamanho do descolamento que às vezes há coisas que a natureza faz que sabe o que está a fazer. Optei por não fazer repouso pois segundo a médica o mais certo era acabar por não dar em nada (nem medicação alguma me deu, só indicações para agir caso tivesse um AE e como detectar) e actualmente já estou de quase 12 semanas (faço amanha weeee :D) o saco entretanto desenvolveu (havendo um risco perto dos 90% de não desenvolver e o embrião acabar por morrer dentro do saco) o descolamento praticamente todo coladinho e continuo a trabalhar e com uma filha de 21 meses para tratar todos os dias que exige de mim este mundo e o outro fisicamente. Se fosse um animal não iria ficar em repouso, não iria parar a minha vida nem morrer à fome em prole duma gestação ainda mais tendo outra cria a depender muito de mim. Tal como não iria dar sobrevivência a uma cria com mal-formações e deficiências. É a minha maneira de ver as coisas e de as gerir Beijinho

Paragem da pilula:fevereiro Concepção:março
Dpp:19 de Dezembro 2015
Primeira gravidez e é uma princesa linda.
Nasceu: 2:21h do dia 11/12/15 com 2.720gr e 46cm
Segunda gravidez é um principe guerreiro.
Dpp: 14 de Abril de 2018

smargarida.guedes -
Offline
Desde 20 Abr 2013

Eu e o meu marido já falamos sobre este assunto e decidimos que se um dia engravidar e os resultados dos vários exames forem trissomia 21, abortava. É uma decisão muito pessoal de cada casal. Aceito as razões de quem não abortaria e aceito as razões de quem abortaria. É uma decisão de facto muito intima do casal.

Lili79 -
Offline
Desde 12 Dez 2016

A única coisa que tenho para dizer a quem pensa controlar tudo com "eu não conseguia ocupar-me de alguém dependente" ou "não acho justo por ao mundo um ser dependente de tudo" e etc... metam-se na cabeça que na vida não controlamos nada! Podem fazer um aborto se detectarem trissomia 21 ou outra coisa mas lembrem-se sempre que há muitas doenças e deficiências não visíveis nas ecografias e que só se notam à nascença ou meses depois e pior ninguém está livre de ter um filho que num momento ou outro na vida possa ter uma doença ou um acidente que os deixe incapacitados para a vida toda. E o que é que farão? Terão de aceitar e criá-lo na mesma e ocupar-se dele na mesma não é assim?! Ninguém está livre e não vale a pena pensar demais nisso tudo, a vida é assim do nascer ao morrer pode acontecer-nos tanta coisa e não controlamos nada! Por isso a trissomia 21 ainda é o menos...

Tyta.B -
Offline
Desde 31 Jul 2015

Com sinceridade eu optaria por não ter esse filho, não por ter qualquer tipo de preconceito com pessoas especiais, que não tenho e inclusive tive um menino com trissomia 21 no 5º ano e sempre que havia trabalhos de grupo os professores colocavam-me com ele porque sabiam que eu tinha bastante tolerância para a diferença e dificuldades que ele apresentava, mas porque não saberia lidar com a preocupação daquilo que aconteceria ao meu filho um dia que eu lhe faltasse. Porque eles não são autónomos, e não saber o que aconteceria àquele filho quando eu não estivesse mais cá, ou estivesse tão velha/doente que não lhe pudesse valer, não acho mesmo que soubesse lidar com essa constante preocupação.

Eu despertei para esta realidade quando há uns anos uma idosa se lavou em lágrimas aqui no escritório precisamente por este motivo. O filho, deficiente profundo e com tendências agressivas, estava cada vez mais difícil de lidar, e ela já tão debilitada não sabia o que lhe fazer. A dor daquela mãe, que não deve ter tido um único dia de paz na sua vida a partir do momento em que lhe nasceu um filho "diferente", e que nem na velhice tinha direito ao seu merecido descanso... e no fim o que a afligia não era ela mesma, era o que ia acontecer ao seu menino! Aquilo matou-me um pouco, e eu acho que não seria forte o suficiente para lidar com uma situação dessas.

Tenho muito respeito por quem lida com estas situações.

NiGuigas -
Offline
Desde 05 Mar 2017

Sara.rs.90 escreveu:

Marina4 escreveu:eu respeito completamente que faz interrupção.
Mas eu não faria, porque há doenças 100 000 vezes piores...porque só a trissomia é que tem tanta atenção? Assisti e assisto a essas doenças na minha família daí saber do que estou a falar...há deficiências profundas, que nem imaginamos...
agora a trissomia depende, há uns fetos que tem grave malformações cardíacas e outras e nem teriam hipótese, agora se está tudo , e o único problema é a trissomia, parece eugenismo (mas é para mim, cada um faz o que quer)

E as doenças que normalmente estão sempre associadas a essa trissomia. Não estou muito dentro do assunto, mas segundo a pouca informação que tenho existem muitas complicações associadas e parece haver diferentes graus (se não é literalmente assim que me corrijam porque como já disse não estou mesmo dentro do assunto). No meu percurso escolar tive várias crianças com trissomia 21 nas minha turmas, tive uma menina que era a Inês que a única diferença entre ela e nós era a aparência pois era uma criança igual a nós (tirando o pormenor que estava na 4ª classe com 8/9 anos e ela já tinha 16). Todos eles mostravam graus de "profundidade" diferentes, tivemos um rapaz que era o João que ele era completamente enfiado no mundo dele, não falava, quando falávamos com ele às vezes revirava os olhos para conseguir olhar para nós, babava-se imenso e as aulas eram passadas com ele a brincar com canetas. De fora todos nós podemos dizer o que fariamos e o que deixariamos de fazer mas quando estamos dentro do assunto é que vemos como a coisa pesa. Eu não me vejo capaz de fazer uma IVG, é um assunto que me atromenta e deixa-me super triste pensar que teria que tomar uma decisão dessas (ainda mais por estar a passar por uma gravidez não planeada que de inicio abalou-me muito e foi-me colocada essa opção também por uma médica devido a um ferimento no colo do útero que me foi descoberto já na gravidez) mas acho que se me visse numa situação dessas eu não hesitaria por mais difícil que fosse. É uma tremenda responsabilidade. Será uma pessoa dependente sempre de alguém para o resto da vida. Pode parecer frio o que vou dizer mas acho que no mundo animal existe a selecção natural por algum motivo, selecção essa que deixou de haver na raça humana e não sei até que ponto é que isso é justo. Não sei.. É um assunto demasiado complexo e tão profundo que acho que nem que estivéssemos aqui a debater todos os pontos prós e contras não íamos deixar de concordar e concordar com tanta coisa que ia ser dita por todas as partes. É uma assunto bastante complicado. Mas tal como a escritora do tópico, acho que nesse ponto tenho uma mente retrograda e não iria ter coragem de me expor emocionalmente, expor a minha família e expor uma vida "incapaz" a tal situação só por uma situação de falta de animalismo e instinto de sobrevivência. Lamento se de alguma maneira posso chocar alguém com o que disse mas vejo as coisas assim desta maneira e vivo assim dessa maneira. Não tendo nada a ver mas da gravidez da minha filha não tive problemas alguns e de inicio até tinha um trabalho bastante pesado, desta gravidez não faço quase esforços nenhuns e tive um descolamento de placenta de 80% devido ao saco ser demasiado pequeno para o tamanho do embrião e quando a médica me disse no hospital que eu poderia fazer repouso mas que pelo tamanho do descolamento que às vezes há coisas que a natureza faz que sabe o que está a fazer. Optei por não fazer repouso pois segundo a médica o mais certo era acabar por não dar em nada (nem medicação alguma me deu, só indicações para agir caso tivesse um AE e como detectar) e actualmente já estou de quase 12 semanas (faço amanha weeee :D) o saco entretanto desenvolveu (havendo um risco perto dos 90% de não desenvolver e o embrião acabar por morrer dentro do saco) o descolamento praticamente todo coladinho e continuo a trabalhar e com uma filha de 21 meses para tratar todos os dias que exige de mim este mundo e o outro fisicamente. Se fosse um animal não iria ficar em repouso, não iria parar a minha vida nem morrer à fome em prole duma gestação ainda mais tendo outra cria a depender muito de mim. Tal como não iria dar sobrevivência a uma cria com mal-formações e deficiências. É a minha maneira de ver as coisas e de as gerir


Excelente reflexão...atrevo-me a dizer que subscrevo totalmente... Piscar o olho

Sobre NiGuigas

A minha sementinha chegou ❤ 12/11/2017

Soniafp -
Offline
Desde 19 Mar 2013

Vou ser muito sincera mamã.
não li os outros comentários , por isso n sei q opinião têm as outras mamãs, por isso não me julguem, ou se julgarem, paciência!
se me disserem q tinha um bebe com trissomia , dependendo do grau, mas muito provavelmente eu faria o aborto! nisso como faria tbm para outras doenças graves.
é certo q essas crianças são diferentes, não julgo.
mas é muito triste para os pais e propriamente para elas, elas são gosadas na escola , sofrem e com isso os pais tb sofrem, a família sofre, sao muitos cuidados, muitas idas ao medico para vigiar etc etc etc.
eu sempre disse : o aborto deveria ser proibido com excepção de doenças assim, problemas fetais, problemas para a vida da mãe ou do bebé! .
é simplesmente a minha opinião , nua e crua.

