Em 2007 engravidei do meu 1º filho, cheia de sonhos vivendo uma gravidez maravilhosa sem enjoos nem mal estar. Ás 24 semanas vou de urgência para o hospital com dores horríveis mas sem grande perda de sangue. Estava com um descolamento de placenta e só não perdia muito sangue porque a hemorragia era interna, o que ainda é pior. Fizeram de tudo para salvar o meu bebe, mas ele acabou por morrer dentro de mim e nasceu de "parto normal" 16 horas depois. Santiago era o seu nome, não o quis ver, pois acho que não ia aguentar, prefiro imagina-lo como um bebe lindo e não como um bebe sem vida. Estive em risco de vida e levei 2 transfusões de sangue.
Costumam dizer-me que os médicos foram crueis em deixar-me sofrer tantas horas, que podiam ter-me feito uma cesariana, mas a verdade é que se o têm feito só aumentariam a hemorragia e o risco de eu morrer ou então poderia ficar estéril.
Com 24 semanas já não é considerado aborto, mas sim parto de um nado morto. Por lei já é obrigatório fazer funeral.
Em 2008 voltei a engravidar. Quando fiz o teste e deu positivo chorei de alegria. Mais uma gravidez maravilhosa sem enjoos nem mal estar, desta vez era uma menina, a minha Margarida. Na 2ª ecografia, o médico detecta uns valores anormais no cérebro. Não me quis alarmar logo, mas mandou-me repetir a eco na semana seguinte para confirmar se os valores se mantinham ou diminuiam. Confirmou-se o pior, a minha menina tinha hidrocefalia(excesso de liquido no cérebro)e também tinha ausência do corpo caloso(não tinha a ligação que une os 2 hemisférios cerebrais). Tomei a decisão mais difícil da minha vida, interromper a gravidez, não sem antes passar dias a fazer exames para confirmar tudo sem sombra de dúvida até ficar psicologicamente destruída. Antes de fazer uma R.magnética estava tão alterada que só chorava, fiquei sem ar e o meu corpo todo tremia ao ponto de não me segurar de pé.
Ás 27 semanas provocaram-me o parto, chamam-lhe IMG(interrupção médica de gravidez). Só é feita em casos de mal-formação fetal e até ás 24 semanas, depois deste tempo só é feita em casos muito graves e tem de ser por concelho médico( grupo de médicos da equipe que votam por unanimidade para que possa ser feita).
Desta vez, como estava num hospital universitário, doei o corpo da minha Margarida para estudo. Para minha paz de espírito, pelo menos fico feliz se ela poder ajudar na descoberta de tratamentos para outros bebes.
Em 2009 volto a engravidar e se tudo correr bem irei ter a minha filha Mariana nos meus braços, no próximo mês de Abril.
Dizem-me que não sabem como tive coragem de tentar uma 3ªvez, mas a verdade é que os médicos não me encontram problema nenhum, dizem que tive 2 "azares" que não têm qualquer relação e que podem acontecer a qualquer mulher. Eu tive o azar de me acontecerem os 2 a mim, mas não é por isso que perdi a esperança. Tenho rezado muito e só peço que Deus me proteja a mim à minha bebe. Estou com 36 semanas e tenho fé que desta vez vou ouvir a minha filha chorar e tela nos meus braços. É o meu sonho, depois de 2 partos de bebes sem vida, que não choram, de ficar na maternidade de braços vazios a ouvir e a ver os bebes das outras a chorar e a viver, eu não consigui deixar de ter uma certa "inveja" dessas mães.
Só gostava que todas as mães se dessem conta da benção que têm quando têm os seus bebes. Como normalmente corre tudo bem, damos as coisas por garantidas e nem nos apercebemos do milagre da vida.
Peço também a todas as mulheres que pensam em abortar, ás vezes por motivos insignificantes, que pensem 2 vezes. Eu ainda me recrimino por tê-lo feito na 2ª gravidez, embora o caso fosse muito grave tive de ir contra as minhas convicções e só espero que Deus e a minha filha me perdoem. Ainda choro muitas vezes pelo que fiz, mas foi a minha opção na altura.
Beijos a todas.....