Duas gravidezes, dois partos, dois bebés..

Costuma-se dizer que não há duas gravidezes iguais. Na primeira ocorrem medos, inseguranças, receios, reticencias sobre tudo o que ronda os 9 meses de gestação, como decorre o processo, ao que vamos, como será o parto, que tipo de parto, se seremos boas maes, se saberemos como agir, se estaremos preparadas psicologicamente e fisicamente para assumir todas as alterações que por aí vêm. Na segunda gravidez, o panorama não é muito diferente..acrescenta-se apenas uma dose substancial de ansiedade e desejo de vermos o nosso bebé nos nossos braços rapidamente. Há uma serie de factores que desejamos saltar: os enjoos, os inchaços, as noites mal dormidas devido ao tamanho enorme da barriga.. O estado de gravida é dos estados mais bonitos e maravilhosos pelo qual uma mulher pode passar. Acompanhar o crescimento da barriga, esperar ansiosamente pela primeira ecografia, pelo primeiro “pontapé”, saber se será menino ou menina, a escolha do nome, as primeiras roupas, a preparação da chegada daquele que será sempre o ser mais importante das nossas vidas, haja o que houver, será que vamos ser capazes de lhes ensinar tudo, de serem pessoas com valores, integridade, educação…Somos mimadas por todos os que nos rodeiam, recebemos toneladas de telefonemas a saber se estamos bem, como nos sentimos, se está quase, o que precisamos. São 9 meses a desejar que tudo corra pelo melhor..e algumas horas a desejar que aquele momento na sala de partos passe rapido, para finalmente podermos conhecer aquele ser que cresceu dentro de nós e com quem nós conversamos e acarinhámos nos ultimos meses. Ver que esta tudo bem, dar miminhos, beijar, cuidar. É O dia. 9 meses de hormonas aos saltos, turbilhoes de sentimentos.
A minha primeira gravidez não foi planeada. Tive alguns precalços. Algumas desilusões e por isso, hoje olho para trás e acho que pelo menos os primeiros três meses de gestação foram um autentico turbilhao de sentimentos. Namorava há 4 meses quando engravidei. Ninguem sabia do meu namoro porque ate dadas as coisas como certas, nunca gostei de partilhar estas coisitas da minha vida. A minha mae sempre me apoiou incondicionalmente fosse qual fosse a minha decisao. O meu pai dizia que eu tinha engravidado por “obra e graça do espirito santo” porque não me conhecia nenhum namorado. Inicialmente sugeriu que abortasse porque dizia que eu ia hipotecar a minha vida, que ia estar anos sem encontrar emprego, que assim que sobessem que estava gravida me iam despedir, que como o meu marido era mais velho, já tinha sido casado e tinha duas crianças, que me ia deixar à primeira oportunidade... Confesso que, apesar dos 23 anos na altura, licenciada, empregada, ainda cheguei a ponderar mas no dia em que teria que tomar a decisao final e que me encontrei com a minha medica, ela levou-me à sala das ecografias e nesse momento, em que vi e ouvi o coração do meu bebé bater, apaixonei-me perdidamente por ele e ganhei uma nova força e um novo pensamento: nada nem ninguem me vai impedir de seguir para a frente. Foi uma gravidez com alguns enjoos. Passada no verao com um calor exurbitante, mas aproveitada ate ao ultimo segundo e acompanhada dos meus 12kg a mais. No dia 25 de Agosto de 2007 nasceu o Martim, com 3.470kg, 51cm, 3 horas de trabalho de parto, parto normal, sem epidural, rebentamento espontaneo das aguas, episiotomia, uns pontitos e passado as 5 horitas de descanso obrigatorio já estava fina, sem dores e se me deixassem tinha ido logo para casa. O pai esteve sempresente. Melhor não poderia ter corrido. Lembro-me no dia em que fui para a maternidade de pensar: meu deus, terá que sair, mas como será que vai ser, nunca estive internada..mas depois lembro-me tambem de ir no caminho, olhar para os outros carros, ver mamãs com mais de um filho e pensar: se fosse tao mau, tao doloroso, tao penoso, nenhuma mulher se sujeitaria a um martirio duas vezes. O Martim sempre foi uma criança muito calma, pouco chorão, que sempre dormiu as noites completas, que nunca teve cólicas, perfeitinho, com saude..que mais se pode desejar?
Do dia em que soube que estava gravida até o Martim ter 14 meses..o meu pai ignorou-me, não me falava, nunca foi a minha casa, nunca participou em nada. No entanto, sempre soube que perante os amigos e outros familiares, sempre demonstrou a felicidade estampada no rosto e um orgulho enorme por ser avô. Não foi fácil. Foi doloroso. De um dia para o outro tudo mudou e finalmente tinha o meu pai “de volta”. Foi um alivio saber que podia contar com ele, falar com ele. Eu sei que aquela atitude e teimosia que durou tantos meses, se devia simplesmente ao facto de ter um pai que achava que ninguem era suficientemente perfeito para mim, que me queria proteger, que não queria que eu sofresse e que so me desejava o melhor. Com o tempo, eu e o marido, mostramos-lhe que estava enganado. Que o facto de ele ser mais velho, divorciado, ter duas crianças, toda a gente tem o direito de ser feliz e de recomeçar uma vida nova ao lado de outra pessoa. É um estigma criado pela sociedade, que muitos ainda seguem. São motivos que servem, infelizmente ainda para que se seja criticado e olhado de lado.
