Família de acolhimento. | De Mãe para Mãe

Família de acolhimento.

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8 mensagens
Anima -
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Desde 14 Maio 2009

Olá!
Já alguém passou por a experiência de acolher um criança institucionalizada em sua casa, por um período de tempo?
O que podem partilhar sobre essa mesma experiência?
Obrigada!

DEsperanca -
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Desde 21 Dez 2013

Colada, também gostava de ouvir experiências.
Espero que alguma mamã consiga ajudar

Desde 13 Set 2012

Olá!

Não vou partilhar experiência porque na realidade não a possuo, mas vou partilhar a minha opinião.

apesar de não saber bem em detalhe quais as competências de uma família de acolhimento, não percebo realmente qual a vantagem disso para a criança acolhida.

Então hoje ela ganha uma família, conhece os enormes benefícios de um ambiente familiar equilibrado, ganha o seu espaço, os seus brinquedos, as suas roupas, a partilha de refeições em família, já para não falar nos afetos e vínculos emocionais que inevitavelmente se vão estabelecendo e, tempos depois, um tempo que nem sei se é ou não pré-estabelecido, volta à instituição, ao grupo enorme, à partilha total de tudo, ás regras institucionais, em fim, ao ambiente anterior ao que conheceu na família de acolhimento? Onde ficam os afetos? Onde ficam as expectativas da criança? O que faz ela com as emoções que a vão inevitavelmente assaltar? Não será esse um caminho que a conduzirá a uma nova sensação de abandono? O que pensará o Pedro - nome inventado agora - da família que durante um tempo lhe deu amor, cuidados e o fez acreditar que ele era importante, quando perceber que, ao fim de um tempo, também essa família se cansou dele como a primeira e o devolveu à instituição?

O que fará a Ritinha - nome também inventado agora - quando tiver que voltar à instituição e deixar para trás uma suposta mãe, um suposto pai, uma suposta maninha, mais o seu lugar na mesa, a cama onde dormia num quarto só pra si ou partilhado com a mana? Que sentirá esta Ritinha quando tomar consciência de que era tudo mentira ao ver-se de volta à instituição?

tenho dois filhos biológicos que, obviamente, são crianças cheias de sorte porque nasceram numa família equilibrada e que lhes dá tudo o que precisam e mais um pouco; seria capaz de adotar mais dois, mas jamais acolheria em minha casa uma criança institucionalizada, provavelmente com uma história de vida que já a terá marcado o suficiente com o sofrimento inerente a quem teve que ser arrancado a uma família biológica problemática, para lhe mostrar que ter uma família pode ser maravilhoso e depois voltar a descartá-la. Para mim isso não me torna melhor do que as pessoas que ditaram a institucionalização da criança. Como dizem os pequenos "quem dá e tira vai para o inferno".

Bem sei que nem todas as crianças institucionalizadas foram vítimas de violência física, mas vítimas foram sempre; vítimas de abusos, de negligência, de abandono, de uma profunda ausência de afeto.

Acredito piamente que as famílias de acolhimento o sejam com a melhor das intenções; mas será que alguém já parou para pensar no que comporta para uma criança sofrida, entrar numa família para depois voltar a sair? Não será isso um sinónimo de novo abandono? Não contribuirá isso para uma péssima noção de amor próprio e auto-estima baixa?

Não gosto realmente do conceito de família de acolhimento porque me parece que tem mais em conta os adultos envolvidos do que o superior interesse dos menores em causa.

É a minha opinião que deixo apenas para refleção. Claro que posso estar enganada em algumas noções, pois admito que não conheço em detalhe os pressupostos em que assentam estas famílias e qual o regulamento a que estão sujeitas.

P.S. bom tópico este; vamos aguardar novos posts

Tudo de bom para todas

SMSantos

SweetBlonde -
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Desde 02 Ago 2012

Concordo a 100% contigo!

Blonde

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Madrinha e afilhada orgulhosa da Nelia02

trintona -
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Desde 22 Jul 2012

Bom dia a todas,

Também não sou, nem fui, família de acolhimento. Considero que não seria capaz de ser família de acolhimento, embora reconheça a enorme generosidade das famílias que seguem essa via.

Parece-me no entanto que estão em debate aqui algumas conceções que não correspondem à realidade.
O acolhimento familiar é temporário, sim, mas é alternativo ao acolhimento institucional. Ou seja, a Rita ou o Pedro ficam numa família de acolhimento em vez de irem para um lar de infância e juventude. Quando um juiz determina que as condições de risco que levaram à retirada da família biológica estão terminadas, a Rita ou o Pedro são devolvidos ao cuidado da família de origem - não vão para uma instituição. E são retirados da família de acolhimento quando um juiz assim o define, não porque os pais de acolhimento não os querem mais.
Ao longo do acolhimento familiar, e se a situação de risco o permitir, as crianças terão mantido contacto com a família biológica para suavizar estas transições.