Sobre Soniafp

*TreinosJunho2013*Positivo chega depressa*
1Junho2016 Melhor dia da Criança de Sempre <3
25Janeiro2017 Meu boy ^_^
14Fevereiro2018 Mey boy 2 ^_^
Amor de Mãe a Dobrar
***O Sonho só acaba quando a Esperança Desaparece***

moon_star -
Offline
Desde 10 Jul 2008

É um assunto delicado e cada um tem a sua opinião que merece ser respeitada numa situação destas. Aceito quem leva a gravidez para a frente e quem decide interromper. Tal como já falaram atrás, é possível o filho ser saudável e um dia ter uma doença ou acidente e ficar incapacitado para o resto da vida. Ok, é possível, mas penso que nesta situação resta apenas aceitar e fazer o possível para lhe dar uma vida com a melhor qualidade possível, são coisas que acontecem e que todos podemos passar por isso. Mas sabendo à partida que iria haver problemas (seja trissomia 21 ou equivalente) e mesmo assim "obrigar" a criança a nascer e viver com sofrimento? Penso que não seria capaz e optaria pela interrupção da gravidez. Talvez me chamem um pouco fria, mas de uma forma muito prática penso: "posso evitar sofrimento e problemas, evito. Não posso, aceito". Mas claro está, nunca passei por uma situação que tivesse que tomar uma decisão destas (e espero não vir a ter). Será que estando na situação de ter que tomar uma decisão, seria capaz? Não sei. Mais uma vez é um assunto delicado e uma decisão difícil de tomar.

Sobre moon_star

Abril 2017- queremos ser pais
Outubro 2017- início de treinos
Novembro 2018- encaminhamento consultas de infertilidade
Março 2019- 1ªconsulta de infert.
Maio 2019- 2ªconsulta de infert.: baixa mobilidade de espermatozóides. Encaminhamento FIV.
Dezembro 2019- 1º atraso em 30 ciclos. Será?

Ana Svensson -
Offline
Desde 23 Abr 2017

Eu não faria. A única possibilidade de um dia vir a fazer um aborto seria se o bebé tivesse algum problema que o impedisse de sobreviver depois de nascer. Trissomia 21 não é o fim do mundo. Há tantas outras doenças priores e mais incapacitantes. Acho sinceramente que quem usa o argumento de que a criança iria ser infeliz e sofrer a vida toda, o faz como forma de se convencer a si própria que não está a tomar uma decisão egoísta. A verdade é que ter um filho com trissomia 21 complica muito a nossa vida e naturalmente nenhuma de nós sonhou com isso. Mas para a criança não é uma sentença de uma vida infeliz. Podemos ter um bebé perfeitamente saudável que meses ou anos mais tarde fique gravemente doente ou incapacitado e não é por isso que a solução passa por matá-lo. Da mesma forma, uma pessoa dita normal pode ser muito mais infeliz do que uma pessoa com deficiência e pode também ser descriminada por tantos outros aspectos. Não podemos prever ,no momento em que estamos grávidas, como será a vida do nosso filho, independentemente de parecer ou não saudável na ecografia. E eu não me sintonia no direito de decidir que um filho não poderia viver porque afinal não é bem como eu imaginei.

Desde 13 Set 2012

Olá meninas...

Ora aqui está um tema excelente para nos conduzir numa refleção ponderada e cuidadosa.

A maioria de voz pensa nesta questão enquanto mães que, confrontadas com uma verdade cruel, teriam que se ver forçadas a tomar uma decisão terrível: seguir ou não com uma gravidez da qual resultaria o nascimento de um filho "diferente". Pois bem, eu falo-vos da perspetiva desse filho diferente. Sim, sou diferente. Nasci com um glaucoma bilateral congénito que me rouba totalmente o sentido da visão.

Na altura, e já lá vão 45 anos, nada se sabia durante a gestação de um filho; nada ou quase nada mesmo era revelado. O sexo do bebé era um dos mais bem guardados segredos do mundo e o tempo de gestação ainda era contabilizado em ciclos lunares. Os meus pais já tinham 3 filhos mais velhos completamente saudáveis e depois caiu-lhes o Mundo em cima quando nasci eu, gordinha e perfeita, mas com uma patologia que, imaginem, nem os médicos sabiam se eu iria ou não ser capaz de ver.

Os meus pais eram pobres mas bem-formados. Criaram-me como criaram os meus irmãos. Tive acesso ao que existia na altura. Fui operada para travar a evolução do glaucoma apenas para melhorar o meu bem-estar. Inicialmente tinha um resíduo visual que entretanto se perdeu; as idas aos médicos, as cirurgias, o controlo apertado da tenção ocular era constante.

Claro que ninguém me descartou, ninguém me maltratou e ninguém deixou que me faltasse fosse o que fosse; no entanto, para os meus pais, a grande preocupação deles era saber se eu seria capaz de tomar conta de mim. Fizeram de tudo para que isso fosse uma garantia, um legado que me deixavam. Conseguiram. Mas porquê? Porque, por sorte, eu nasci apenas cega. A cegueira não me rouba a individualidade, a autonomia, a capacidade de pensar e agir por mim mesma; também não me impede de trabalhar, de exercer os meus direitos de cidadã, de gostar e não gostar de pessoas, coisas e instituições. Fiz e continuo a fazer o meu percurso, arcando com as consequências, boas e más, das minhas decisões.

Mas sabem, as patologias neurológicas e/ou comportamentais não são assim tão simples como a cegueira. Os T21 não são autónomos; os doentes mentais profundos não são autónomos, e muitos outros bebés a quem lhe foi dado o direito de nascer, jamais serão autónomos. A maioria dos pais dessas crianças não possuem condições básicas para conseguirem dar a esses filhos nem um décimo do que eles precisam em termos de terapias, tratamentos, medicamentos, utensílios de apoio à mobilidade ou falta dela. A maioria dos pais precisa de trabalhar para garantir o sustento. Como fará depois para sobreviver financeiramente? quem cuida desses filhos "diferentes"? O estado? Pois sim, quem acreditar nisso é porque ainda acredita no Pai-Natal. O estado faz pouco e nem importa muito discutir sobre isso neste tópico. Importa chamar as coisas pelos nomes. O estado não se substitui às famílias; estas, quando realmente se veem numa situação deste tipo, rezam para encontrar uma instituição onde colocar aquele filho "diferente". Essas instituições - excelentes que são - existem em pouca quantidade e estão, obviamente, superlotadas. Por outro lado, as famílias precisam continuar a trabalhar para garantirem o sustento de si mesmos e até de outros filhos que tenham.

Lembro-me perfeitamente de ouvir conversas da minha mãe e até do meu pai sobre a preocupação constante com o meu futuro. Jamais queriam que eu fosse para uma instituição para que alguém cuidasse de mim. Claro que a informação que eles tinham disponível sobre as limitações de um cego era nula ou quase. O tempo foi passando, eu fui prosseguindo os estudos e a dada altura eles perceberam que afinal tudo estava no bom caminho.

Eu já não tenho os meus pais. Felizmente tenho a minha própria família: marido e 2 filhos, mais as minhas irmãs e sobrinhos e um montão de amigos. Sempre trabalhei e tenho uma excelente relação profissional com os vários colegas. Mas... e agora vou especular... e se eu tivesse nascido com outra diferença qualquer mais limitadora e que não me permitisse ser dona da minha própria vida? Se eu não tivesse meio de sustento? E se eu não fosse capaz de tomar banho, de me alimentar, em fim, de ser capaz de cuidar sequer das minhas necessidades básicas? Parece-vos justo que eu constituísse um encargo para as minhas irmãs, também elas com vidas próprias e sem condições de deixar de trabalhar para me cuidarem?

Como já referi, os meus pais já partiram e até bastante cedo. O meu pai partiu quando eu tinha 23 anos e 3 semanas de casada. Parece que esperou levar-me ao altar para poder partir descansado... A minha mãe partiu em 2007. Se eu não fosse cega e fosse outra coisa qualquer, acho que preferiria mil vezes que os meus pais não me deixassem nascer do que viver apenas sobrevivendo, limitada ao respirar e ao nascer e por do Sol Diários. Para passar os dias numa instituição qualquer do Estado, sim, assumo, preferia não existir. É que não sei se sabem, mas deve ser mau demais viver sem viver.

É efetivamente verdade que não controlamos tudo mas, se de alguma forma Deus tem dado aos homens da ciência o conhecimento e meios necessários para nos dar algum controlo sobre o que nos rodeia, é porque se calhar pretende mesmo que tenhamos um papel mais ativo em tudo o que nos pode afetar.

Claro que quando a "diferença" surge sem se fazer anunciar, sem aviso ou alerta de espécie nenhuma, em resultado de acidente ou de doença, não temos outro remédio se não enfrentar a dura realidade; Agora, quando se está informada e na posse da decisão... cabe a cada um fazer o melhor que conseguir. às vezes, decidir pelo mais difícil é mesmo decidir pelo melhor.

Respeito muito qualquer mulher que, assumidamente, afirme que não seria capaz de realizar uma IMG, mas tudo na vida tem consequências. E deixar vir ao Mundo um filho "diferente" tem consequências para os pais e restante família, mas no essencial, o que importa avaliar são as consequências para esse mesmo filho. que vida lhe estamos a oferecer? Será que ele merece chegar aqui para sofrer tanto? É que alguns sofrem mesmo, a começar por procedimentos médicos terríveis.

Quando engravidei, decidi logo que faria a amniocentese na altura adequada. Não fiz rastreio nem nada do tipo porque queria certezas, pelo menos as certezas possíveis. Deus - sim, eu acredito em Deus - deu-me 2 filhos lindos e perfeitamente saudáveis. Se um dia algo de mau, de muito mau lhes acontecer, eu, pelo menos enquanto cá estiver, farei de tudo por eles; o que não carrego é a culpa de os ter cá feito chegar dependentes por falta de coragem de tomar uma decisão difícil.

E depois há outra coisa... isto de se ser "diferente" tem um grande peso na nossa existência; acreditem que tem. Eu, que já passei aquela fase tramada da adolescência em que queremos mudar o mundo e exigimos todo o tipo de respostas, continuo a lutar contra os estigmas instituídos. Ainda é preciso ser-se melhor do que os outros para conseguir o mesmo. Acho que será sempre assim. Estamos melhores porque agora já me perguntam coisas em vez de tirar conclusões descabidas e a despropósito, mas ainda acontece referirem-se a mim sem me falarem diretamente; ainda se dirigem a quem estiver comigo em vez de se dirigirem a mim diretamente, ainda que o assunto até me diga totalmente respeito. Em fim, são as consequências das minorias. Se é fácil? Não, de todo que não e há dias mesmo complicados. Se para mim tem sido um drama? Não considero que tenha sido, mas conheço outros casos em que, realmente, foi, é e continua a ser um drama.