Começamos uma nova etapa da nossa vida. Sempre quis ter mais que um filho. Fui filha única durante 8 anos e a chegada do meu irmão foi a melhor coisa que me aconteceu. Mal sabia eu, que aos 14 anos iria ser presenteada com mais um pestinha. Chegou “fora de horas” como se costuma dizer, mas são os melhores irmaos do mundo. Tive quase 4 anos a convencer o meu marido..consegui. Inicialmente dizia que o entrava era a questao financeira mas ao longo do tempo fui percebendo que o facto de termos alguma paz em termos de fraldas, acordar de noite para dar papinha, dormir ate mais tarde, termos mais liberdade de sair eram o que mais pesava.
Em Agosto de 2011, engravidei do Tomás. Ver aquele positivo, transportou-me para uma outra realidade: a de viver novamente a alegria da maternidade. Ao mesmo tempo e apesar de ter sido uma gravidez planeada, la vinham novamente todos os medos da primeira gravidez, mil e uma perguntas, mil e uma duvidas. É inevitavel tudo o que sente. O primeiro receio foi: reacção do meu pai. A segunda: ter duas crianças..sendo uma mais velha..como seriam os ciumes? Como iria reagir?
O meu pai ficou radiante da vida. O Martim inicialmente não achou graça “mae, um mano estraga-me os brinquedos”. Começava entao mais uma viagem. A ansiedade antecedeu todas as ecografias, todas as fases de crescimento da barriga. Acho que aos 3 meses já estava ansiosa que chegassem os 9.
No dia 23 de abril de 2012, nasce o Tomás. Curiosamente naquela manhã, algo me dizia que era melhor ir ao supermercado. Curiosamente na noite anterior, foi a noite que melhor dormi nos ultimos meses. A bolsa rebentou em casa. Ainda tive tempo de deixar tudo pronto para os dias seguintes, despachar-me com calma, esperar que os meus pais chegassem para ficarem com o Martim e lá fomos eu e o marido para a maternidade. Cheguei a maternidade sem trabalho de parto nenhum. Estava muito calma. Fui internada. Ainda estive um bom bocado a falar com a enfermeira. Com o marido sempre a acompanhar. As contrações começaram as 2 da manhã e vieram logo muito fortes. Desta vez pedi epidural. As dores eram muito fortes..as 3.45 começei a ter necessidade de fazer força..e voilá..nasce o Tomás às 3:53, com 3.850kg, 51 cm, 2 horas em trabalho de parto, parto normal, 1 ponto. O papá a meio da força..começou a dizer que estava a ficar mal disposto..a enfermeira levou-o a apanhar ar..quando regressou, perguntei-lhe “entao? É o segundo a que assistes e sentes-te mal?”..como é tipico dos homens e não gostam de dar parte fraca, respondeu-me “não..tinha era comido pouco durante a tarde, e senti-me fraco”… Enquanto me arranjavam, o Tomás esteve sempre em cima de mim. Foi inspecionado ate a ponta dos cabelos para ver se estava tudo no sitio, tudo pefeitinho. Novamente pos parto sem dores. Fiquei optima.
Começo a achar que nasci para isto. Dia seguinte..visita do Martim. Medo: reacção. “Mãe, o nosso mano é lindo. Achas parecido comigo? Achas que gosta de mim? Já pode brincar comigo? Oh mae..ele tem a boca como as baleias..nao podes ir para casa porque o mano ainda não tem dentes?” e aqui descansei e pensei: o papá e eu, fizemos um bom trabalho durante a gravidez, levando o Martim sempre as consultas, as ecografias e fazendo-o participar em tudo o que estava relacionado com a chegada de um bebé.
Passaram-se 18 dias..sinto-me completa, apaixonada pelos meus dois filhos. Olho para o Martim e parece-me um homenzinho em ponto pequeno. Ate aqui aos meus olhos, ele continuava a ser um bebé. Olho para o Tomás e revejo o Martim quando era pequenino: calmo, sossegado, come, dorme e não chora. Dizem que o nosso estado de espirito durante a gravidez e a forma como levamos a vida e encaramos as coisas, influencia de certa forma a personalidade do bebé. Sinto-me uma sortuda por ter dois filhos lindos, perfeitinhos e com saude.
Não vos vou dizer que é facil ter duas crianças mas são o melhor do mundo. Podemos andar cansadas, desgastadas, não ter tempo para nada nem para pensar em mais nada..mas um sorrizinho do Tomás mesmo que inconsciente ainda ou um “mãe, sabes, gosto muito de ti” do Martim, compensa infinitas vezes tudo o que eventualmente possa parecer menos bom.
Quanto a tudo o resto..nunca perdi o emprego, continuo com o meu marido, amamo-nos muito e somos muito felizes..isto para vos dizer que mesmo com todas as adversidades e obstaculos que possam surgir, basta querermos e persistirmos com as nossas vontades, para conseguirmos aos poucos atingir-mos tudo aquilo que pretendemos na vida. Por mais dificil que por vezes as situações possam parecer, com o tempo tudo se compõe, tudo tem solução.
O ser-se mãe está no nosso codigo genetico. Assim que nascem…a nossa nova profissão nasce tambem.

Sejam felizes
Beijinhos