Deixo mais informações:
http://www.mundosdevida.pt/_Quer_ser_familia_de_acolhimento

http://www.mundosdevida.pt/sgc/Content/Pages/DOCS/6e6285c2fd5d29933e7921...

http://www.seg-social.pt/documents/10152/608548/acolhimento_familiar_cri...

O que se pretende é que estas crianças nunca passem por uma instituição. Assim, visa o superior interesse das crianças. E, embora nunca tenha passado pela experiência, acredito que seja das coisas mais generosas - centradas no bem alheio e não no próprio bem - que uma família alguma vez pode fazer. Disponibilizar-se a aceitar e amar uma criança, sabendo que não é para sempre e que um dia ela vai voltar para os pais biológicos requer um coração gigantesco, capaz de se oferecer sem pedir nada em troca. Um coração que eu (de maneira egoísta) não consigo ter.

A questão não é simples. Reconheço vantagens e desvantagens ao acolhimento familiar, e não sei se é sempre bem aplicado, mas não é uma experiência que se assuma de ânimo leve, nem sem ter em conta os sentimentos das crianças.
Espero ter ajudado a esclarecer o debate.

http://acasados30.blogspot.pt/

Desde 13 Set 2012

Olá!

De quarentona para a trintona, desde já muito obrigada pelos esclarecimentos. Eu de facto não domino o conceito e deixei isso bem claro, mas, realmente não possuo essa capacidade de amar e de ser amada, sabendo que laços fortes um dia vão ser cortados porque um juiz o determinou ou por outra diretiva qualquer. Emoções são isso mesmo, emoções; algo que é sentido e não é mensurado. Eu percebo que viver numa família possa ser melhor do que ser institucionalizado mas, ainda assim, e pondo de lado os sentimentos dos membros da família, a mim preocupa-me essencialmente as consequências emocionais que isso possa acarretar para a criança. Claro que ela já vem fragilizada, claro que algo não correu bem para que fosse retirada à família biológica, claro que a carga negativa dessa criança já é enorme. Será que mostrar-lhe que existem famílias onde impera o amor, o carinho e a compreensão, não será sujeitá-la a um sofrimento maior, já que depois o destino dela é regressar ao meio nefasto de onde foi retirada?

Sinceramente não tenho respostas estanques para estas perguntas, mas na verdade para mim seria assustador deixar que o Pedro ou a Rita, depois de eu lhes ter mostrado o lado bom da vida, fossem novamente levados para a realidade anterior.

Aguardemos outras opiniões...

Tudo de bom!

SMSantos

Diri_1979 -
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Desde 18 Set 2016

Por esse motivo nem todos podem ser família de acolhimento. É quem está escrito na adopção não pode acolher. As regras estão bem definidas e são esses valores que se passam uma família provisória que dá amor e carinho e quando a família original não os pode acolher. E não há perda de vínculo. Será apenas diferente... Poderão visitar-se pois sempre farão parte da vida uns dos outros. É uma enorme capacidade de amar que não está ao alcance de todos.

guialmi -
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Desde 13 Jul 2013

A mim parece-me que as famílias de acolhimento são uma excelente opção à institucionalização e é pena que não possa ser extensiva a mais crianças e jovens.
Penso que a Sónia está a ver a realidade de uma família de acolhimento como uma "família de adoção temporária", mas na verdade o conceito é mais o de uma "família/ama a tempo inteiro temporária". Ou seja, a família/pessoa de acolhimento (pode ser uma pessoa singular, não tem de ser necessariamente um casal com filhos) sabe perfeitamente que o seu papel é de cuidar daquela criança ou jovem a tempo inteiro mas por um período limitado de tempo, preparou-se para isso e, se é evidente que se criam laços afetivos, não serão assim tão diferentes de, por ex., uma ama que está com um bebé diariamente durante quase 3 anos. Também convém lembrar que existe uma remuneração envolvida. Isto até para estabelecer a tal fronteira. Suponho que no processo de seleção os técnicos estejam atentos a situações em que os candidatos manifestem dificuldades em olhar para esta condição como um "trabalho", não propriamente como uma "missão na vida" ou uma compensação afetiva. Eu sei, é uma visão um bocadinho fria, mas parece-me que a ideia é mesmo essa.
Por outro lado, e eu sei que isto choca muita gente, mas geralmente as crianças e jovens querem voltar para a família de origem, por pior que ela seja...e quanto mais velhos mais têm essa vontade...