Há algum tempo que ando para criar este tópico, esta semana deparei-me com uma mãe que passou pelo mesmo e percebi que não há muita informação sobre este assunto aqui no fórum, por isso decidi partilhar mais esta experiência.
Resumidamente, cheguei às 41semanas e o meu pequeno não mostrava vontade de vir cá para fora, por isso o meu parto foi induzido, o que quer dizer que quando as contrações chegaram....elas chegaram em força! Por isso quando fui direccionada para o bloco de partos, não via a hora da anestesista chegar. Esperei não mais de 10m pela médica, e fui então chamada para a sala e prepararam-me para levar a epidural. Confesso que não me custou nadinha, esperou-se pelo intervalo entre contrações, fiquei bem quietinha, e só senti uma leve picada. O único comentário que a médica fez foi que eu tinha um grande desvio na coluna. Não sei se isso interferiu ou não com o que depois aconteceu...mas a epidural em si foi dada sem grandes complicações. As dores passaram quase de imediato, foi um alivio enorme, mas infelizmente o "alivio" estendeu-se a sítios que não era suposto, e comecei a sentir também um formigueiro nos membros superiores, os membros inferiores deixei de os conseguir mexer, e a anestesia e o trabalho de parto foram parados de imediato. Fiz um bloqueio subdural, que felizmente foi logo detectado, pois o perigo disto está no facto de poder afectar os orgãos internos, como os pulmões, e a grávida deixar de respirar. Apesar do susto, eu até continuava tranquila, com espirito positivo. E fiquei assim durante pouco mais de duas horas enquanto se limpava a epidural do meu sistema, aos poucos fui sentindo de novo os membros inferiores, e quando recuperei os movimentos, o trabalho de parto lá foi retomado. O parto em si já contei noutro post. O meu pequenote nasceu às 3h da manha, e a felicidade é tanta que uma pessoa esquece-se de tudo o que passou de menos bom. Por volta das 6h da manha sou encaminhada para o quarto, e por volta das 8h da manha a enfermeira faz-me o levante. Senti-me um pouco tonta....mas achei que seria normal. Descansei um pouco, penso que ainda consegui dormir visto que já estava acordada há 24h, e com o passar do dia é que fui sentindo um mau estar enorme. Não conseguia manter-me muito tempo de pé que me davam umas dores de cabeça horríveis! Quando trouxeram o pequeno almoço fui toma-lo na mesa de refeição, e não consegui, além das dores de cabeça sentia uma nausea enorme. Tomar banho ou ir à casa de banho também era um martírio. Basicamente eu não me podia levantar! Se estivesse na cama deitada estava tudo bem, se me levantava...em menos de 5m apareciam as tais dores de cabeça, e quando me deitava de seguida para aliviar a dor, as dores parece que eram transferidas para a zona do pescoço e ombros e bloqueava-me de certa forma essa zona (dores essas que eram horríveis na hora da amamentação pois dificultavam muito todo o processo que já estava a ser muito doloroso por si só, e então não conseguia ver se o bebe estava a fazer uma boa pega pois não conseguia baixar a cabeça). Tinha que ficar muito quieta para essas dores passarem com o tempo. Acabei por ser vista por uma equipa de anestesistas, que segundo os meus sintomas, explicaram-me o que se passou comigo, disseram-me que quando me foi administrada a epidural, a agulha "furou" para lá do suposto, e atingiu a dura máter, o que fez com que tivesse ficado com um "buraquinho" que permitia passar liquido da coluna (isto agora explicado à minha maneira!), por isso sempre que me levantava, esse "liquido" andava por sítios que não era suposto e provocava-me então as tais cefaleias, dores no pescoço e a vontade de vomitar. Vomitar....só aconteceu uma vez que depois fui logo medicada para as náuseas (desculpa mama que na altura dividia o quarto comigo!!), para as outras dores fizeram-me dois procedimentos que aliviaram as dores na altura, mas infelizmente foi só algo momentâneo, não resolveu o problema. Basicamente deram-me umas injeções na nuca para aliviar a dor no pescoço, e para aliviar as cefaleias introduziram-me umas super cotonetes narinas abaixo para atingir um ponto que não sei especificar e bloquea-lo. Não foi assim a coisa mais agradável do mundo....mas pelo menos deu-me algum alivio por momentos. Como não resolveu o problema, acabaram por me transferir para um quarto individual porque eu não estava capaz de cuidar do meu filho sozinha, e estando num quarto individual o pai poderia passar a noite comigo e com o bebé e ajudar no que fosse preciso, porque eu basicamente estava presa à cama. Chegava a ir à casa de banho com a cabeça para baixo para conseguir que a dor não viesse tão depressa, tomava as refeições na cama mas com a cabeceira não muito levantada senão lá vinham elas! O primeiro banho do nosso pequeno foi o pai que deu e eu fiquei na cama a assistir, nem uma fralda conseguia trocar...e comecei a ficar desesperada, pois não estava capaz de cuidar do bebé e nem de mim própria! Os meus banhos resumiam-se a lavar "as partes baixas", o resto só era molhado pelo chuveiro porque não aguentava mais estar de pé! O meu banho começou a ser a hora do choro, porque sentia-me mesmo uma incapaz... depois olhava para o meu companheiro e via-o tão cansado, de dia de um lado para o outro a tratar de mil e uma coisas (de mim, do bebé, do trabalho, das visitas...) e à noite tinha que ficar a dormir num cadeirão desconfortável no quarto da maternidade. Isto tudo estava a mexer muito comigo! Entretanto quando a primeira médica me falou nos tratamentos possíveis para a minha condição, tinha-me falado no Blood Patch, basicamente o procedimento era muito parecido com uma epidural, mas ao invés de ser injectada anestesia, seria injectado sangue meu colhido na altura, o que faria com que ele coagulasse e fechasse o tal "buraco"...ora, obviamente fiquei com medo desse procedimento, e quis antes tentar os outros primeiro! Não deram resultado, e eu comecei a mentalizar-me que o melhor seria avançar com o tal Blood Patch, pois a opção era eu continuar como estava e deixar que a coisa passasse por ela, o que podia levar no minimo 15dias...até o buraquinho fechar naturalmente e eu deixar de ter fugas do tal liquido que me provocava as tais dores incapacitantes. Não.....15 dias nisto??