Querida tita.b, adoro a forma como escreve e subscrevo tudo…

Sara.rs.90? Há tanto tempo que não falamos! Aparece lá novamente!

Desculpem o testamento

Beijinhos a todas

me Ainda me perguntam

SMSantos

Angie_AM -
Offline
Desde 19 Jun 2017

Ana Svensson escreveu:
Eu não faria. A única possibilidade de um dia vir a fazer um aborto seria se o bebé tivesse algum problema que o impedisse de sobreviver depois de nascer. Trissomia 21 não é o fim do mundo. Há tantas outras doenças priores e mais incapacitantes. Acho sinceramente que quem usa o argumento de que a criança iria ser infeliz e sofrer a vida toda, o faz como forma de se convencer a si própria que não está a tomar uma decisão egoísta. A verdade é que ter um filho com trissomia 21 complica muito a nossa vida e naturalmente nenhuma de nós sonhou com isso. Mas para a criança não é uma sentença de uma vida infeliz. Podemos ter um bebé perfeitamente saudável que meses ou anos mais tarde fique gravemente doente ou incapacitado e não é por isso que a solução passa por matá-lo. Da mesma forma, uma pessoa dita normal pode ser muito mais infeliz do que uma pessoa com deficiência e pode também ser descriminada por tantos outros aspectos. Não podemos prever ,no momento em que estamos grávidas, como será a vida do nosso filho, independentemente de parecer ou não saudável na ecografia. E eu não me sintonia no direito de decidir que um filho não poderia viver porque afinal não é bem como eu imaginei.

Concordo a 100% contigo mas ainda acrescento que se as crianças assim, ditas "diferentes" são gozadas nas escolas, criticadas e olhadas de lado nas ruas é por causa das mentes "fechadas" e preconceituosas que existem por aí...lá está se eu for preconceituosa e os meus filhos forem habituados a tal também vão fazer o mesmo...
E mais tive um irmão deficiente profundo, foi o primeiro filho dos meus pais, a minha mãe teve uma santa gravidez, estava tudo normal e cheio de saúde e sabem o que aconteceu? no momento do parto o meu irmão não respirou no tempo devido, não recebeu oxigénio necessário e ficou assim, no momento do parto. Iam por o filho no lixo nessa altura?
Uma coisa é ser alguma doença incompatível com a vida, mas e se o bebé fosse 100% saudável mas não tivesse uma mão? também abortavam?

Sobre Angie_AM

Angie*

Tyta.B -
Offline
Desde 31 Jul 2015

Angie AM, essa é uma pergunta descabida. Nascer sem uma mão, não é incompatível com uma vida funcional e independente. Nascer com uma deficiência mental é. A situação do seu irmão é equivalente a alguém ter um acidente de carro e ficar com graves sequelas. Não se pode prever, tem de se lidar caso aconteça. Mas saber que o bebé que vamos ter vai nascer com problemas que o tornarão dependente para toda a vida, e mesmo assim aceitar tê-lo... cobarde me confesso, eu não teria coragem.

O meu filho sofreu de bullying há uns anos, e foi de longe a pior altura da minha vida. Não poder fazer nada - infelizmente não posso ser eu a entrar pela escola dentro e dar educação aos filhos dos outros - fez-me sentir menos que nada. Foi a única altura em que senti que falhei como mãe porque não podia ajuda-lo por mim mesma, e ter um filho com graves deficiências seria ter este sentimento o resto da vida, vê-lo a sofrer, vê-lo dependente, não poder resolver a situação de forma activa... eu não conseguia, não tenho estofo.

Videl86 -
Offline
Desde 18 Jul 2014

Ana Svensson escreveu:
Eu não faria. A única possibilidade de um dia vir a fazer um aborto seria se o bebé tivesse algum problema que o impedisse de sobreviver depois de nascer. Trissomia 21 não é o fim do mundo. Há tantas outras doenças priores e mais incapacitantes. Acho sinceramente que quem usa o argumento de que a criança iria ser infeliz e sofrer a vida toda, o faz como forma de se convencer a si própria que não está a tomar uma decisão egoísta. A verdade é que ter um filho com trissomia 21 complica muito a nossa vida e naturalmente nenhuma de nós sonhou com isso. Mas para a criança não é uma sentença de uma vida infeliz. Podemos ter um bebé perfeitamente saudável que meses ou anos mais tarde fique gravemente doente ou incapacitado e não é por isso que a solução passa por matá-lo. Da mesma forma, uma pessoa dita normal pode ser muito mais infeliz do que uma pessoa com deficiência e pode também ser descriminada por tantos outros aspectos. Não podemos prever ,no momento em que estamos grávidas, como será a vida do nosso filho, independentemente de parecer ou não saudável na ecografia. E eu não me sintonia no direito de decidir que um filho não poderia viver porque afinal não é bem como eu imaginei.

Acho que pela primeira vez concordo a 100% com a Ana Svensson! lol é isso mesmo que penso.

Sobre Videl86

08 de dezembro de 2014 <3 49,5 cm e 2,920 de amor e doçura <3
13 de dezembro de 2017 <3 47 cm e 2,815 de fofurice e amor <3

Ana Svensson -
Offline
Desde 23 Abr 2017

Videl86 escreveu:

Ana Svensson escreveu:Eu não faria. A única possibilidade de um dia vir a fazer um aborto seria se o bebé tivesse algum problema que o impedisse de sobreviver depois de nascer. Trissomia 21 não é o fim do mundo. Há tantas outras doenças priores e mais incapacitantes. Acho sinceramente que quem usa o argumento de que a criança iria ser infeliz e sofrer a vida toda, o faz como forma de se convencer a si própria que não está a tomar uma decisão egoísta. A verdade é que ter um filho com trissomia 21 complica muito a nossa vida e naturalmente nenhuma de nós sonhou com isso. Mas para a criança não é uma sentença de uma vida infeliz. Podemos ter um bebé perfeitamente saudável que meses ou anos mais tarde fique gravemente doente ou incapacitado e não é por isso que a solução passa por matá-lo. Da mesma forma, uma pessoa dita normal pode ser muito mais infeliz do que uma pessoa com deficiência e pode também ser descriminada por tantos outros aspectos. Não podemos prever ,no momento em que estamos grávidas, como será a vida do nosso filho, independentemente de parecer ou não saudável na ecografia. E eu não me sintonia no direito de decidir que um filho não poderia viver porque afinal não é bem como eu imaginei.

Acho que pela primeira vez concordo a 100% com a Ana Svensson! lol é isso mesmo que penso.

Alguma vez teríamos de concordar Piscar o olho

SU NEVES -
Offline
Desde 19 Nov 2012

Boa noite meninas obrigada desde já pelas vossas respostas Sônia Maria santos por incrível que possa parecer parece que foi a única que entendeu o tópico. A ideia era mesmo as meninas porem se no lugar de uma criança com problemas e não discutir se são a favor ou contra o aborto. Já agora eu falei de trissomia21 mas podia ter falado de outra qualquer doença incapacitante simplesmente foi a que me ocorreu na altura talvez por ser a que mais ouço falar.Tinha já visto outros tópicos para o assunto mas era sempre a falar nos pais e na dificuldade de criar uma criança diferente,por isso quis em parte que vocês se colocassem no lugar da criança e pensassem como tal. Tenho um filho con 15 anos saudável claro que se lhe acontece se alguma coisa íamos seguir em frente e proporcionar lhe o melhor que estivesse ao nosso alcance isso nem se questiona. Agora quando isso esta dependente de uma decisão nossa...

Sobre SU NEVES

2001 nasceu o meu Leandro
Treinante 2º viagem desde 09/2014
1° Fiv Set 2019(+) Gravidez ectopica(remoção das duas trompas).
Tec Janeiro cancelada!Tec Fevereiro...(-).
Tec Agosto... ++++ AR as 8 semanas.Tec Janeiro(-)
2°Fiv Dez 2021

Danb -
Offline
Desde 11 Nov 2015

Falo por mim, pela minha experiência (já vivi enquanto miúda em 3 países diferentes) e daquilo que já vi a acontecer..

Se eu soubesse (na gravidez) que um filho meu ia ter uma doença incapacitante que o tornasse dependente não seria capaz de avançar..
Se há coisa que eu sei é que as crianças são cruéis umas com as outras.. eu própria sofri de bullying e sabem porquê? porque eu tinha as melhores notas da turma (isto com 10 anos +/-) e marcou-me.. sou hoje em dia uma pessoa extremamente explosiva e não dou uma única "abébia" (e por vezes sou demasiado rígida com as pessoas à minha volta).. mas durante um ano inteiro estar constantemente a ser gozada, humilhada e ameaçada marcou-me! Só acabou porque, por uma sorte enorme, um dia uma rapariga que era das ditas "fixes" começou a falar comigo e desde então é das minhas melhores amigas.. foi só por ela ter feito amizade comigo que aquele meu sofrimento acabou.. agora imagino se fosse por eu ser diferente, ou ser completamente dependente como seria.. eu já vi, aqui em Portugal, os gozos com uma rapariga na escola que tinha qualquer problema mental (não era trissomia 21).. era constantemente.. vi-a a ser gozada e humilhada perante centenas de alunos todos os dias!! vi-a a ser agredida simplesmente por ser diferente.. vi que ela nunca falava disso a ninguém porque ela não conseguia exprimir-se como uma adolescente "normal".. vi jovens completamente dependentes a 100% em cadeiras de rodas e tudo.. eram deixados na escola por uma carrinha especial.. e penso nisto tudo e penso quererei eu isto para um filho meu?? não! nunca!!
e penso, e se algo acontece aos pais daquele jovem que nem comer sozinho era capaz?? o que é feito dele? quem vai cuidar dele? quem lhe vai amar?? e não, não prosseguia com uma gravidez se me dissessem que o meu filho iria ter uma doença assim.. não por não amar, mas precisamente por amar que não era capaz.. nunca conseguiria viver e aceitar que alguém gozasse com ele ou lhe fizesse mal.. pensaria sempre, quem vai cuidar dele com o mesmo amor e carinho se me acontecer qualquer coisa??

eu não tenho preconceito nenhum com pessoas com limitações ou doenças.. apenas acho que a sociedade é demasiado cruel para essas pessoas.. Sei que provavelmente são as pessoas mais amorosas que possam existir pq vêem o mundo de outra forma e é tudo mais simples para eles.. mas a sociedade acabará sempre por os magoar, e, enquanto mãe, nunca conseguiria aceitar isso..

