Que a minha experiência sirva para ajudar/confortar alguém.
Já passou algum tempo desde que aconteceu mas tenho-me sentido muito renitente em falar sobre isto. Ainda é tudo tão doloroso.
Devo dizer em primeiro lugar que sou mãe de um lindo menino de dois anos. Demorei algum tempo a engravidar mas quando aconteceu foi como se a melhor coisa do mundo me tivesse acontecido. Tive uma gravidez santa e um parto ainda melhor.
Passados dois anos tínhamos a expectativa de tentar de novo. E para supresa nossa foi logo à primeira tentativa. Não foi aquele encantamento como foi com o primeiro, só tinhamos pensado que acontecesse mais para o fim do ano mas claro que foi desejado...
Umas perdas de sangue no início e depois de muita consulta e ida às urgências chegou-se à conclusão que tinha uma ferida no colo do útero e que seria daí o sangramento. Não tinha nada a ver com o bebé nem interferia na gestação.
Mas às 11 semanas e 5 dias comecei a sentir umas moínhas no útero. Pensei que me deveria deitar um pouco a ver se passava. Acordei às 02 da manhã e as dores não paravam de aumentar. Vou à casa de banho e um pouco de sangue. Ainda pensei que pudesse ser da tal ferida. Muita vontade em ir ao hospital mas ia ter que acordar o marido e chatear os pais para ficarem com o meu filho enquanto ia às urgências. Às 7 da manhã não aguentei mais e fui ao HSFX. Fizeram-me eco (depois de estar 40 minutos à espera porque era hora da mudança de turno e não havia ninguém na triagem???), o bebé tinha batimentos. Mandaram-me para casa descansar e tomar paracetamol para as dores. Não me explicaram absolutamente nada, a médica nem nos olhos me olhou.
As dores continuavam e os sangramentos também, muita náusea. Fui às urgências da CUF Descobertas e na eco o bebé continuava a ter batimentos mas tinha o colo entreaberto e o desfecho era já inevitável. Pouco tempo depois rompeu o saco gestacional e não havia nada a fazer. Fiquei internada e tive que fazer curetagem. Foi/é tudo super doloroso. Fisicamente. Eu que já passei por um trabalho de parto e não me custou tanto. Emocionalmente indescritível.
Eu sei que há coisas piores, já li aqui relatos que acho humanamente impossível alguém suportar. Eu sei que tenho a sorte e a felicidade imensa de já ter um filho. Eu sei que me acontecem coisas boas porque já me aconteceu a melhor de todas. Mas isto é um sentimento completamente avassalador. Aquele pedacinho de mim que não vou conhecer, embalar, ver crescer. Aquele projecto que não se vai realizar. Aquele vazio. Aquele reviver do dia fatídico cada vez que me deito. Ter que aceitar uma coisa que não compreendo. Que ninguém me sabe explicar. É a natureza, é o corpo, é o embrião, é o desconhecido. Preferia mil vezes que alguém me dissesse que a culpa era minha por algo que fiz, não fiz para numa eventual futura experiência não repetir.
E acima de tudo é a incompreensão. De quem não sabe, não conhece, não passou. É o desvalorizar. Ainda és nova, tens muito tempo pela frente. Agora é seguir em frente, já não há nada a fazer. Se calhar foi melhor assim.
Eu sei que não é por mal mas quem não passou, NÃO FAZ A MÍNIMA IDEIA.
Que este post sirva para poder dar força a quem já passou por isto.