Não! Pedi para falar com um médico anestesista e seguiu-se um sem numero de azares, primeiro o médico anestesista que nos vem ver, terá de ser o que está de urgência no bloco, logo a disponibilidade pode estar muito limitada, e nesse dia ninguém me veio ver, entretanto meteu-se o fds...e quando exigimos a presença de um médico, apanhei um médico conservador que me disse que o blood patch já n era soluçao pois já tinha passado algum tempo e o procedimento já n podia ser feito...foi um balde de água fria! Disse-me que agora só passaria com o tempo....restava-me continuar a medicação para atenuar os efeitos e beber bastantes coisas com cafeína que supostamente ajudam com as cefaleias, acho eu. Chorei baba e ranho nesse dia! No dia a seguir conheço a maravilhosa e fantástica Dr. Rosário Fortuna do CMIN, que veio ver como é que eu estava e o meu progresso, e eu em lágrimas só lhe pedia que me desse alta, pois se era para esperar que o problema se resolvesse sozinho, preferia estar em casa, a medicação conseguia toma-la em casa também, e ao menos estava no meu canto, com a ajuda da minha familia e com o máximo conforto para mim, o meu companheiro e bebé (a equipa de enfermagem do CMIN foi mais que 5estrelas comigo, mas nada bate o conforto do nosso lar). A Dr. Rosario pergunta-me então porque não quero fazer o blood patch...e eu disse-lhe que já tinha pedido para me fazerem o procedimento apesar de ter obviamente algum receio, mas que tinha sido informada pelo Dr. x que já não ia a tempo... Com calma explicou-me o procedimento, explicou-me que o Dr. X era um óptimo medico-anestesista, mas especialista em neurocirurgia e não em obstetrícia, e por isso tinha tido uma atitude mais conservadora comigo. Nem pensei duas vezes, alem da Dr. Rosario me ter transmitido toda a confiança do mundo, queria muito sair dali....e bem! No mesmo dia a Dr. Rosario arranjou vaga no bloco operatório e fiz o blood patch. Em brincadeira a Dr. Rosário dizia que ia de cadeira de rodas para baixo, e voltava para cima a pé! Pois não é que foi mais ou menos assim?? Nesse dia já não almocei, e levaram-me às 14h para o bloco, preparara-me para o procedimento, que foi relativamente rápido, foi como se fosse levar uma epidural, que mais uma vez não doeu quase nada, só se sente aquela picada entre as vertebras, colheram-me sangue do meu braço esquerdo, foi-me injectado logo de seguida, e depois do procedimento completo puseram-me na mesa inclinada de cabeça para baixo para o sangue correr mais depressa. Passei para o recobro, estive cerca de duas horas, também com a cama ligeiramente virada com a cabeça para baixo, e quando acordei, senti só uma leve tontura mas por fraqueza, pois mal tinha comido nesse dia. Puseram-me de pé, e além da fraqueza...não senti as temidas cefaleias! Fiquei só em observação de um dia para o outro, e no dia a seguir tive a tão esperada alta. Lembro-me da enfermeira no dia da alta espantada comigo, como eu parecia outra pessoa! Tudo graças à Dr. Rosário, pelo cuidado, carinho e preocupação que tem com os pacientes, termos a sorte de encontrar uma médica como ela faz toda a diferença. Se não fosse a Dr. Rosário e o apoio do meu companheiro acho que os baby blues tinham atacado em força e tinha entrado em depressão pós parto.
Pelo que percebi, este procedimento ainda não é muito comum aqui, e quem o faz no SNS, fá-lo pro-bono. É uma equipa de pouco mais de meia duzia de médicos do CMIN que está a tentar convencer da importância deste tratamento nestes casos. A eles, o meu enorme obrigado, em especial à Dr. Rosário.