Lili79 -
Offline
Desde 12 Dez 2016

Pois mas como é evidente é impossível por-se no lugar da criança diferente porque ao contrário do que muitos pensam, a maior parte das crianças diferentes são felizes, lutadoras, guerreiras, não vêm as coisas como os "normais" simplesmente porque nasceram diferentes, com limitações que fazem com que tenham de aprender a viver à maneira deles e amenos que tenham muito sofrimento físico são muito mais felizes que qualquer outra criança porque não pensam em pedir brinquedos ou tablets aos pais, só querem mimos, beijinhos, colo e nunca perdem a inocência e a bondade, ao contrário de todos os "normais"....

SU NEVES -
Offline
Desde 19 Nov 2012

Lili79 nao confunda alhos com bugalhos isso de pedir tablets ou outras coisas nada tem a ver. Pois conheço miúdos com deficiência e eles sabem melhor do que o meu filho qual o telemovel XPTO da moda e sabem bem o que querem. Mas concerteza os deficientes mais graves sejam aquela outra parte que nao referiu e nao sejam assim tão felizes nem bem sucedidos.

Sobre SU NEVES

2001 nasceu o meu Leandro
Treinante 2º viagem desde 09/2014
1° Fiv Set 2019(+) Gravidez ectopica(remoção das duas trompas).
Tec Janeiro cancelada!Tec Fevereiro...(-).
Tec Agosto... ++++ AR as 8 semanas.Tec Janeiro(-)
2°Fiv Dez 2021

Butterfly_901 -
Offline
Desde 06 Abr 2013

Bem, não posso deixar de dar a minha opinião, uma vez que eu cresci com um irmão diferente...

Temos 3 anos de diferença, e embora eu não o quisesse quando ele nasceu (pedia à minha mãe para o deitar para o lixo lol), à medida que fomos crescendo, fomo-nos aproximando muito e como tal ele era tudo para mim. O meu irmão era aparentemente "normal": era lindo qd nasceu - loirinho e de olhos cinzentos; gatinhou e andou na altura devida, brincava comigo, nunca ficava doente, mas não falava. Com um ano, com dois anos, com três anos as palavras não saíam. À medida que ía ficando mais velhinho, gritava e fugia quando não o entendíamos, quando alguém gozava com ele e ele percebia mas não conseguia defender-se gritava e chorava de raiva.
Foram anos de médicos, exames, terapias. Andou uns meses numa escola para meninos com deficiência, porque os médicos diziam que ele era surdo-mudo. Aprendemos inclusive a linguagem gestual...

Houve um episódio que me marcou imenso até hoje: os meus pais tinham uma reunião com a professora dele e deixaram-me no recreio com os outros miúdos. Pois bem, assim que os rapazes me viram, rodearam-me e todos me tocaram, mexeram, puxaram os cabelos. Foi horrível, chorei e gritei até que alguém me viu e me tirou dali. Para eles eu era tão bonita que me queriam fazer festinhas. Foi o que me explicaram. (não sou nada de especial - o meu irmão é mil vezes mais bonito do que eu, eu sou apenal "normal" com todas as minhas anormalidades e isso para aquelas crianças e adolescentes tinha peso.) \/:) \/:)

Pois bem, ao fim de uns meses nessa escola, chegou-se a conclusão que o meu irmão estava a regredir e os meus pais retiraram-no de lá. Os médicos também chegaram à conclusão que ele ouvia muito bem.
Enfim.. Muito devagar o meu irmão começou a falar: os sons foram saindo, e por fim as palavras também chegaram. Houve uma altura em que o meu irmão mostrou a nível mental um ligeiro atraso (do género com 7 anos, estava a nível mental de uma criança de 4 anos).
Houve muita terapia da fala (ainda hoje tem), médicos de diferentes especialidades, muitos exames. A minha mãe durante muito tempo não trabalhou para o poder acompanhar.
Hoje ele tem o 12º ano, tem um emprego estável e comprou agora uma casa. Fala de politica como ninguém... Ou de futebol... No entanto, é o miúdo mais calado que conheço, é triste, anda em psicólogos e toma ansiolíticos. Ainda hoje parece um estrangeiro que aprendeu a língua à pouco tempo. Ninguém o entende à primeira e tem sempre que repetir o que diz. Sofreu e sei que sofre muito. E o único problema dele, foi não falar...

Imaginem agora a vida de uma criança que não consegue comer sozinha, vestir-se sozinha. Que pode ser violada e nem diz nada pois acha normal. Infelizmente, os pais não são eternos... Como ficam estas crianças, quando os pais morrerem?? Aonde?? Quem lhes faz a comida? Quem lhes dá banho? Quem os veste?? É tudo muito bonito, mas importa aqui perceber uma coisa: se interrompermos uma gravidez ficamos a chorar por um filho amado que não nasceu mas também não sofreu. E se a criança nascer? Quem chorará mais? Nós ou ela??

_____________________________
Resta-me ainda dizer que durante toda a gravidez do meu filho rezei para que ele nascesse saudável e perfeito. Era o meu mantra... E imaginem??!! O Leo tem 26M e ainda não fala! Já começamos as nossas terapias. Eu sei que aos poucos vamos lá. Mas custa-me pensar o que ele poderá sofrer no futuro. E se gozarem com ele? E se lhe tirarem algo com que ele está a brincar na cresce? Ele não consegue dizer algo tão simples: como "dá-me isso" ou pedir ajuda à educadora. Se alguém lhe bater eu não saberei. Sabem o que isso faz à minha cabeça?? Ou ao meu coração?? O sonho de qualquer pai ou mãe é verem o filho criar asas, tornar-se autónomo. Viver a vida que escolher de forma independente! E claro, ser feliz!!! É o que eu desejo para todas as crianças... E para o meu Leo...
______________________________________
É um tema difícil e controverso.. Desejei apenas mostrar o outro lado.

Mamã Sónia, adoro lê-la mas adorei ainda mais ler o que escreveu agora... Você inspira-me.
Apaixonado Apaixonado Apaixonado

Dois abortos retidos em Abril e Novembro de 2013.
Positivo a 04/11/2014-É desta!!!! À terceira é de vez!!!!!

Videl86 -
Offline
Desde 18 Jul 2014

Custa a qualquer mãe pensar que o filho pode ser alvo de discriminações e humilhações, mas na verdade nós não o podemos evitar. Eu faria um aborto se fosse detetada uma doença incompatível com a vida ou uma doença que, mesmo sendo inicialmente compatível, tivesse um prognóstico tão mau que eu soubesse que o meu filho(a) ia viver poucos anos e sempre em sofrimento físico, sempre dentro de hospitais/cirurgias. Que não é o caso de T21, quando não há outros problemas associados pelo menos (por vezes existem, especialmente cardíacos, mas é feito um estudo e uma pessoa consegue ter uma ideia até que ponto a saúde física será afetada). E aquelas doenças mesmo horríveis e incapacitantes geralmente não são detetadas no pré-natal, muitas vezes só se desenvolvem fora da barriga (daí eu ter tanto medo de beijos em recém-nascidos ou bebés, etc).
Agora tenho a certeza que uma criança/pessoa com limitações que foi muito gozada na escola, embora tenha marcas disso, não pensa que preferia não ter vivido do que ter vivido com esses traumas! Uma criança amada, apreciada e protegida pela sua família, não pensa que preferia nunca ter nascido do que ter nascido e sofrer humilhações na escola! E bullying todos podem sofrer, uns por umas coisas, outros por outras. É nosso papel de mães e pais ensinarmos os nossos filhos a não se deixarem afetar por bullying, estarmos atentas, fazermos o que estiver ao nosso alcance. Acima de tudo, sabermos o que se passa na vida dos nossos filhos por estarmos atentas, e não porque esperamos que eles nos venham contar porque muitas vezes não o fazem.
Quando eu estava grávida do meu filho não consegui fazer rastreio do 1º trimestre. Ele não colaborou, não permitiu fazer o exame, mesmo depois de horas a tentar. Na altura eu ainda vivia em Inglaterra e eles lá tentam aquele dia e não insistem mais. Disseram-me para voltar às 15 semanas para fazer um exame de sangue e obter uma probabilidade para T21. Mas o rastreio bioquímico teria sido mais fiável, mesmo que sendo probabilístico. Eu pensei muito na altura. Eu sabia que não ia abortar se tivesse T21...e sabia que não ia abortar a não ser num caso muito extrema. Nessa altura eu já estava de viagem marcada para Portugal, para regressar, e o que pensei foi "Vai correr tudo bem, ele vai ser saudável. Se não for, nós conseguimos dar conta da situação. Se a situação for muito grave, nós voltamos para Inglaterra ou vamos para um país onde eu possa garantir tudo do melhor ao meu filho, como acesso a ensino inclusivo de qualidade. Se for preciso, nós arranjamos uma forma de eu parar de trabalhar e passar a ser responsável pela educação dele. O meu filho vai ser amado, desejado e feliz e vai saber isso sempre, e vai ser tão amado e tão feliz que nenhuma situação má o vai afetar ao ponto dele querer não estar vivo.". Este foi o plano que fiz na minha cabeça. O meu filho nasceu saudável e até hoje é um menino muito ativo, saudável e, acima de tudo, feliz. Ele tem um atraso a nível do desenvolvimento da linguagem e é acompanhado devidamente, e eu como mãe já tive momentos de pânico interior em que pensava que não queria que o meu filho sofresse, que daqui a pouco outros meninos da idade dele vão perceber que ele não se comunica da mesma forma ou com a mesma fluidez, etc etc e senti e sinto, por vezes, medo daquilo que ele possa passar. Mas ele tem e vai ter sempre uma família que acredita nele e acha que ele é capaz de tudo, que o vai apoiar sempre e que está disposta a fazer qualquer sacrifício pela felicidade dele. E ele vai crescer a saber isso e portanto eu sei que ele vai ser sempre, maioritariamente, feliz. Eu respeito a liberdade de escolha e respeito que as pessoas escolham algo diferente daquilo que eu escolheria. Mas acredito naquilo que estou a dizer, essa é a minha posição pessoal relativamente a este assunto.

