Aborto retido- Dúvidas sobre Hospital de Leiria | De Mãe para Mãe

Aborto retido- Dúvidas sobre Hospital de Leiria

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TaniaBL -
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Desde 21 Abr 2015

Olá a todas,
Devo dizer que esta foi uma situação na qual nunca me imaginei... Ouvimos falar, mas nunca pensamos que nos calhe...
Descobri que estava gravida às 6 semanas, e o mundo explodiu de alegria e projectos, seria o primeiro, mas na consulta das 8 semanas, percebemos que tinha tido um aborto retido às 6 semanas.
Fui para o hospital, por indicação do médico particular (Dr. António Santiago). Entrei de manha, dia 1 de Abril, e aplicaram-me 4 comprimidos por 2 vezes (às 11h e às 15h). Fiz uma bela reacção à medicação, com diarreia e febre, mas parece que isto pode acontecer com frequência.
E começa a tortura psicológica...Não basta estarmos a torcer-nos de dores, à espera que a nossa criança morta saia, e do desgaste emocional que é, pois colocam-nos junto à sala de partos, onde se ouve mães e bebés a chorar, e temos de deambular pelo corredor, onde estão também as gravidas, e ate conseguimos ouvir os coraçõezinhos dos bebés a bater, quando elas estão a fazer a preparação.
As lágrimas não são controláveis, e as horas são longas.
E esqueçam o respeito pela privacidade, toda a gente dispõe.
Só comecei a sangrar lá para as 19h e só quando a febre baixou, eram umas 22:30, tive alta. Vim para casa sangrar à espera que a natureza desse uma ajudinha... Estive sempre a sangrar, apesar de nos últimos dias ter sido um corrimento de sangue mais escuro.
No dia 16, fui fazer uma ecografia para ter a certeza que estava tudo bem, mas não estava. Tive de ir logo para a urgência, para fazer tudo isto outra vez... Ai quando me disseram isto...
Quando vi que ia ser atendida pelo meu médico particular (Dr. António Santiago), que estava de serviço no hospital, fiquei um pouco mais tranquila.
Observou-me, limpou a zona do colo do útero com compressas (o que incomoda bastante, porque parece que as compressas arranham tudo lá dentro) lá puseram outra vez 4 comprimidos por 2x (12h e 16h), as dores foram mais fortes, e o sangramento vivo voltou logo.
Ele disse para eu não comer depois do almoço, para a eventualidade de ser necessária cirurgia.
Eram uma 19h, e ele chamou-me para a ecografia, mas disse que primeiro queria observar-me. Começou por limpar lá dentro com compressas e depois disse "isto já está muito", creio que se estava a referir ao colo do útero que devia estar já muito dilatado.
E nisto diz "Vou só tirar um bocadinho que está mesmo aqui à saída" e foi aqui que o pesadelo começou a piorar. Não importava que gritasse, que chorasse, que implorasse que ele parasse, porque ele não parou. Não consigo descrever a intensidade da dor, nem o estado em que fiquei... E ele levantava-se, eu pensava que já tinha parado, mas afinal ia buscar mais e mais pinças, e a tortura continuou. Não foi só um bocadinho...não foi só um instante... foi totalmente desumano. Tudo a sangue frio. Faz-me lembrar as torturas da antiguidade...
No fim, eu num estado indescritível tive tonturas dificuldade em levantar-me, eu e a marquesa estávamos ensopadas em sangue, pelo que ele me perguntou se precisava de uma cadeira de rodas ou conseguia andar, para ir fazer a ecografia, pois segundo ele já não estava lá nada...e por isso seria poupada da cirurgia. Agora, com a cabeça no lugar, pergunto-me se o facto de se ter evitado a cirurgia foi bom para mim ou para o hospital... Porque a dor causada e o trauma provocado não percebo que vantagens me trouxe... O médico voltou a dizer que foi melhor assim. Melhor para quem?
Quando me deu alta, perguntei se podia tomar um calmante quando chegasse a casa, para me acalmar, e ele respondeu "Pode e deve!"
E agora pergunto-me, se ele sabia a dor pela qual eu ia passar, porque não me deu uma ligeira anestesia que é a que normalmente dão? porque não deu sequer um sedativo para me deixar sonolenta e relaxada? Porque é que o meu médico de sempre (porque sempre fui a ele e sempre no consultório particular) me sujeitou a isto? Porque é que no ano de 2015 se trata assim as pessoas?? a minha avó teve precisamente o mesmo que eu há trinta anos, e deram-lhe uma pequena anestesia e tiraram logo tudo. Estaremos a regredir?
Já não bastava a tristeza de ter perdido um filho, para quê mais sofrimento? E agora, como é possível eu voltar a pensar em filhos?
Não bastava a tortura de ouvir as crianças a nascer, o seu primeiro choro? não bastava ver as gravidas e ouvir os coraçõezinhos dos seus bebés a bater? Porquê também esta tortura?
Desta forma, gostava de saber se este é ou não um procedimento comum no Hospital de Leiria, porque estou bastante amargurada e não consigo perceber a razão para isto ter acontecido desta forma.
Sei que há uns anos atrás não faziam isto, porque uma rapariga que tb teve um aborto retido foi lá, colocou os comprimidos, e como não saiu, no outro dia foi fazer a cirurgia pra retirar tudo...
Alguém de Leiria passou por isto?
Alguém que teve um médico que a poupou disto e não tirou a sangue frio? qual o nome do médico?
Obrigada e força para todas aquelas que já sofreram um aborto.

