Olá,
Dia 30 de Março diagnosticaram-me uma gravidez não evolutiva, com aborto retido. Tinha quase 11 semanas de gravidez e o embrião tamanho de 7, sem batimentos cardíacos. Detectei numa consulta de diagnóstico pré-natal, quase por acaso. (No fim da consulta, queixei-me de um corrimento acastanhado, muito pouco, que tinha há uns dias. Li tantas vezes na internet que corrimento acastanhado é normal que nunca pensei que pudesse ser sinal de alarme. Acho importante passarmos a palavra sobre isto, mas talvez volte a escrever apenas sobre esse assunto, para deixar o meu testemunho.)
Foi aconselhada a esperar, uma vez que a natureza já estava a dar sinais de resolver o problema. Ouvimos uma segunda opinião, porque precisámos de tempo para processar a informação e para nos organizarmos. A segunda opinião foi no mesmo sentido e decidimos seguir esse caminho.
A espera foi muito difícil. Optei por fazer caminhadas, como no fim das gravidezes. A expulsão aconteceu cinco dias depois acompanhada de muitas dores e uma ida às urgências, onde a médica me tirou alguma coisa que estava a bloquear o colo do útero - não sei se o saco se outra coisa. Perdi muito sangue, senti-me muito mal, pior do que nos partos, sem dúvida. Até porque aqui não há lugar a epidural. Nem sei como é que um corpo tão pequeno como um embrião de 7 semanas pode causar tanta dor.
(A dor física ajuda a passar a psicológica - temos um problema para a resolver e a dor é sinal de que o nosso corpo está a lidar com isso.)
Voltei à urgência uma semana depois da expulsão para ser reavaliada. Não tenho o saco gestacional, mas ainda tenho 'coisas' a perder. O médico receitou Methergine de 8 em 8 horas durante três dias. Sinto-me cansada com facilidade e sem forças para novas dores físicas. Já alguém tomou este medicamento depois de um aborto retido com expulsão?
Preocupam-me novas dores e confesso que me incomoda estar a incluir químicos num processo que estava a ser natural. O que acham? A segunda opinião que pedi confirmou que devia tomar o medicamento.
Pergunto-me como é que é possível para por tudo isto em segredo, indo trabalhar como se nada fosse.
Tenho recebido algum apoio de familiares e amigos, mas a sensação que tenho é que a maior parte das pessoas que sabe evita-me porque não quer falar sobre o assunto. Qualquer mensagem mais positiva da minha parte como 'estou a recuperar' é lida como uma alta. Descobrir agora que afinal ainda não saiu tudo e posso ter mais dores deixou-me novamente em baixo.
Sinto muito pelas vossas perdas, também - vejo nas vossas as minhas dores.
Desculpem tantas perguntas. Obrigada pela partilha.