Ah, e um aparte...eu nunca me integrei muito, socialmente, em criança e adolescente. Sempre fui diferente, não sei porquê, sempre pensei de forma diferente das minhas colegas, sempre tive preocupações diferentes, sempre reclamei mais, sempre discordei mais, sempre fui mais vocal em relação ao que não concordava. E lembro-me que houve uns anos em que fui alvo de chacota, principalmente para os meninos da turma. Entre o meu 7º e 8º ano. Eu sofria muito e eles sabiam e gostavam disso e faziam mais por eu sofrer e eles conseguirem ver que me afetavam a esse ponto. Para mim, naquela altura, aquilo era o fim do mundo. Aqueles anos poderiam ter determinado o percurso da minha vida. Os meus pais não me ajudaram, eu chorava e explicava-lhes o que acontecia e eles na verdade ficavam irritados por eu me deixar afetar e ainda me diziam coisas como "ah se fosses minha colega eu também gozava contigo porque tu ligas, se não ligasses eles não gozavam contigo". Eu acho que tive sorte porque depois conheci as pessoas certas que me ajudaram e eu consegui erguer-me e ver mais do que aquilo que acontecia. E um dia (eu era muito bem comportada e nunca me metia em sarilhos nas aulas) eu explodi de raiva, depois de uns meninos me terem mandado umas bocas (já nem me lembro que tipo de bocas) no meio de uma aula, sempre pela calada sem o professor ver. Eu levantei-me e virei-me para trás, enfiei a mesa deles contra eles e encurralei-os na parede, o professor a pedir-me para eu parar e eu ignorei-o. E baixinho, enquanto todos os outros se riam da situação, eu disse a esses dois meninos "é a última vez que vocês me mandam uma boca, é a última vez que falam comigo dessa forma, porque da próxima vez eu não vou parar e rebento a mesa em cima de vocês.". Depois parei de empurrar a mesa, pedi desculpa ao professor e saí a meio da aula. Eles nunca mais me mandaram nenhuma boca, nunca mais. E nunca mais nenhum dos outros se atreveu a mandar boca nenhuma. Isto já eu andava no 9º ano. A minha vida tornou-se muito mais fácil, eu fiquei mais confiante e depois comecei a ver-me como eu realmente era e passei a aceitar-me. E embora até hoje seja relativamente sensível ao que os outros me dizem, confio em mim e no meu potencial e sei quem sou, e isso permite-me gostar de mim e saber que dou o meu melhor. E por isso não lamento nada e consigo pôr as coisas más para trás. Aquele dia mudou a minha vida e eu só tive coragem de fazer aquilo porque naquele ano tinha conhecido uma pessoa nova que tinha entrado na minha turma que tinha visto o que acontecia e me tinha dado várias dicas de como agir numa próxima situação. E foi a pessoa certa, no momento certo. Como disse, eu tive sorte em conhecer quem conheci, mas na verdade poderia ter funcionado da mesma forma se a minha família não tivesse desvalorizado e me tivesse aconselhado, tivesse mostrado preocupação com o meu bem-estar, etc. Ou seja, há sempre uma parte que nos cabe a nós, mães e pais, e essa parte é determinante e pode significar tudo.

Sobre Videl86

08 de dezembro de 2014 <3 49,5 cm e 2,920 de amor e doçura <3
13 de dezembro de 2017 <3 47 cm e 2,815 de fofurice e amor <3

aries23 -
Offline
Desde 18 Jul 2016

Acho que é difícil pormo-nos no lugar dessas crianças porque provavelmente quem tem menor capacidade cognitiva provavelmente não repararia ou sentiria afetado pelas mesmas coisas que nós. Provsvelmente por isso até podem ser felizes desde que tenham quem cuidar deles e estejam protegidos da crueldade de outras crianças e do mundo.

Quanto ao aborto. Podem dizer que há doenças bem piores e que uma pessoa pode acabar por apanhar na mesma, mas isso é como dizer que podemos morrer amanhã com um piano por cima de nós por isso não precisamos de evitar perigos de forma consciente como passar a estrada sem vermos os dois lados. Quando temos capacidade de detetar algo antes do tempo e temos escolha é diferente de quando somos apresentados a uma situação surpresa.

Podem achar egoismo ou dizerem aos outros para "meterem na cabeça de uma vez por todas". Mas o que um acha egoismo pode não ser igual ao outro. Há quem ache egoismo trazer uma criança com deficiência. Toda a gente pode ter a sua opinião subjetiva no que é que é mesmo egoismo, no entanto não é preciso julgar.

Eu sinceramente não sei o que faria, por ser uma decisão difícil. Por isso mesmo que acho que julgamentos neste tema é excusado.
Mas acho que é preciso termos a cabeça na terra quando tomamos esse tipo de decisão pois nos casos que não conseguem ser independentes o que fazem os pais? Eles não estariam cá para sempre e muitos nem têm capacidade financeira para poder um deles ficar em casa a tomar conta da criança. E depois teriam força mental para aguentar o resto da vida deles condicionados completamente pela dependência do filho? Vejo nos filmes onde uma mulher tem que tomar conta de um marido com deficiência grave e o quanto lhes custa, claro que quando se tem marido, mulher ou filhos temos que estar preparados para isso mas quando a realidade aparece não seria fácil e se podessem evitar talvez alguns evitariam. Mas mais uma vez essa decisão seria difícil, pelo que tem que ser tomada por cada casal e não deveria ser julgada. Quem tem que a tomar já sofre o suficiente.

Butterfly_901 -
Offline
Desde 06 Abr 2013

Olá mamã Videl.

Agradeço desde já o seu testemunho. Eu tenho acompanhado outros tópicos seus e portanto, já sabia que o seu menino também tem um problema na fala. O seu menino anda na escola? O meu anda na escolinha com meninos mais velhos (ele é o mais novo da escola dele) e o que eu noto é que ele está a ficar muito agressivo. Mas o meu irmão também o era.
_______________________
Todas nós queremos o melhor para os nossos filhos. Isso não está aqui em discussão sequer. E claro, que lhes daremos na medida das nossas possibilidades. Mas e quando morrermos?? Quem lhes dará o melhor?? O problema reside aí.. Conhecendo-me como me conheço sei que viveria a vida toda com o coração nas mãos só de pensar nisso. O que aconteceria a um filho meu deficiente quando eu e o pai partíssemos?? ía para uma instituição?? Ficaria com algum familiar?? Tratariam-no bem? Condignamente?

Enfim... São muitas questões a ponderar.

________________________________________
Eu também fui vitima de bullyng e sou disléxica. Também andei anos em terapia. Chumbei na 2º classe. E hoje?? Conto histórias a crianças... A vida dá muita volta.

