Parto - O meu | De Mãe para Mãe

Parto - O meu

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sofiamamadedois -
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Desde 07 Jul 2012

Já se passaram quase dois anos desde que nasceu a minha bebé. Foram dois anos tão ocupados, tão bem ocupados, que ainda não tive disponibilidade para aqui deixar o meu relato. No entanto, sabendo eu que o momento do parto ocupa muito espaço na cabeça de uma futura mãe, resolvi aqui deixar o meu testemunho dois anos depois.
Eu vinha profundamente traumatizada de um primeiro parto, 10 anos antes, onde eu não tinha tido qualquer intervenção e onde me deixei comandar por uma ginecologista-obstetra que, usando de um eufemismo, era muito obstinada na sua prática e pouca sensível à vontade demonstrada pela paciente. Eu não fiquei isenta de culpa porque fui participando do desenrolar do caso como se de um espectador se tratasse. Escusei-me a tomar uma decisão e continuei agarrada a uma médica que claramente não era uma boa opção para mim. Pior ainda porque cedo percebi que aquela médica não iria nunca dar-me o acompanhamento e o parto que desejava. Em meu abono tinha o facto de ser bastante ingénua e de acreditar que o curso de medicina concederia algum tipo de dom divino às pessoas; absurdamente acreditava que a prática médica era uma só e nunca sujeita a opinião. Erro meu, a medicina é igual a qualquer outro ramo, da ciência ou não, e muitos são os que aparentam reger-se por boas práticas e são apenas profissionais médios ou medíocres. Bom, dizia eu que esse parto passado me dava, desta vez, alguma bagagem de forma a não perder o controlo da situação. Parti portanto para esta gravidez já numa idade avançada, muito difícil de alcançar, os quarenta tinham chegado, com uma cesariana no histórico e com um belo trauma na cabeça. A médica que me acompanhava era, de facto, uma profissional de excelência, que brilhantemente me acompanhou na luta para alcançar a gravidez e que sempre se mostrou disponível para tudo. Ou quase tudo. Chegada às derradeiras semanas de gravidez percebi claramente que a médica era favorável a uma segunda cesariana, o que certamente constituiria a decisão médica mais adequada ao quadro. Não era o que eu queria, não era o que o meu corpo pedia. Abro aqui parêntesis para deixar bem claro que sou grande adepta da ciência e muito pouco dada a "esoterismos". No entanto, o meu corpo negava-se a aceitar uma segunda cesariana da mesma forma que aceitei a primeira. Contra tudo e contra todos, resolvi procurar outro médico que me apoiasse na decisão de levar a gravidez até onde pudesse levar. Não queria precipitar o parto logo às 38 ou 39 semanas e sentenciar-me, quase de certeza, a uma segunda cesariana. Fui procurando por médicos, gastando avultadas quantias de dinheiro, e gerindo esta minha derradeira fase da gravidez. Estava segura de não estar a arriscar a saúde da minha bebé e sentia-me com força para continuar. Ao contrário do parto anterior, este seria um momento em que também tinha algum poder de decisão. Ao final de algumas visitas encontrei uma médica que me indicou um outro e cuja equipe não se opunha a ter de provocar o parto caso ele não se despoletasse naturalmente. Iam, portanto, tentar tudo para que eu não tivesse de fazer uma outra cesariana. Esse meu desejo decorria não só do facto de ter sofrido horrores durante e após a cirurgia, mas também pelo facto de me ter sentido violentada no ato de dar à luz. Sabia nessa altura, como soube depois, que a cesariana ia ser forçada, um ato médico que facilitaria em tudo a vida do médico, acarretaria poucos riscos, traria um excedente lucrativo ao hospital e era rápido. Nunca, em circunstância alguma, me oporia à cesariana fosse esse