Cátia Anjos -
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Desde 08 Abr 2014

Como a percebo Tânia...passei pelo mesmo e mais...
Deixe-me apresentar, chamo-me Cátia tenho 34 anos e vivo no Algarve.
A minha história é muito vasta...não conseguiria descrever tudo mas vou tentar abreviar:
- Em 2005 perdi uma menina com 38 semanas de gestação devido a hipoplasia cardiaca e pulmonar. A minha filha faleceu dentro de mim e passados 2 dias nasceu...não me deixaram vê-la...nunca conheci a minha princesa.. Tivemos de realizar funeral e está no cemiterio numa campinha de anjo..
- Passados dois anos e guiados pela grande vontade de ter um filho tentamos e engravidei de novo. Foi uma gravidez totalmente planeada mas com muita ansiedade...Se acontecesse de novo morreria... Mas felizmente correu tudo muito bem, foi linda desde o inicio ao fim! Desta vez um menino nasceu com 41 semanas, parto normal e perfeitinho! Só acreditei quando o puseram nos meus braços! Tem agora 7 anos e é a luz da minha vida!
- No ano passado engravidei de novo para dar um/a mano/a ao meu filho. Costumo dizer que soube desde a fecundação que estava gravida e não me enganei..estava mesmo! Com 5 semanas fiz uma eco para confirmar e ainda só lá estava o óvulo com o saco vitelino mas era normal para 5 semanas. Passadas 2 semanas fiz outra eco e confirmou-se o embriãozinho. Já lá estava o meu bébé! Com 11 semanas fiz outra eco e já se via o coração bater! Tamanho normal, tudo perfeito! Estava felicíssima e o meu filho radiante! Andava super enjoada, vomitava praticamente tudo mas a felicidade era tanta que nada me importava demasiado! Mas durou pouco tempo esta euforia...com 12 semanas numa ida ao hospital porque pensava ter infecção urinária disseram-me que o coração de meu bebé já tinha parado.. o meu mundo voltou a desabar...o meu marido não acreditava no que eu dizia... E nisto começaram uma serie de acontecimentos traumáticos como os que descreveu..
Tinha um aborto retido. Apenas à terceira toma dos citotec vaginais (3 de cada vez) é que fez efeito e de que maneira... Comecei a sangrar e derrepente começaram as hemorragias e os desmaios...fui de emergência para o hospital de Faro e quando lá cheguei a médica de serviço disse que me tinha de limpar a sangue frio o útero pois não dava tempo de chegar à cirugia. Já tinha perdido tanto sangue que não apanhavam já a minha tensão. Senti tudo, as pinças dentro de mim, as compressas, a dor era tanta tanta... terminada a limpeza foram correndo buscar sangue para me realizarem transfusão..Nunca pensei sobreviver àquilo... No dia seguinte no hospital um medico foi fazer-me eco para ver como estava ao utero e disse-me que estava limpo, o aborto tinha ficado completo.
Passados dois dias regressei a casa totalmente arrasada e medicada pois a minha hemoglobina continuava baixa.
Passadas 2 semanas comecei a ter dores horriveis na barriga e lá vou eu outra vez a caminho do hospital...Numa outra eco dizeram-me que tinha de ficar internada e fazer uma curetagem de emergência pois o aborto estava incompleto...Fui para o quarto para começar pre-operatorio mas as dores eram tão fortes e cada vez maiores e não descobriam de onde...até houve uma médica que me disse que tinha fezes duras no intestino e seria isso que provocava a dor... Comecei a gritar de dor e a ficar fora de mim e o meu marido (meu heroi) foi buscar pelo braço um médico para me ajudar pois eu tinha de ter algo mais... Ora descobriram então que tinha os ovários hiperestimulados (um deles chegou a ter 14 cm) e a minha beta hcg 224000... Ficaram todos espantados e administraram-me um medicamento milagroso e aliviaram-me as dores... Parecia que estava nas nuvens.
Na manhã seguinte fui para o bloco operatorio e foi feita a curetagem no dia 23/12. Correu bem e no dia seguinte (24/12) deram-me alta para ir passar o natal com o meu filho.
Durante 4 semanas andei a ser vigiada pois os ovários continuavam muito grandes e a beta hcg também. Só quando veio o resultado da analise aos tecidos que tiraram da curetagem é que soube que não tinha nada de grave, pois até lá suspeitavam de algo pior. Ainda passei algumas noites no hospital, nomeadamente o reveillon, por causa das ditas dores.
Em Fevereiro confirmou-se que os ovários voltaram ao normal assim como a beta.
E isto tudo porque não me fizeram logo a tal curetagem como faziam à uns anos...para poupar, claro, alguns tostões ao estado...
Já soube de muitas mulheres que tiveram aborto retido e fizeram-lhes logo curetagem...
É muito doloroso pensar que me podiam ter poupado destes episódios de dor física e psicológica pois, tal como a Tânia, estive ao lado de mulheres a fazer o ctg e na primeira noite que soube que o meu bebe já não tinha vida fiquei no bloco de partos a ouvir o choro dos bebés a nascer e os pais a festejarem...ainda os ouço...