Videl86 escreveu:
Custa a qualquer mãe pensar que o filho pode ser alvo de discriminações e humilhações, mas na verdade nós não o podemos evitar. Eu faria um aborto se fosse detetada uma doença incompatível com a vida ou uma doença que, mesmo sendo inicialmente compatível, tivesse um prognóstico tão mau que eu soubesse que o meu filho(a) ia viver poucos anos e sempre em sofrimento físico, sempre dentro de hospitais/cirurgias. Que não é o caso de T21, quando não há outros problemas associados pelo menos (por vezes existem, especialmente cardíacos, mas é feito um estudo e uma pessoa consegue ter uma ideia até que ponto a saúde física será afetada). E aquelas doenças mesmo horríveis e incapacitantes geralmente não são detetadas no pré-natal, muitas vezes só se desenvolvem fora da barriga (daí eu ter tanto medo de beijos em recém-nascidos ou bebés, etc).
Agora tenho a certeza que uma criança/pessoa com limitações que foi muito gozada na escola, embora tenha marcas disso, não pensa que preferia não ter vivido do que ter vivido com esses traumas! Uma criança amada, apreciada e protegida pela sua família, não pensa que preferia nunca ter nascido do que ter nascido e sofrer humilhações na escola! E bullying todos podem sofrer, uns por umas coisas, outros por outras. É nosso papel de mães e pais ensinarmos os nossos filhos a não se deixarem afetar por bullying, estarmos atentas, fazermos o que estiver ao nosso alcance. Acima de tudo, sabermos o que se passa na vida dos nossos filhos por estarmos atentas, e não porque esperamos que eles nos venham contar porque muitas vezes não o fazem.
Quando eu estava grávida do meu filho não consegui fazer rastreio do 1º trimestre. Ele não colaborou, não permitiu fazer o exame, mesmo depois de horas a tentar. Na altura eu ainda vivia em Inglaterra e eles lá tentam aquele dia e não insistem mais. Disseram-me para voltar às 15 semanas para fazer um exame de sangue e obter uma probabilidade para T21. Mas o rastreio bioquímico teria sido mais fiável, mesmo que sendo probabilístico. Eu pensei muito na altura. Eu sabia que não ia abortar se tivesse T21...e sabia que não ia abortar a não ser num caso muito extrema. Nessa altura eu já estava de viagem marcada para Portugal, para regressar, e o que pensei foi "Vai correr tudo bem, ele vai ser saudável. Se não for, nós conseguimos dar conta da situação. Se a situação for muito grave, nós voltamos para Inglaterra ou vamos para um país onde eu possa garantir tudo do melhor ao meu filho, como acesso a ensino inclusivo de qualidade. Se for preciso, nós arranjamos uma forma de eu parar de trabalhar e passar a ser responsável pela educação dele. O meu filho vai ser amado, desejado e feliz e vai saber isso sempre, e vai ser tão amado e tão feliz que nenhuma situação má o vai afetar ao ponto dele querer não estar vivo.". Este foi o plano que fiz na minha cabeça. O meu filho nasceu saudável e até hoje é um menino muito ativo, saudável e, acima de tudo, feliz. Ele tem um atraso a nível do desenvolvimento da linguagem e é acompanhado devidamente, e eu como mãe já tive momentos de pânico interior em que pensava que não queria que o meu filho sofresse, que daqui a pouco outros meninos da idade dele vão perceber que ele não se comunica da mesma forma ou com a mesma fluidez, etc etc e senti e sinto, por vezes, medo daquilo que ele possa passar. Mas ele tem e vai ter sempre uma família que acredita nele e acha que ele é capaz de tudo, que o vai apoiar sempre e que está disposta a fazer qualquer sacrifício pela felicidade dele. E ele vai crescer a saber isso e portanto eu sei que ele vai ser sempre, maioritariamente, feliz. Eu respeito a liberdade de escolha e respeito que as pessoas escolham algo diferente daquilo que eu escolheria. Mas acredito naquilo que estou a dizer, essa é a minha posição pessoal relativamente a este assunto.
Ah, e um aparte...eu nunca me integrei muito, socialmente, em criança e adolescente. Sempre fui diferente, não sei porquê, sempre pensei de forma diferente das minhas colegas, sempre tive preocupações diferentes, sempre reclamei mais, sempre discordei mais, sempre fui mais vocal em relação ao que não concordava. E lembro-me que houve uns anos em que fui alvo de chacota, principalmente para os meninos da turma. Entre o meu 7º e 8º ano. Eu sofria muito e eles sabiam e gostavam disso e faziam mais por eu sofrer e eles conseguirem ver que me afetavam a esse ponto. Para mim, naquela altura, aquilo era o fim do mundo. Aqueles anos poderiam ter determinado o percurso da minha vida. Os meus pais não me ajudaram, eu chorava e explicava-lhes o que acontecia e eles na verdade ficavam irritados por eu me deixar afetar e ainda me diziam coisas como "ah se fosses minha colega eu também gozava contigo porque tu ligas, se não ligasses eles não gozavam contigo". Eu acho que tive sorte porque depois conheci as pessoas certas que me ajudaram e eu consegui erguer-me e ver mais do que aquilo que acontecia. E um dia (eu era muito bem comportada e nunca me metia em sarilhos nas aulas) eu explodi de raiva, depois de uns meninos me terem mandado umas bocas (já nem me lembro que tipo de bocas) no meio de uma aula, sempre pela calada sem o professor ver. Eu levantei-me e virei-me para trás, enfiei a mesa deles contra eles e encurralei-os na parede, o professor a pedir-me para eu parar e eu ignorei-o. E baixinho, enquanto todos os outros se riam da situação, eu disse a esses dois meninos "é a última vez que vocês me mandam uma boca, é a última vez que falam comigo dessa forma, porque da próxima vez eu não vou parar e rebento a mesa em cima de vocês.". Depois parei de empurrar a mesa, pedi desculpa ao professor e saí a meio da aula. Eles nunca mais me mandaram nenhuma boca, nunca mais. E nunca mais nenhum dos outros se atreveu a mandar boca nenhuma. Isto já eu andava no 9º ano. A minha vida tornou-se muito mais fácil, eu fiquei mais confiante e depois comecei a ver-me como eu realmente era e passei a aceitar-me. E embora até hoje seja relativamente sensível ao que os outros me dizem, confio em mim e no meu potencial e sei quem sou, e isso permite-me gostar de mim e saber que dou o meu melhor. E por isso não lamento nada e consigo pôr as coisas más para trás. Aquele dia mudou a minha vida e eu só tive coragem de fazer aquilo porque naquele ano tinha conhecido uma pessoa nova que tinha entrado na minha turma que tinha visto o que acontecia e me tinha dado várias dicas de como agir numa próxima situação. E foi a pessoa certa, no momento certo. Como disse, eu tive sorte em conhecer quem conheci, mas na verdade poderia ter funcionado da mesma forma se a minha família não tivesse desvalorizado e me tivesse aconselhado, tivesse mostrado preocupação com o meu bem-estar, etc. Ou seja, há sempre uma parte que nos cabe a nós, mães e pais, e essa parte é determinante e pode significar tudo.

Dois abortos retidos em Abril e Novembro de 2013.
Positivo a 04/11/2014-É desta!!!! À terceira é de vez!!!!!

Butterfly_901 -
Offline
Desde 06 Abr 2013

Eu conheço um homem com perto de 40 anos, com quase 2mt de altura, que ao nível mental é como se fosse uma criança de 3 anos. Vive permanentemente feliz... Canta, vê filmes, gosta muito de ir à quinta ver os animais. Mas e a mãe?? A senhora tem perto de 65 anos. Tem que lhe dar banho, vesti-lo, entretê-lo. E o pior, é que está a envelhecer. A vida não é fácil para esta mãe.

Conheço outra mulher, esta deve ter cerca de 30 anos que trabalha na mesma câmara que eu. Esta tem um atraso a nível cognitivo, mas quer porque quer casar e ter filhos (ao fim e ao cabo é uma mulher adulta com desejo). A entidade empregadora teve que a tirar das ruas (andava a fazer recados) porque ía para o jardim municipal com todos os homens que encontrasse e fazia-lhes o que eles quisessem. Andava no face a meter-se com homens. Não sabe cuidar de si e coloca-se muitas vezes em situações de grande perigo.

Concordo consigo em tudo...

aries23 escreveu:
Acho que é difícil pormo-nos no lugar dessas crianças porque provavelmente quem tem menor capacidade cognitiva provavelmente não repararia ou sentiria afetado pelas mesmas coisas que nós. Provsvelmente por isso até podem ser felizes desde que tenham quem cuidar deles e estejam protegidos da crueldade de outras crianças e do mundo.
Quanto ao aborto. Podem dizer que há doenças bem piores e que uma pessoa pode acabar por apanhar na mesma, mas isso é como dizer que podemos morrer amanhã com um piano por cima de nós por isso não precisamos de evitar perigos de forma consciente como passar a estrada sem vermos os dois lados. Quando temos capacidade de detetar algo antes do tempo e temos escolha é diferente de quando somos apresentados a uma situação surpresa.
Podem achar egoismo ou dizerem aos outros para "meterem na cabeça de uma vez por todas". Mas o que um acha egoismo pode não ser igual ao outro. Há quem ache egoismo trazer uma criança com deficiência. Toda a gente pode ter a sua opinião subjetiva no que é que é mesmo egoismo, no entanto não é preciso julgar.
Eu sinceramente não sei o que faria, por ser uma decisão difícil. Por isso mesmo que acho que julgamentos neste tema é excusado.
Mas acho que é preciso termos a cabeça na terra quando tomamos esse tipo de decisão pois nos casos que não conseguem ser independentes o que fazem os pais? Eles não estariam cá para sempre e muitos nem têm capacidade financeira para poder um deles ficar em casa a tomar conta da criança. E depois teriam força mental para aguentar o resto da vida deles condicionados completamente pela dependência do filho? Vejo nos filmes onde uma mulher tem que tomar conta de um marido com deficiência grave e o quanto lhes custa, claro que quando se tem marido, mulher ou filhos temos que estar preparados para isso mas quando a realidade aparece não seria fácil e se podessem evitar talvez alguns evitariam. Mas mais uma vez essa decisão seria difícil, pelo que tem que ser tomada por cada casal e não deveria ser julgada. Quem tem que a tomar já sofre o suficiente.

Dois abortos retidos em Abril e Novembro de 2013.
Positivo a 04/11/2014-É desta!!!! À terceira é de vez!!!!!