ato justificado com riscos tangíveis para mim ou para o bebé. Doutra forma, ia manter-me fiel ao meu corpo e deixar a natureza, controladamente, seguir o seu curso. À data prevista do parto não havia quaisquer sinais de que o meu bebé queria sair. Tudo igual à primeira gravidez. Mas agora eu não cedi a temores infundados e a cenários hipotéticos de catástrofe. Estava tudo bem. Fui empurrando a decisão de induzir o parto até às 42 semanas, num hospital público, e só nessa altura concordei com a indução. De acordo com a opinião médica, teria de ser feita muito subtilmente, havia o risco de ruptura uterina por causa da cesariana anterior, e era suposto ser um teste de paciência. Nessa altura estava muito mais tranquila e sabia que ia correr tudo pelo melhor. Dei entrada no hospital de manhã, preparada para continuar a resistir a decisões fáceis mas esperançosa numa equipe responsável. Foi o que aconteceu. Há excepção de uma enfermeira bem rabugenta e de trato abrutalhado, tudo me foi favorável. Dado o meu colo do útero não responder a contínuos toques maldosos, já tentados anteriormente por três vezes, e a permanência na estaca zero – dilatação zero! – o médico optou por me introduzir 1/3 de uma tira de prostaglandinas. Era cerca de meio-dia. Muito rapidamente tudo se desencadeou. A partir daquele momento começaram as contracções, e em força, tendo começado também a dilatação. Os constantes toques são bastantes desagradáveis e constrangedores mas a verdade é que tudo se torna irrelevante num momento tão decisivo. Os médicos foram absolutamente geniais, do ponto de vista humano e médico, nunca descartando a minha vontade. As dores começaram a apertar, é realmente violento, mas nunca, em altura alguma, vacilei na minha decisão e desejei seguir para o bloco operatório. Caminhei enquanto me deixaram e creio que, se dependesse de mim, teria continuado a fazê-lo. Acontece que aos 4 ou 5 cm de dilatação segui para a sala de partos e me deram a epidural. Não é agradável, não. Confesso que a epidural do primeiro parto foi bem menos penosa. No entanto, o resultado foi um alívio brutal. As dores cessaram. Fiquei ali na cama, ligada ao CTG, com o soro e as máquinas a rodearem-me. Tudo muito tranquilo. Ainda levei uma segunda dose de anestesia porque ao final de algumas horas já estava, outra vez, a contorcer-me de dores. Rebentaram-me naturalmente as águas, uma sensação de “pum” banhada a água bem quente! Os auxiliares imediatamente limparam tudo e fui aconselhada a descansar porque “dentro de algumas horas” seria altura de contribuir. Não foram precisas horas. Passado muito pouco tempo, senti uma vontade imensa de puxar e um peso enorme. Chamei a parteira que, após mais um toque, me comunicou com um sorriso nos lábios que era chegada a altura. Rapidamente o quarto se transformou e eu tomei consciência que era chegada a altura. Fui puxando e fazendo força de acordo com as indicações da equipa e com a minha própria vontade. Apesar da epidural, a dor não desapareceu por completo e senti o que se estava a passar. Ainda tive tempo de pedir à parteira para não me fazer uma episiotomia, queria evitar, e naturalmente a minha bebé nasceu. Eram dez da noite.
Apesar de não ter sido o parto ideal, houve mais intervenção médica do que desejaria, foi o parto possível, responsável e com cedências da minha parte e da equipe médica. Foram espectaculares e nunca me trataram como uma ignorante sem direito de intervenção. A haver próximo parto, coisa que nesta altura não vai certamente acontecer, teria agora ainda mais certezas e menos receios. Médicos sim, déspotas não.
Único conselho que dou, escolham um bom médico, um cuja escola e bagagem médica se enquadre no parto que desejam. Não há uma só verdade médica.

