Olá bom dia, gostaria de partilhar convosco um artigo que fiz e que por acaso saiu hoje na plataforma capazes.pt e que se foca sobretudo na dificuldade em engravidar e nas constantes perguntas neste sentido, por parte de quem nos rodeia. Espero que gostem 
"Sei que na grande maioria dos casos a pergunta é inocente, sei que se trata muitas vezes de um “desbloqueador de conversa”, que a intenção é quebrar silêncios incómodos, mas vamos acabar com o:
“E para quando um bebé”?
“Já casaram, agora têm que começar a pensar num filhote”!
“Está na hora de dar um mano ou uma mana ao menino.”
Para os casais que não pensam nisso, não há qualquer constrangimento, e à banalidade da questão, respondem com um simples “ temos tempo”. Mas também há casais para os quais a passagem do tempo se torna aterradora. A cada tentativa, uma nova batalha armada de esperança, cada teste de gravidez negativo gela-os por completo e a bola de neve vai aumentando gradualmente, de mês para mês, de teste para teste. A ansiedade tolda-lhes a esperança e a esperança, contrariamente à bola de neve, vai derretendo, vai ficando reduzida perante o tic tac nervoso dos ponteiros do relógio.
Quem nunca o experienciou não consegue sequer imaginar a dor de quem, há anos, arrumou todos os outros sonhos na gaveta para se dedicar de corpo e alma ao sonho de ter um filho. Há casais que dão o que têm e o que não têm, que tiveram de abdicar de muita coisa, material e não só, para investir num sonho vão, cujas possibilidades de sucesso são sempre uma incógnita. Se souberem de ante mão da luta que uma mulher trava para engravidar, por melhor que seja a intenção, não lhe digam: “Vais ver que quando deixares de pensar nisso a coisa acontece.” “Relaxa, não penses nisso e tudo vai correr bem”, e nunca em situação alguma a iludam, não digam que já está com cara de grávida, não questionem a dimensão da barriga para tentar saber se está grávida. O ideal é que a mulher que tenta engravidar aproveite cada momento ao máximo, mesmo que nunca deixe de pensar no sonho que a move, mas que essa ambição nunca lhe roube a possibilidade de ser feliz no aqui e no agora, que consiga perceber que a vida continua, paralelamente ao seu desejo de ser mãe. Se é para continuar a lutar, que seja com energia e de cabeça erguida. Não vale a pena baixar os braços e esperar pelo milagre. O milagre virá certamente, mas se demorar três anos, que sejam três anos vividos intensamente. O tempo não volta atrás, e não é só a felicidade que experienciamos quando realizamos um sonho que conta. São os momentos felizes que vamos colecionando no decurso da realização desse mesmo sonho. A meta é aliciante mas o percurso também pode ser mágico. Tudo depende do modo como encaramos a vida. E nunca um dos membros do casal se deve sentir culpado. A culpa é das emoções mais negativas que pode existir.
Sou muito grata pelo que tenho, sou grata pelo que há-de vir, mas não. Não vem nenhum mano para o meu filho a caminho. Estou apenas mais gorda e a ficar cansada de que me façam perguntas. “Para quando um bebé?”. Não sei, mas até lá vou-me entreter e ser feliz."