Tyta.B -
Offline
Desde 31 Jul 2015

Videl86 escreveu:
Agora tenho a certeza que uma criança/pessoa com limitações que foi muito gozada na escola, embora tenha marcas disso, não pensa que preferia não ter vivido do que ter vivido com esses traumas! Uma criança amada, apreciada e protegida pela sua família, não pensa que preferia nunca ter nascido do que ter nascido e sofrer humilhações na escola! E bullying todos podem sofrer, uns por umas coisas, outros por outras. É nosso papel de mães e pais ensinarmos os nossos filhos a não se deixarem afetar por bullying, estarmos atentas, fazermos o que estiver ao nosso alcance. Acima de tudo, sabermos o que se passa na vida dos nossos filhos por estarmos atentas, e não porque esperamos que eles nos venham contar porque muitas vezes não o fazem.
Quando eu estava grávida do meu filho não consegui fazer rastreio do 1º trimestre. Ele não colaborou, não permitiu fazer o exame, mesmo depois de horas a tentar. Na altura eu ainda vivia em Inglaterra e eles lá tentam aquele dia e não insistem mais. Disseram-me para voltar às 15 semanas para fazer um exame de sangue e obter uma probabilidade para T21. Mas o rastreio bioquímico teria sido mais fiável, mesmo que sendo probabilístico. Eu pensei muito na altura. Eu sabia que não ia abortar se tivesse T21...e sabia que não ia abortar a não ser num caso muito extrema. Nessa altura eu já estava de viagem marcada para Portugal, para regressar, e o que pensei foi "Vai correr tudo bem, ele vai ser saudável. Se não for, nós conseguimos dar conta da situação. Se a situação for muito grave, nós voltamos para Inglaterra ou vamos para um país onde eu possa garantir tudo do melhor ao meu filho, como acesso a ensino inclusivo de qualidade. Se for preciso, nós arranjamos uma forma de eu parar de trabalhar e passar a ser responsável pela educação dele. O meu filho vai ser amado, desejado e feliz e vai saber isso sempre, e vai ser tão amado e tão feliz que nenhuma situação má o vai afetar ao ponto dele querer não estar vivo.". Este foi o plano que fiz na minha cabeça. O meu filho nasceu saudável e até hoje é um menino muito ativo, saudável e, acima de tudo, feliz. Ele tem um atraso a nível do desenvolvimento da linguagem e é acompanhado devidamente, e eu como mãe já tive momentos de pânico interior em que pensava que não queria que o meu filho sofresse, que daqui a pouco outros meninos da idade dele vão perceber que ele não se comunica da mesma forma ou com a mesma fluidez, etc etc e senti e sinto, por vezes, medo daquilo que ele possa passar. Mas ele tem e vai ter sempre uma família que acredita nele e acha que ele é capaz de tudo, que o vai apoiar sempre e que está disposta a fazer qualquer sacrifício pela felicidade dele. E ele vai crescer a saber isso e portanto eu sei que ele vai ser sempre, maioritariamente, feliz. Eu respeito a liberdade de escolha e respeito que as pessoas escolham algo diferente daquilo que eu escolheria. Mas acredito naquilo que estou a dizer, essa é a minha posição pessoal relativamente a este assunto.
Ah, e um aparte...eu nunca me integrei muito, socialmente, em criança e adolescente. Sempre fui diferente, não sei porquê, sempre pensei de forma diferente das minhas colegas, sempre tive preocupações diferentes, sempre reclamei mais, sempre discordei mais, sempre fui mais vocal em relação ao que não concordava. E lembro-me que houve uns anos em que fui alvo de chacota, principalmente para os meninos da turma. Entre o meu 7º e 8º ano. Eu sofria muito e eles sabiam e gostavam disso e faziam mais por eu sofrer e eles conseguirem ver que me afetavam a esse ponto. Para mim, naquela altura, aquilo era o fim do mundo. Aqueles anos poderiam ter determinado o percurso da minha vida. Os meus pais não me ajudaram, eu chorava e explicava-lhes o que acontecia e eles na verdade ficavam irritados por eu me deixar afetar e ainda me diziam coisas como "ah se fosses minha colega eu também gozava contigo porque tu ligas, se não ligasses eles não gozavam contigo". Eu acho que tive sorte porque depois conheci as pessoas certas que me ajudaram e eu consegui erguer-me e ver mais do que aquilo que acontecia. E um dia (eu era muito bem comportada e nunca me metia em sarilhos nas aulas) eu explodi de raiva, depois de uns meninos me terem mandado umas bocas (já nem me lembro que tipo de bocas) no meio de uma aula, sempre pela calada sem o professor ver. Eu levantei-me e virei-me para trás, enfiei a mesa deles contra eles e encurralei-os na parede, o professor a pedir-me para eu parar e eu ignorei-o. E baixinho, enquanto todos os outros se riam da situação, eu disse a esses dois meninos "é a última vez que vocês me mandam uma boca, é a última vez que falam comigo dessa forma, porque da próxima vez eu não vou parar e rebento a mesa em cima de vocês.". Depois parei de empurrar a mesa, pedi desculpa ao professor e saí a meio da aula. Eles nunca mais me mandaram nenhuma boca, nunca mais. E nunca mais nenhum dos outros se atreveu a mandar boca nenhuma. Isto já eu andava no 9º ano. A minha vida tornou-se muito mais fácil, eu fiquei mais confiante e depois comecei a ver-me como eu realmente era e passei a aceitar-me. E embora até hoje seja relativamente sensível ao que os outros me dizem, confio em mim e no meu potencial e sei quem sou, e isso permite-me gostar de mim e saber que dou o meu melhor. E por isso não lamento nada e consigo pôr as coisas más para trás. Aquele dia mudou a minha vida e eu só tive coragem de fazer aquilo porque naquele ano tinha conhecido uma pessoa nova que tinha entrado na minha turma que tinha visto o que acontecia e me tinha dado várias dicas de como agir numa próxima situação. E foi a pessoa certa, no momento certo. Como disse, eu tive sorte em conhecer quem conheci, mas na verdade poderia ter funcionado da mesma forma se a minha família não tivesse desvalorizado e me tivesse aconselhado, tivesse mostrado preocupação com o meu bem-estar, etc. Ou seja, há sempre uma parte que nos cabe a nós, mães e pais, e essa parte é determinante e pode significar tudo.

Isto já é off topic, mas infelizmente no "campo bullying" eu tenho experiência e vou ter de discordar. Cabe aos pais ajudar os filhos a ter autoestima suficiente para lidar com essas bocas e provocações, mas quando o bullying se traduz em agressões físicas o que é suposto uma mãe fazer? O meu filho todos os dias levava porrada de 2 miúdos, um deles com 10 anos pesava 60 kg - o dobro do meu filho - e o outro, como era filho de professores, a escola protegia-o e recusava-se a ajudar-me. Vi-me obrigada a fazer queixa na GNR. O meu miúdo, que não tem problemas nenhuns, facilmente contou toda a história aos 2 agentes que nos atenderam, à médica que fez o exame corporal, à assistente social, e mais tarde ao professor encarregado do processo disciplinar que o tribunal obrigou a escola a abrir. Agora digam-me, uma criança com problemas em se conseguir explicar, como ia conseguir fazê-lo?

Seja como for, e voltando a falar de forma egoísta, o sentimento de impotência e de nulidade que senti naquela época arrasou-me. Ter um filho dependente ia-me provocar este sentimento a vida toda, principalmente porque ia cismar no futuro, quando eu já cá não estivesse para lhe poder proporcionar o melhor possível.

Mas tenho um imenso respeito por quem tem coragem de embarcar numa jornada destas de forma consciente. Vocês são bem mais corajosas que eu.

Videl86 -
Offline
Desde 18 Jul 2014

Tyta, eu já pensei em muitos cenários, mesmo os mais extremos (de bullying) e eu era menina para mudar de cidade/país se não visse alternativa. Fá-lo-ia sem hesitar muito. Eu acredito que com empenho, dedicação, esforço, somos capazes de tudo, então acredito muito nos planos a longo prazo que nós definimos. Começar de novo não me assusta. Se eu tivesse um filho que eu acreditasse ser limitado a um ponto que não conseguiria relatar situações vividas, era perfeitamente capaz de o colocar em ensino doméstico, frequentar grupos de socialização e pronto, assunto resolvido (aqui em casa somos bastante empreendedoras e temos sempre 2 ou três projeto profissionais em simultâneo para o caso de alguma coisa ter de parar).

A única coisa que me faz confusão é essa questão de o que iria acontecer depois de eu morrer. Parte-me o coração pensar. Mas não conseguiria interromper uma gravidez apenas por causa disso. Provavelmente iria acreditar que no tempo que conseguisse estar aqui ia haver alguma coisa inovador que ia fazer com que quando eu morresse já existissem soluções para estas situações.

Butterfly, engraçado, as nossas situações têm realmente algumas semelhanças, o meu irmão também sempre teve muitas dificuldades com a linguagem. Não tantas como o seu irmão, mas teve mais dificuldades do que o normal. e eu acho que isto tem algo de hereditário. Eu estou convencida que o meu filho tem DEL (distúrbio específico de linguagem), ele vai agora este mês a um novo pediatra do desenvolvimento que têm experiência com este tipo de casos, assim daqui a pouco terei um diagnóstico mais específico. Eu até acho que a nível expressivo ele tem feito grandes evoluções, ele consegue comunicar muito bem aquilo que quer. Noto agora que, embora faça frases, falham-lhe os conectores. Por exemplo, ele pede-me uma coisa qualquer, uma bolacha por exemplo. Eu vou buscar a bolacha e dou-lhe para a mão e ele diz "Obrigada bolacha, mamã", quando deveria dizer "Obrigada PELA bolacha, mamã". Também tem tendência para trocar a ordem das palavras na frase, em particular se forem frases que ele não diz habitualmente, por exemplo "quero por isto no lixo da cozinha" (quando eu lhe estou a dizer para pôr no lixo do quarto), é possível que ele diga "quero pô cozinha, lixo". Mas comunica-se relativamente bem, no sentido em que até pessoas estranhas entendem aquilo que ele diz, nem sempre mas muitas vezes. A maior dificuldade que noto nele é a nível da linguagem recetiva, eu acho que ele tem alguma dificuldade em entender o que lhe é dito, especialmente se for uma estrutura complexa com várias orações ou mesmo condicionais. Por exemplo, para eu ter a certeza que ele me entende, digo-lhe "Primeiro tens de comer a sopa, depois podes comer gelatina!" porque se eu lhe disser "Se não comeres a sopa não comes a gelatina" ele é capaz de não perceber à primeira (dupla negativa); ou em vez de dizer "se acabares a tua fruta, a mãe depois dá-te uma bolacha!", digo-lhe "come a fruta e depois há bolacha". DEL é diferente em todas as crianças e tem vários níveis, uns mais suaves outros mais severos. As crianças com DEL têm uma área do cérebro que funciona de uma forma ligeiramente diferente do típico, e é precisamente a área que está afetada nas pessoas com dislexia. DEL está, de certa forma, ligado com dislexia. A maioria das crianças com DEL acabam por desenvolver a linaguagem tal como as outras crianças e em adultos geralmente não se nota diferença, mas o esforço que fazem é muito maior, então quando entram na escola têm tendência a ter dificuldades porque o seu entendimento da linguagem oral não é o nosso entendimento. Quando falei desta possibilidade de DEL ao pediatra do meu menino, e referi o meu irmão, ele perguntou logo "como é que correu na escola com o seu irmão?" e eu disse "na escola foi o princípio do fim" e foi, para o meu irmão foi. Ele sempre foi mau aluno e naquele tempo as pessoas não tinham muita informação, os meus pais achavam que ele era preguiçoso, chamavam-lhe burro, etc. Os professores não ajudavam muito. A situação foi-se arrastando e ele reprovou no 9º ano. Depois tentou fazer cursos profissionais para equivalência a 12º ano mas desmotivou muito e desistiu de estudar (já com o 9º ano). Acabou por fazer um profissional e ter equivalência a 12º aos 25 anos. O engraçado é que o meu irmão sempre foi muito popular e nunca teve nenhum tipo de dificuldade social, sempre teve muitos amigos e dava-se bem com toda a gente - eu sempre fui ótima aluna a tudo e tinha vários problemas de integração social lol
Bem, posto isto, eu percebi logo que o meu filho poderia ter o mesmo que o meu irmão tinha e imediatamente prometi a mim própria que não ia deixar que lhe acontecesse o que aconteceu ao meu irmão (a desmotivação, a falta de ajuda, etc) e estou confiante que começando intervenção agora ele não vai ter problemas de maior no futuro. Se eu vir que tem, eu sou professora de 1º ciclo, não me importo de o colocar em ensino doméstico se for absolutamente necessário para ele desenvolver todo o seu potencial, pelo menos durante o período de 1º ciclo que considero o mais importante e a nossa base escolar. Penso que talvez o seu filhote possa ter alguma coisa parecida. Não é o que queremos, claro, mas felizmente não é nada de grave e temos muitas formas de os ajudar Sorriso