cristiana_c -
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Desde 26 Mar 2013

Meu Deus como as pessoas são diferentes...só eu morria de medo de parto normal e fui para o privado para ter a certeza que me faziam cesariana e correu lindamente!! Sou profissional de saúde e ouço cada relato dos partos naturais que ganhei pavor... malformações, complicações para o bebé, forceps, ventosas mal colocadas, sofrimento fetal, episiotomias infetadas, incontinencia urinária... tudo muito mau, na cesariana o ambiente é totalmente controlado, a minha bebé nasceu em 5 min e o pai estava comigo a ver tudo!No dia seguinte eu já estava a caminhar e sem dor! O próximo filho é cesariana na certa Piscar o olho fiquei fã!!!

sandrapep -
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Desde 02 Jan 2013

Gostei muito de ler o seu relato, mamã.
Tb eu passei por um primeiro parto em que, ignorantemente me coloquei nas mãos do médico (privado, escolhido por mim) e fui para uma indução que nada teve de natural e terminou em cesariana com anestesia geral.

Na minha segunda gravidez, estava decidida a ter um parto normal e, apesar da médica do hospital público onde, desta vez, fui seguida, querer agendar indução para as 39 semanas, eu manifestei com firmeza a minha decisão de ter um parto normal e natural (quando chegasse a hora e não quando os médicos decidissem que tinha chegado a hora).

A minha bebé nasceu às 41s e 3d e foi uma experiência que eu não trocaria por nada Espertalhão
As dores do momento esquecem-se num instante; fui tratada de forma irrepreensível e, quando comparo esta experiência num hospital público com a anterior num hospital privado em que paguei um balúrdio, penso que não recebi nada a menos que na experiência anterior: profissionalismo, humanidade, conforto.

Cada experiência vale o que vale, mas eu subscrevo que a mulher deve ter a última palavra.

Sobre sandrapep

Amamentei desde 1 de Junho de 2012 até 20 de fevereiro de 2014. Uma maratona com altos e baixos, mas que valeu a pena!
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Madrinha babada do Gonçalinho da Vanithah. Já moras no meu coração!
Madrinha orgulhosa da AMOA_MAR.

Desde 13 Set 2012

Olá mamã!

Não importa se passaram 2 anos ou 2 meses; o que é verdadeiramente importante é o legado que fica do seu testemunho. Quero dar-lhe os parabéns não apenas pela sua filhota, mas pela forma limpa, esclarecida e brilhante como escreve. Não é frequente lerem-se textos com tal qualidade...

Devo dizer-lhe que concordo inteiramente consigo em tudo o que escreveu e subscrevo totalmente o conselho que nos deixou. Tal como você, eu também não voltarei a ser mãe, pois, também eu, já vivi essa experiência maravilhosa por duas vezes e sinto-me totalmente compensada e completa com o meu casal de príncipes.

Ao contrário de si, não tenho nenhum trauma a relatar, pois vivi dois partos fantásticos, dignos de serem relatados, pois por vezes lemos demasiadas experiências traumáticas. Felizmente sempre me preocupei com a escolha dos médicos que me deveriam acompanhar e jamais me contentei a ser mera espetadora num momento em que eu não queria ser menos do que a protagonista. A joana nasceu há 10 anos às 36 semanas de gestação mas apenas porque lhe apeteceu nascer antes do que deveria. Felizmente, essa antecipação não foi demasiado antecipada e tudo correu bem e ela nem precisou de grande ajuda médica para se manter saudável cá fora. O Duarte nasceu há quase 17 meses às 38 semanas e 4 dias de parto induzido, mais por mim do que por ele. Ele era enorme e eu deixei literalmente de conseguir andar devido ao peso e à posição em que ele estava. Tive a Joana aos 32 anos e o Duarte aos 41. Nem um nem outro nascerem nem cedo nem tarde; nasceram quando eu considerei que era o momento certo e, como em tudo na vida e no que de nós dependa, creio que é assim que deve sempre acontecer...

Mais uma vez, muitos parabéns pela sua pequena e muito obrigada por partilhar connosco a sua experiência.

Beijinhos e tudo de bom

SMSantos

saramfernandes -
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Desde 04 Nov 2014

É sempre bom ler estas experiências. Eu tive um parto terrivel. Foi de tal forma mau que não penso em repetir.
Fui massacrada para ter um parto normal e só quando eu e o meu pequeno estávamos a passar para o outro lado é que levaram para cesariana. No meu caso tenho pena de não ter ido logo para cesariana.
Mas pronto.
Muitas felicidades

Catarina C. -
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Desde 04 Maio 2014

Cristian_ C também penso assim Sorriso felizmente tenho um medico que apoia a minha decisão, seja parto normal ou cesariana, ele trabalha no privado e num hospital publico. É muito importante sermos acompanhadas por bons profissionais e que respeitam as nossas opiniões e ideias. Portanto vamos ver como corre Sorriso

O meu Miguel, nasceu a 13 de Dezembro de 2014 e tornou-se um anjinho dia 03 de Janeiro de 2015. Nunca te esquecerei, o meu coração e alma ficaram mais vazios sem ti....

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