ano 2005 - perda gestacional de uma menina às 38 semanas...
ano 2008 - nascimento do meu príncipe!! Luz da minha vida!
ano 2014 - aborto retido 14 semanas
ano 2016 - aborto retido 8 semanas
ano 2017 - inicio de uma outra caminhada...adoção <3

TaniaBL -
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Desde 21 Abr 2015

Oh cátia, lamento imenso a tua situação Triste
Perder um bebé já tã perto do nascimento deve ser terrível...
Enfim, nem tenho palavras...
E depois levar com esta situação mesmo no natal, ainda parte mais o coração...
Concordo plenamente com a tua ultima frase... parece que fica gravado na memória...
Quanto a mim, há dois dias deu-me umas dores bastante fortes e um pico de febre, o que me levou a ligar para o hospital, e aconselharam-me a ir lá. A médica foi muito atenciosa e mandou logo darem-me uma injecção paras as dores. Segundo a médica, ainda tenho um pedaço de mais de 1cm, que infectou. Excluíram logo a curetagem. Colocaram-me mais 4 cytotec e vim pra casa com antibiotico e mais 4 cytotec para colocar passadas 4h. Estranhei não ter sangrado nada...liguei para o hospital e disseram-me para lá voltar se a situação piorasse (corrimento malcheiroso ou febre), mas não me disseram que caso isso não acontecesse podia estar descansada... ou seja, acho que não se querem comprometer... Como a febre não tem passado os 37,5, não quis ir lá, porque também estou já tão fartinha de hospitais... mas não posso dizer que estou descansada...
será que me podias dizer se tiveste algum sinal, para além das dores, que revelassem infecção?
Obrigada pelas tuas palavras e muitas felicidades para ti e para a tua família.

Cátia Anjos -
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Desde 08 Abr 2014

Ola Tânia
Respondendo a tua questão: após me fazer a curetagem a médica disse-me que ainda lá tinha ficado um fragmento com uns 12 mm pois estava muito colado à parede do útero e ela teve receio de o perfurar ou danificar de alguma forma.
Então explicou-me que provavelmente sairia com a próxima menstruação mas para ficar atenta a alguns sinais.
Não cheguei a ter febre muito alta. Tinha sim um corrimento castanho que a mim cheirava-me mal mas a ginecologista disse que não era infecção mas sim o cheiro dos restos do sangue, para eu ficar descansada..
Felizmente foi como ela disse, na menstruação seguinte deve ter saído o tal fragmento pois, entretanto já fiz ecografia e estava tudo bem. Aliás na segunda menstruação ainda sangrei bastante (o útero deve estar a limpar).
Espero que este episódio da tua vida passe rápido e fiques bem!
Tenho sofrido muito com tudo isto, mas acredito que tudo acontece por alguma razão e temos de aceitar...erguer a cabeça e acreditar que algo de bom, muito bom, está para vir!!
Estou à disposição para te esclarecer no que precisares!
Mil beijos e muita força!

ano 2005 - perda gestacional de uma menina às 38 semanas...
ano 2008 - nascimento do meu príncipe!! Luz da minha vida!
ano 2014 - aborto retido 14 semanas
ano 2016 - aborto retido 8 semanas
ano 2017 - inicio de uma outra caminhada...adoção <3

T.C.31 -
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Desde 08 Fev 2013

Olá, Tânia, sou de Leiria, tb passei por um aborto mas felizmente a minha situação não foi como a tua, fui encaminhada para Coimbra pelo Dr. Mesquita, porque como ele trabalha na Bissaya, fiz lá a img e das pessoas de lá só tenho a dizer bem, foram todas 5 * comigo, tb tive dores mas explicaram-me que seria normal e que qd elas começassem para as avisar, mal que as tive chamei-as e deram-me medicação estava com muito medo da curetagem, e tive de a fazer mas tb não senti nada, foi feita com sedação consciente. Apesar de todo o sofrimento psicologico, o sofrimento fisico não foi muito porque sem duvida que na Bissaya foram todos excelentes, não tenho mesmo nada a apontar, sp muito atenciosos e simpaticos e sp com atenção às minhas dores tanto fisicas como psicologicas, são de uma humanidade simplesmente espectacular.... Lamento imenso o que te aconteceu, sp ouvi falar muito bem do Dr. Santiago, não sei se no teu caso teve de ser mesmo assim como ele te fez... Mas tb acho que o nosso sofrimento psicologico já é muito e acho que sermos poupadas ao sofrimento fisico é o minimo que deve ser feito...