Sobre Videl86

08 de dezembro de 2014 <3 49,5 cm e 2,920 de amor e doçura <3
13 de dezembro de 2017 <3 47 cm e 2,815 de fofurice e amor <3

Lili79 -
Offline
Desde 12 Dez 2016

aries23 escreveu:
Acho que é difícil pormo-nos no lugar dessas crianças porque provavelmente quem tem menor capacidade cognitiva provavelmente não repararia ou sentiria afetado pelas mesmas coisas que nós. Provsvelmente por isso até podem ser felizes desde que tenham quem cuidar deles e estejam protegidos da crueldade de outras crianças e do mundo.
Quanto ao aborto. Podem dizer que há doenças bem piores e que uma pessoa pode acabar por apanhar na mesma, mas isso é como dizer que podemos morrer amanhã com um piano por cima de nós por isso não precisamos de evitar perigos de forma consciente como passar a estrada sem vermos os dois lados. Quando temos capacidade de detetar algo antes do tempo e temos escolha é diferente de quando somos apresentados a uma situação surpresa.
Podem achar egoismo ou dizerem aos outros para "meterem na cabeça de uma vez por todas". Mas o que um acha egoismo pode não ser igual ao outro. Há quem ache egoismo trazer uma criança com deficiência. Toda a gente pode ter a sua opinião subjetiva no que é que é mesmo egoismo, no entanto não é preciso julgar.
Eu sinceramente não sei o que faria, por ser uma decisão difícil. Por isso mesmo que acho que julgamentos neste tema é excusado.
Mas acho que é preciso termos a cabeça na terra quando tomamos esse tipo de decisão pois nos casos que não conseguem ser independentes o que fazem os pais? Eles não estariam cá para sempre e muitos nem têm capacidade financeira para poder um deles ficar em casa a tomar conta da criança. E depois teriam força mental para aguentar o resto da vida deles condicionados completamente pela dependência do filho? Vejo nos filmes onde uma mulher tem que tomar conta de um marido com deficiência grave e o quanto lhes custa, claro que quando se tem marido, mulher ou filhos temos que estar preparados para isso mas quando a realidade aparece não seria fácil e se podessem evitar talvez alguns evitariam. Mas mais uma vez essa decisão seria difícil, pelo que tem que ser tomada por cada casal e não deveria ser julgada. Quem tem que a tomar já sofre o suficiente.

Não foi para julgar ninguém que eu comentei. Cada um é livre de fazer o que quiser e não julgo quem fez ou faria um aborto nestas situações. Simplesmente quis relembrar que a vida é feita de acontecimentos inesperados e não vale a pena dizer "eu não conseguiria cuidar de um filho deficiente" ou "eu não conseguiria viver a pensar no futuro dele" porque sem esperarmos as coisas acontecem e de repente somos todas capazes de cuidar e viver com uma criança deficiente porque é nosso filho, que amamos e por quem fazemos tudo.
Agora claro ninguém quer nem ninguém idealiza mas se acontecer, vamos à luta!

SU NEVES -
Offline
Desde 19 Nov 2012

Bem, estou a ver que realmente e um assunto controverso. Mas foi bom ouvir outras opiniões. E um assunto em que penso bastante. Tive o meu filho, saudável graças a deus, com 15 anos, criei o praticamente sozinha e as vezes penso, se não quis abortar naquela altura difícilmente alguma coisa me faria abortar agora. Embora, seja totalmente a favor do aborto acho que em qualquer cenário a mulher tem direito a dizer "eu não estou preparada para isto". Mas conscientemente não metia um filho ao mundo com deficiência. Claro que durante a vida, pode sempre acontecer coisas más, mas são as circunstâncias da vida e não uma escolha egoísta da minha parte. Agradeço a todas as meninas que postaram no tópico. E claro desejo tudo de melhor para cada uma de vocês.

Sobre SU NEVES

2001 nasceu o meu Leandro
Treinante 2º viagem desde 09/2014
1° Fiv Set 2019(+) Gravidez ectopica(remoção das duas trompas).
Tec Janeiro cancelada!Tec Fevereiro...(-).
Tec Agosto... ++++ AR as 8 semanas.Tec Janeiro(-)
2°Fiv Dez 2021

aries23 -
Offline
Desde 18 Jul 2016

Lili79 escreveu:

aries23 escreveu:Acho que é difícil pormo-nos no lugar dessas crianças porque provavelmente quem tem menor capacidade cognitiva provavelmente não repararia ou sentiria afetado pelas mesmas coisas que nós. Provsvelmente por isso até podem ser felizes desde que tenham quem cuidar deles e estejam protegidos da crueldade de outras crianças e do mundo.
Quanto ao aborto. Podem dizer que há doenças bem piores e que uma pessoa pode acabar por apanhar na mesma, mas isso é como dizer que podemos morrer amanhã com um piano por cima de nós por isso não precisamos de evitar perigos de forma consciente como passar a estrada sem vermos os dois lados. Quando temos capacidade de detetar algo antes do tempo e temos escolha é diferente de quando somos apresentados a uma situação surpresa.
Podem achar egoismo ou dizerem aos outros para "meterem na cabeça de uma vez por todas". Mas o que um acha egoismo pode não ser igual ao outro. Há quem ache egoismo trazer uma criança com deficiência. Toda a gente pode ter a sua opinião subjetiva no que é que é mesmo egoismo, no entanto não é preciso julgar.
Eu sinceramente não sei o que faria, por ser uma decisão difícil. Por isso mesmo que acho que julgamentos neste tema é excusado.
Mas acho que é preciso termos a cabeça na terra quando tomamos esse tipo de decisão pois nos casos que não conseguem ser independentes o que fazem os pais? Eles não estariam cá para sempre e muitos nem têm capacidade financeira para poder um deles ficar em casa a tomar conta da criança. E depois teriam força mental para aguentar o resto da vida deles condicionados completamente pela dependência do filho? Vejo nos filmes onde uma mulher tem que tomar conta de um marido com deficiência grave e o quanto lhes custa, claro que quando se tem marido, mulher ou filhos temos que estar preparados para isso mas quando a realidade aparece não seria fácil e se podessem evitar talvez alguns evitariam. Mas mais uma vez essa decisão seria difícil, pelo que tem que ser tomada por cada casal e não deveria ser julgada. Quem tem que a tomar já sofre o suficiente.

Não foi para julgar ninguém que eu comentei. Cada um é livre de fazer o que quiser e não julgo quem fez ou faria um aborto nestas situações. Simplesmente quis relembrar que a vida é feita de acontecimentos inesperados e não vale a pena dizer "eu não conseguiria cuidar de um filho deficiente" ou "eu não conseguiria viver a pensar no futuro dele" porque sem esperarmos as coisas acontecem e de repente somos todas capazes de cuidar e viver com uma criança deficiente porque é nosso filho, que amamos e por quem fazemos tudo.
Agora claro ninguém quer nem ninguém idealiza mas se acontecer, vamos à luta!

Não vale a pena para si evitar, tudo bem. Cada um é livre de pensar como quer. No entanto cabe a si expor os seus argumentos de forma mais ou menos diplomática em vez de "metam na cabeça" ou algo semelhante (não sei qual foi o que a Lili colocou, o meu comentário também foi para mais que um comentário).

Mas acho é que não vale a pena repetir o que já foi dito neste tópico. A Lili ou outra mamã disse que não vale a pena evitar pois nunca sabemos o que nos espera, eu disse que isso é como dizer que podemos morrer amanhã por isso não precisamos de nos preocupar com nada, o que vale estarmos em ciclo a escrever o mesmo? Já disse tudo no meu último comentário, não tenho mais nada a acrescentar.

Mama do Martim -
Offline
Desde 29 Mar 2010

O meu filho do meio teve no rasteio do primeiro trimestre a probabilidade de 1/4 de ser portador de trissomia 21. Avancei para a amniocentese só e apenas para ter certezas e me poder preparar para o receber da melhor maneira,porque nem por 1 segundo me passou pela cabeça abortar.
Actualmente tem quase 4 anos,é "normal",lindo,saudável e esta vivo e estaria ba mesma se fosse portador de trissomia.

Só interromperia uma gravidez se o bebé tivesse algo incompatível com a vida ou que lhe provocasse uma vida de sofrimento.

dona_amora -
Offline
Desde 20 Maio 2012

Ana Svensson escreveu:
Eu não faria. A única possibilidade de um dia vir a fazer um aborto seria se o bebé tivesse algum problema que o impedisse de sobreviver depois de nascer. Trissomia 21 não é o fim do mundo. Há tantas outras doenças priores e mais incapacitantes. Acho sinceramente que quem usa o argumento de que a criança iria ser infeliz e sofrer a vida toda, o faz como forma de se convencer a si própria que não está a tomar uma decisão egoísta. A verdade é que ter um filho com trissomia 21 complica muito a nossa vida e naturalmente nenhuma de nós sonhou com isso. Mas para a criança não é uma sentença de uma vida infeliz. Podemos ter um bebé perfeitamente saudável que meses ou anos mais tarde fique gravemente doente ou incapacitado e não é por isso que a solução passa por matá-lo. Da mesma forma, uma pessoa dita normal pode ser muito mais infeliz do que uma pessoa com deficiência e pode também ser descriminada por tantos outros aspectos. Não podemos prever ,no momento em que estamos grávidas, como será a vida do nosso filho, independentemente de parecer ou não saudável na ecografia. E eu não me sintonia no direito de decidir que um filho não poderia viver porque afinal não é bem como eu imaginei.

Concordo com esta mamã

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.